(desenho de
Francisco Luís Fontinha)
habito dentro deste
livro inacabado
existo porque gritam
as palavras
e os sonhos
amargurados
não tenho tempo
para olhar o mar
nem percebo o cheiro
deste rio envenenado pelo silêncio
um cigarro
mal-educado
apagado
sessenta anos
encurralado nestes socalcos sem nome
habito
dentro
do livro
inacabado...
os tristes sorrisos
das lanternas da solidão
vendo-me
vende-se
tudo
nada
coisas estranhas
esta calçada
viva
vivo
apagado
não tenho
o tempo
nem a vida
de marinheiro
sou um barco
enferrujado
sou o aço triturado
pelas mãos de um sábado...
apenas
outras coisas
como as simples
janelas de uma prisão
prisão
a prisão
do meu falar...
habito
habitar no teu peito
de livro encalhado.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Março
de 2015