quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Sílabas ósseas das palavras de vidro


Quando o amor emagrece
e morre
entre as sílabas ósseas das palavras de vidro,

Quando entro em casa
quando tenho casa
e morto
ele
confessa-me que a tristeza o emagrece
e o amor enlouquece
um boneco de palha com sorriso de veludo
cansaço,

Ele consulta o cardápio dos desejos
e não encontra abraços
nem beijos,

Desiste
e esconde-se no interior mais secreto de um cilindro de madeira
ele procura
não encontra
a carta bela do amor morto
sem saber
desconhecendo
que as nuvens são apenas gotinhas de água em desilusão
prestes a cair
sobre as flores mais distantes dos jardins da morte
ele suspira
e emagrece nas mãos das sílabas ósseas com palavras de vidro...

(desistes assim?)

O Comboio Fantasma

Um pouco tarde para quem acaba de perder a casa, a vida, os olhos livres que mergulhavam nos lábios sangrentos dos telhados de vidro, um pouco ou nada, ou tudo, porquê? Muito perfeito como os diamantes das cansadas videiras sobre as mesas de xisto com vista para o rio Douro, cansei-me deste rio tristemente aprisionado numa fotografia esquecida na parede da cozinha, lá fora, há um distante silêncio que atravessa as lâmpadas incandescentes dos braços da água, aos poucos, poucos, quando chegas a casa e eu tristemente, aos poucos, lá fora, esperando o desespero de uma sandes de queijo com azeitonas e vinho, um pouco, tarde, perde-se a vida crescida nas leituras litúrgicas dos candeeiros a petróleo, gargantas ocas que flutuam no susto meteorológico das dentaduras com sílabas de prata, e quando percebíamos, ouvíamos um pigmeu cambaleando nas pedras desordenadas da calçada, um
Hoje vi a mais linda flor dos meus últimos minutos de silêncio junto a um chafariz, por sua vez, este, junto, a uma árvore, por sua vez, todos e ela inclusive, no centro de um largo com cerca de três metros e cinquenta centímetros de Raio, talvez mais, ou pouco, um
Ou dois, o chafariz e a árvore, esperavam o autocarro, a flor, provavelmente esperava pela minha passagem, todos os dias, uma vezes vou como sou, outras disfarçando-me de vento, mas vou, e passo lá, e vejo-a, com sete pedras em placas finíssimas como o fios de geada pela madrugada, o telegrama esperava-me, e ela olhou-o como se ele fosse um pedaço de aço aos tropeções pela cidade dos anjos caídos, mortos de cansaço como as pessoas de bom senso, dizem que estou mais mal educado, pudera, um
Não percebi,
Onde estão os sonhos prometidos? Não sou rapazola para fazer promessas que não posso cumprir, e as cumpridas vontades do povo encurralado nas compridas camas espalhadas pela montanha do círculos com árvores e chafarizes no centro, em redor, uma
Flor linda com pétalas de cristal, estava só e provavelmente esperava o autocarro da carreira, ou, pela passagem do machimbombo da catorze horas, um rua curva, estreita, como os seios metafóricos das tuas palavras em ressonâncias magnéticas, oiço-os quando viro levemente à direita, e sinto, sei que da esquerda, um
Comboio fantasma alerta-me que no final da linha, quando chegar ao apeadeiro em ruínas, um
Círculo, uma árvore, um chafariz e uma flor, sem que eu perceba, o que é uma flor linda com pétalas de Cristal, o que faz ali, porque está ali, de onde é e para onde vai, se se pode saber, sem o descaramento de o Cristal das pétalas estilhaçarem-se, e os braços da prata geada solidificarem-se, sós, como todos os dias quando chego ao final da linha, poiso os carris sobre a mesa, e da marmita oferecida pelo Excelentíssimo Senhor D. Joaquim Francisco de Francisco e Fernando Domingos de Solidão com Insónia, os meus pais diziam-me
Cumprimenta o Senhor,
(e eu comprimentava, e eu fingia-me de morto para não ouvir as preguiçosas mangas de camisa do dito Cabrão que todos os dias fazia questão que eu, quando estivesse no alcance do seu mais secreto círculo, me humilhasse, me
Boa tarde Excelentíssimo Senhor D. Joaquim Francisco de Francisco e Fernando Domingos de Solidão com Insónia, e ele umas vezes parecia um pedaço de rocha, outras
Vai com Deus meu rapaz, vai com Deus),
E educadamente cumprimentava o dito Cabrão com olhos de açúcar e recheados com amendoins importados das ex-colónias nunca nossas, como aprendíamos na escola, como aprendi com outro rapazola que a terra de facto é de quem a trabalha, mas o fruto, esse, pertence a quem o colhe, sempre foi assim, é assim com os pássaros negros dos finais de tarde, foi assim com os pedaços de cartolina onde eu desenhava laranjas e limões, e cidades como petroleiros flutuantes antes de regressarem os loucos ruídos das noites embebidas em pequeníssimos círculos, curtos, curtos cada vez mais, até que a árvore e o chafariz e a linda flor com pétalas de Cristal, apenas um
Ponto,
Final
Sem paragrafo.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Um sofá com pele cuticular

Pilotavas corações nos jardins suspensos da Babilónia, às Segundas, Quartas e Sextas voavas sobre as searas de sorriso que submergiam nos mares distantes das nuvens de gelo que desajeitadamente acordavam dos pulmões de porcelana dos homens prateados com cintos de Cobre, às Terças e Quintas dançavas sobre as mesas do Karamelo Doirado Bar, e aos Sábados e Domingos, dormias como os pássaros nos ramos de papel das árvores de prata, não respiravas, não sorrias, apetecia-te ficar
Triste,
Não havia em ti uma simples corrente de ar que se erguesse dos teus olhos, não havia em ti um aparo à espera de uma caneta recheada com tinta e uma maço de papel mata-borrão, E triste, dizias-me tu quando eu acordava do meu sono longínquo que me levava a atravessar as loucas montanhas do sono,
Triste não haver em nós uma corda de luz enrolada numa janela de mar com periscópio para observação da cidade dos quatro tristes cadáveres de areia, insónia, insónia com poucas palavras entre paredes, pilares e vigas de aço, triste não haver em nós
Eu, tu e ele, Tristes
Um sofá com pele cuticular espera-nos para se alimentar dos nossos ossos, o teu corpo e o meu corpo, esqueléticos, são absorvidos pelas mandíbulas das molas dos assentos com almofadas de orvalho, o lago onde te sentavas a olhar-me enquanto eu pilotava os corações dos jardins suspensos da Babilónia desapareceu quando decidiu a noite esconder-se dentro de uma larva com olhos mórbidos, também eles
Tristes, como nós, Eu, Tu e Ele, e todas as árvores de prata,
Também eles, todos, os habitantes dos jardins suspensos da Babilónia na expectativa de uma nova revolução entre palavras e canções, pedaços de cartão alimentavam os cobertores daqueles que sem casa, iam vivendo nas ruas com edifícios de sofrimento, e quando lhes perguntávamos se eram felizes
Que sim, muito, como nós, Eu, Tu e Ele,
Como nós ao acordarmos e as lâmpadas dos candeeiros poisados sobre as mesas-de-cabeceira, todas, fundidas, sem seguro e inspecção periódica, às vezes, o corredor, é literalmente abraçado a uma coima simbólica por parte de um sombra com braços de cinza, o excesso de velocidade, fatal, contra a porta da casa de banho, de um pequeníssimo postigo de morte, três costelas e um pulmão queixam-se do fumo das plantas que fazem sorrir os homens que pilotam corações de chocolate que vivem nos jardins suspensos da Babilónia, felizes
(Um sofá com pele cuticular espera-nos para se alimentar dos nossos ossos, o teu corpo e o meu corpo, esqueléticos, são absorvidos pelas mandíbulas das molas dos assentos com almofadas de orvalho, o lago onde te sentavas a olhar-me enquanto eu pilotava os corações dos jardins suspensos da Babilónia desapareceu quando decidiu a noite esconder-se dentro de uma larva com olhos mórbidos, também eles), abrem-se as carapaças dos submarinos encalhados nos bancos de areia, à escotilha, um homem e uma mulher e uma criança (não tivemos tempo de determinar o respectivo sexo e a idade), provavelmente do sexo masculino com cerca de seis anos, cor da pele (não determinada), olhos (com a distância não nos foi possível verificar a cor dos olhos), e sem qualquer dúvida trazia ao nível dos ombros um par de asas azul marinho, como os sapatos de verniz que o tio Francisco lhe tinha oferecido, eles, os três orgasmos de sémen perdidos na ocidental praia das línguas de serrim, Tristes, todas, e todos
Esperavam,
Acordavam,
Inseminavam,
Um sofá com pele cuticular sobre os joelhos da cansada nuvem em descidas bruscas dos céus pintados de fresco nos bancos de madeira debaixo dos plátanos-poemas que escrevíamos antes do jantar, triste não haver em nós uma corda de luz enrolada numa janela de mar com periscópio para observação da cidade dos quatro tristes cadáveres de areia, insónia, insónia com poucas palavras entre paredes, pilares e vigas de aço, triste não haver em nós
Eu, tu e ele, Tristes
O cio mergulhado no rio Xisto, barcos de medo pendurados nas janelas viradas para a seara de gelo, nuvens poeirentas nas abraçadeiras das pernas dos pássaros e flores livres entre os corações avermelhados que o saudoso amor engolia nas profundas goelas de saliva que a paixão deixa ficar nas mãos dos pequenos livros de poesia, ontem
Eu, tu e ele, Tristes
Numa cidade de madeira, e
E
E às Segundas, Quartas e Sextas voavas sobre as searas de sorriso que submergiam nos mares distantes das nuvens de gelo que desajeitadamente acordavam dos pulmões de porcelana dos homens prateados com cintos de Cobre, às Terças e Quintas dançavas sobre as mesas do Karamelo Doirado Bar, e aos Sábados e Domingos, dormias como os pássaros nos ramos de papel das árvores de prata, não respiravas, não sorrias, apetecia-te ficar
Triste.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Não falando nas noites

Um livro esquecido sobre uma mesa de vidro, os olhos tristes da gaivota quando sobrevoa o oceano acreditando que as horas são pedaços de papel à deriva no mar desenhado na areia por uma menina com lágrimas de vidro em frente a um espelho de pano, dividia-me entre manhãs de desencanto e tardes de loucura, não falando nas noites
Ternura,
Pintávamos os nossos corpos invisíveis com acrílicos que o velho do jardim das Pilas Murchas nos ofereceu no dia de S. Valentim, tu primeiro, eu depois, pintamos o céu e as estrelas e quando nos abraçávamos perguntavam-nos
Vocês são a noite?
Dizíamos-lhes que sim, claro, porque ter medo, vergonha, dizíamos-lhes que éramos a noite disfarçada de janelas com vidro duplo, cortinados de açafrão, e na porta de entrada para a gaveta onde guardávamos os pincéis, as tintas, as telas, a mãe das telas, e os filhos das telas, desenhos, construídos, em construção, alguns desmaiados e à espera da chegada do 112, outros
Amarfanhados como ervas daninhas recheadas de restos de cigarro e pólen de haxixe que saboreavam os desassossegos lábios das abelhas revoltadas contra as árvores do recreio, as tuas lágrimas de luz morriam como morreram todas as coisas que amei, os livros, as crateras dos desejos secretos quando a noite me vinha buscar e eu sentia-me transportado para dentro do teu coração de aço, outros
Sem vida, já, estendidos pelo corredor, o cheiro putrefacto da tela misturada com a tinta, um cadáver de quadro sem tecto, morada, destino, ou vida, pindérico pequeno-almoço que me serviam na enfermaria e eu sabia das lágrimas circulares depois de lhes calcular a área e o respectivo perímetro,
Qual é o perímetro de uma lágrima?
Partindo do princípio que as lágrimas não são círculos, porque têm volume, e que o perímetro de uma lágrima calcula-se elevando a tristeza ao cubo multiplicando pela cor dos olhos
Qual é a cor dos olhos dela? Verdes, verdes, tem a certeza?
Então diria que o perímetro da lágrima dela é de três vírgula catorze verdes searas lineares...
(Pintávamos os nossos corpos invisíveis com acrílicos que o velho do jardim das Pilas Murchas nos ofereceu no dia de S. Valentim, tu primeiro, eu depois, pintamos o céu e as estrelas e quando nos abraçávamos perguntavam-nos), se éramos a noite disfarçada de noite, tu, respondeste-lhe
Não, nós somos a noite disfarçada de amor, com beijos, com asas, com vento e palavras parvas, com tardes cinzentas, horas embebidas em ponteiros de relógios suspensos nas teias de aranha das madeixas dos limoeiros da dona Aninhas, do galo que não se cala, todos os dias, rabugento, enferrujado, rouco como os cigarros de arame, tristes, tristes as tuas mãos com silêncios em penas amarelas, verdes, azuis, encarnadas
Pareces um palhaço com ventoinhas nas pernas e embrulhado num tecido quadricolor, depois tiveste o azar do teu hipercubo se apaixonar por um gato, o gato mordeu-o e o hipercubo fugiu, depois veio-te a carta do tio Hilário a comunicar-te que Venho por este meio informar Vossa Excelência que os livros da prateleira número três, rés-do-chão – Direito, por minha morte, pertenceram à Biblioteca Pública da Aldeia das casas de vidro
(Que se foda o velho, nunca gostou de mim..., que meta os livros pelo rabo acima)
Quero lá saber dos livros, do amor, do tio Hilário, do perímetro, do volume, ou da área de uma lágrima, Porquê? Sou mais feliz por saber essas coisas?
Não quero saber,
Não me interessa,
Quero lá saber da paixão do meu hipercubo por um ranhoso gato, mimado, filho único como eu e maluco, como diz o povo, ai o povo diz tanta coisa
Só não diz às vezes aquilo que devia dizer,
Como a gaveta mortuária onde dormem as telas mortas, como a gaveta dos sonhos onde dormem um par de chaves e uma lanterna, como
Quero lá saber dos livros, do amor, do tio Hilário, do perímetro, do volume, ou da área de uma lágrima, Porquê? Sou mais feliz por saber essas coisas?
Não quero saber,
Não me interessam,
Como será um hipercubo loucamente apaixonado por um gato? Consegues imaginar?
Claro que consigo
É como nós,
Um dia é verde, outro dia é encarnado, e às vezes alterna entre o azul e o amarelo, e nunca, e nunca elas se queixaram por eu não saber calcular a área, o perímetro ou o volume de uma simples lágrima, porque o segredo está
No coeficiente de tristeza.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

blogue Cachimbo de Água em destaque no Sapo Angola


(Trinta e seis cachimbos e uma secretária)

blogue Cachimbo de Água em destaque no Sapo Angola

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Luas noites


Me encantam as luas noites
que desenhávamos na areia húmida do segredo nocturno
me encantam os sonhos circulares com olhos de vidro
que tínhamos sobre a mesa-de-cabeceira
me encantam as tuas doces mãos tórridas
que ancoravas no meu pescoço
trémulo
frio
longe do sol
me encantam as labaredas dos teus lábios
incinerais como as algas que procuravas no mar da ausência
me encantam as sílabas encarnadas dos teus seios minúsculos,

Me encantam as lagoas azuis do teu púbis metamorfoseado pelas tempestades de xisto
como as cinco palavras secretas do abismo
me encantam as flores que se suspendem nos ambíguos olhos da solidão
amorfos
embebidos nos transeuntes de pano que habitam a cidade
me encantam as sebentas que a floresta esconde nas algibeiras da madrugada
sem saber que o frio engorda as asas dos pessegueiros
e o calor emagrece os ramos dos pássaros
me encantam as laranjas que transformas em sumo
néctar de oiro com pulseiras de plátano adormecido
me encantam as tuas tristes lágrimas de sabão
quando descem dos telhados de vidro as salmonelas embalsamadas.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Trinta e seis cachimbos e uma secretária

Quando cai sobre mim o meteoro do teu desejo, e aos poucos, em pedaços de luz, vai desfragmentando-se em grãos de beijos com sabor a silêncio, com a janelas do jardim das imagens encerradas, limito-me a desenhar no tecto das tuas mãos os orgasmos de ruído que a própria desintegração provoca nas paredes frágeis deixadas pelos antepassados pais em gesso e ripas e no interior palha seca,
Sei que me odeias, pensas tu quando abres as minhas cartas encalhadas nos rochedos que o mar da saudade esconde, um submarino de dor entranha-se nas tuas finas pernas, e o torpedo do amor rebenta contra os cabelos desassossegados que sobre ti deambulam como as borboletas palavras dos tristes livros sem poemas,
Sinto-me, dizes tu, aparvalhadamente só,
Como eu,
Ontem,
Amanhã, quando uma resma de papel acordar sobre o meu peito, (pediste do reciclado por causa do ambiente), mas esqueceste-te dos meus olhos desde ontem, prisioneiros numa almofada de cartão recheada com pedaços de amêndoa, tiraste-me os candeeiros da mesa-de-cabeceira, e pintaste no espelho do guarda-fato em espantalho de aço
Pergunto-te
Achas isso normal?
Sinto-me, dizes tu, aparvalhadamente só,
Como eu,
Ontem,
Quando cai sobre mim o meteoro do teu desejo, e aos poucos, em pedaços de luz, vai desfragmentando-se em grãos de beijos com sabor a silêncio, coisas suicidam-se nas manhãs de segunda-feira, e amanhã uma coisa qualquer vai morrer, desintegrar-se como fizeste com os meus olhos,
O que fiz eu aos teus olhos aparvalhadamente?
Deixaste-os, sós, sobre uma almofada de cartão recheada com amêndoas...
E depois?
Tive medo dos muros de betão que estão a construir à volta das nossas recordações, cada dia que passa, mais longínquas, distantes, em cinza dizias tu quando o meu cachimbo se apagava, e a noite entrava em nós como abelhas com sonhos nas asas e amanheceres nos lábios,
E depois, depois o muro ergueu-se até ao céu, colocaram-lhe sobre ele um tecto de lona, a a nova vida tornou-se num circo ambulante com clarabóias de chocolate,
Sinto-me, dizes tu, aparvalhadamente só,
Como eu,
À procura das linhas interrompidas que o pavimento da vida vai deixando submersas como as acácias de luz nos vidros opacos das janelas do destino, acordei cedo, deixei de fumar os três cigarros que fumava todos os dias ao acordar, pensava que não ia conseguir sobreviver, acordar, andar, amar, ser o mar, a lua, o cristal da paixão nas mãos de ti quando me abraçavas em pensamento, e consegui, e estou vivo, mas há qualquer coisa sombria nas tuas queridas mãos de seda, mas há
Que faço aos meus trinta e seis cachimbos?
Há um texto por escrever, há duas personagens que precisam de viver, darmos-lhes vida, tarefas, imagens a preto e branco, quem sabe, um filho, um miúdo de calções ou uma menina de saia correndo em volta de um círculo de capim, ou
Que faço?
As árvores abandonadas pelas chamas desérticas que trazias do teu mar e deixavas-as espalhadas pela casa da aldeia, atiravas pedras aos pássaros, por engano, partiste a cabeça a um rapazola da escola, ou da tua rua, ou alguém invisível que às vezes te acompanhavam nas tuas loucas brincadeiras, Que faço?
São de madeira, ardem!,
E eu sabia que nas tuas pálpebras brancas viviam socalcos desde o cimo da montanha até à linha férrea que circunda o mais belo rio, não sei
(Se primeiro este ou o Tejo)
Talvez sejam os dois os mais belos, únicos, artistas de circo que Portugal tem, hoje, hoje tenho saudades do Tejo porque poucas vezes o olho, e quando o olho, vêm-me as distantes lágrimas das manhãs de areia, e o Douro olho-o todos os dias bem lá longe, como os seios de manteiga da menina Aurora que era telefonista na companhia de seguros, eu, um simples corredor com portas, e um tecto falso, e ela, uma secretária, em pura madeira virgem, louco, louca
(Pura lã virgem),
E
Há um texto por escrever, há duas personagens que precisam de viver, darmos-lhes vida, tarefas, imagens a preto e branco, quem sabe, um filho, um miúdo de calções ou uma menina de saia correndo em volta de um círculo de capim, ou
Que faço?

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

P.S.
“As árvores abandonadas pelas chamas desérticas que trazias do teu mar e deixavas-as espalhadas pela casa da aldeia, atiravas pedras aos pássaros, por engano, partiste a cabeça a um rapazola da escola, ou da tua rua, ou alguém invisível que às vezes te acompanhavam nas tuas loucas brincadeiras, Que faço?”