foto de: A&M ART and Photos
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Percebíamos que a nossa vida era um
imaginário baloiço
sobre o mar de esplanadas com lábios
de silêncio mergulhados em nadas...
percebíamos que da janela víamos os
cadáveres esqueléticos das murchas flores de sémen
e havia no pátio restas lágrimas de
luz com sabor a saliva ensanguentada
percebíamos que o amor éramos nós
disfarçados de velhos esqueletos
com cristais silábicos pigmentados nas
loucas chaminés ao longe olhando-nos
sentados sobre a cidade dos sonhos...
percebíamos que o desejo
aparecia nas clarabóias dos sótãos
onde se escondiam os amantes do Planeta vermelho,
Percebíamos que éramos nós quando o
guarda-fato ressonava nocturnamente
como abelhas dentro de uma colmeia
vagueando sobre os sorrisos da perdiz desnorteada
perdida na montanha descia-se até ao
rio
e um afogado homem vestido de medo
deitava a cabeça no teu colo de xisto
ouvíamos um leve suspiro
um finíssimo gemido com sabor a
Primavera
percebíamos que éramos nós
porque quando nos tocávamos
porque quando nos beijávamos
o odor das estrelas estrábicas caíam
sobre as searas verdejantes dos olhos de prata
carícias minguadas sobre os teus
cabelos de maré criança
menina dos Domingos que o calendário
absorve como insónias de papel,
E agora, meu amor por descobrir?
que farei quando abrir a porta da noite
entrar em ti sabendo que não entendes
a minha presença e a minha sombra
correm em cigarros invisíveis os
sofrimentos das árvores dos pássaros negros...
percebíamos que hoje éramos duas
vozes que o rio há muito engoliu
e sobrevivemos a olhar os baloiços dos
versos saltitando no quintal dos livros apaixonados
como nós
percebíamos... meu amor por
descobrir... que o Planeta Vermelho éramos nós.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha