Pilotavas corações nos jardins suspensos da
Babilónia, às Segundas, Quartas e Sextas voavas sobre as searas de
sorriso que submergiam nos mares distantes das nuvens de gelo que
desajeitadamente acordavam dos pulmões de porcelana dos homens
prateados com cintos de Cobre, às Terças e Quintas dançavas sobre
as mesas do Karamelo Doirado Bar, e aos Sábados e Domingos, dormias
como os pássaros nos ramos de papel das árvores de prata, não
respiravas, não sorrias, apetecia-te ficar
Triste,
Não havia em ti uma simples corrente de ar que se
erguesse dos teus olhos, não havia em ti um aparo à espera de uma
caneta recheada com tinta e uma maço de papel mata-borrão, E
triste, dizias-me tu quando eu acordava do meu sono longínquo que me
levava a atravessar as loucas montanhas do sono,
Triste não haver em nós uma corda de luz enrolada
numa janela de mar com periscópio para observação da cidade dos
quatro tristes cadáveres de areia, insónia, insónia com poucas
palavras entre paredes, pilares e vigas de aço, triste não haver em
nós
Eu, tu e ele, Tristes
Um sofá com pele cuticular espera-nos para se
alimentar dos nossos ossos, o teu corpo e o meu corpo, esqueléticos,
são absorvidos pelas mandíbulas das molas dos assentos com
almofadas de orvalho, o lago onde te sentavas a olhar-me enquanto eu
pilotava os corações dos jardins suspensos da Babilónia
desapareceu quando decidiu a noite esconder-se dentro de uma larva
com olhos mórbidos, também eles
Tristes, como nós, Eu, Tu e Ele, e todas as árvores
de prata,
Também eles, todos, os habitantes dos jardins
suspensos da Babilónia na expectativa de uma nova revolução entre
palavras e canções, pedaços de cartão alimentavam os cobertores
daqueles que sem casa, iam vivendo nas ruas com edifícios de
sofrimento, e quando lhes perguntávamos se eram felizes
Que sim, muito, como nós, Eu, Tu e Ele,
Como nós ao acordarmos e as lâmpadas dos
candeeiros poisados sobre as mesas-de-cabeceira, todas, fundidas, sem
seguro e inspecção periódica, às vezes, o corredor, é
literalmente abraçado a uma coima simbólica por parte de um sombra
com braços de cinza, o excesso de velocidade, fatal, contra a porta
da casa de banho, de um pequeníssimo postigo de morte, três
costelas e um pulmão queixam-se do fumo das plantas que fazem sorrir
os homens que pilotam corações de chocolate que vivem nos jardins
suspensos da Babilónia, felizes
(Um sofá com pele cuticular espera-nos para se
alimentar dos nossos ossos, o teu corpo e o meu corpo, esqueléticos,
são absorvidos pelas mandíbulas das molas dos assentos com
almofadas de orvalho, o lago onde te sentavas a olhar-me enquanto eu
pilotava os corações dos jardins suspensos da Babilónia
desapareceu quando decidiu a noite esconder-se dentro de uma larva
com olhos mórbidos, também eles), abrem-se as carapaças dos
submarinos encalhados nos bancos de areia, à escotilha, um homem e
uma mulher e uma criança (não tivemos tempo de determinar o
respectivo sexo e a idade), provavelmente do sexo masculino com cerca
de seis anos, cor da pele (não determinada), olhos (com a distância
não nos foi possível verificar a cor dos olhos), e sem qualquer
dúvida trazia ao nível dos ombros um par de asas azul marinho, como
os sapatos de verniz que o tio Francisco lhe tinha oferecido, eles,
os três orgasmos de sémen perdidos na ocidental praia das línguas
de serrim, Tristes, todas, e todos
Esperavam,
Acordavam,
Inseminavam,
Um sofá com pele cuticular sobre os joelhos da
cansada nuvem em descidas bruscas dos céus pintados de fresco nos
bancos de madeira debaixo dos plátanos-poemas que escrevíamos antes
do jantar, triste não haver em nós uma corda de luz enrolada numa
janela de mar com periscópio para observação da cidade dos quatro
tristes cadáveres de areia, insónia, insónia com poucas palavras
entre paredes, pilares e vigas de aço, triste não haver em nós
Eu, tu e ele, Tristes
O cio mergulhado no rio Xisto, barcos de medo
pendurados nas janelas viradas para a seara de gelo, nuvens
poeirentas nas abraçadeiras das pernas dos pássaros e flores livres
entre os corações avermelhados que o saudoso amor engolia nas
profundas goelas de saliva que a paixão deixa ficar nas mãos dos
pequenos livros de poesia, ontem
Eu, tu e ele, Tristes
Numa cidade de madeira, e
E
E às Segundas, Quartas e Sextas voavas sobre as
searas de sorriso que submergiam nos mares distantes das nuvens de
gelo que desajeitadamente acordavam dos pulmões de porcelana dos
homens prateados com cintos de Cobre, às Terças e Quintas dançavas
sobre as mesas do Karamelo Doirado Bar, e aos Sábados e Domingos,
dormias como os pássaros nos ramos de papel das árvores de prata,
não respiravas, não sorrias, apetecia-te ficar
Triste.
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha