sábado, 13 de julho de 2013

Poéticos e melódicos

foto de: A&M ART and Photos

Escrevi-te imensas vezes enquanto percebi a tua ausência, elas, as palavras que dormiam no papel perfumado, amontoavam-se sobre a mesa da sala de jantar, e quando chovia, da rua chegavam até nós pequenas migalhas de lágrimas, havia poéticos sons suspensos nas paredes encarnadas do velho apartamento da rua das flores, inventavas-me quando eu nunca existi para ti, ou em ti, ou dentro de ti,
Era um homem só, tu dormias incessantemente como se fosses o sono, e apenas em frente ao espelho do guarda-fato, confessavas que me amavas,
Amo-te meu querido,
Nunca acreditei nas nuvens, nem nas flores que davam o nome à rua onde habitávamos, nem nas palavras que ia deixando num pequeno post-it, tinhas nas olheiras os livros deixados na casa de Favarrel, dançavas quando te sentavas sobre o meu colo rochoso, imaginava-te como gaivota ensaiando voos na claridade do espelho da vaidade, vestias-te como um príncipe eterno de mãos canelares e braços adormecidos pelo vento desgovernado que regressava de ontem,
Amo-o,
Não sei o que foi o amor, perdi-te enquanto dormíamos num quarto de pensão inventado nas catacumbas do silêncio, ouviam-se os sons melódicos da menina de sorriso
(o mais lindo sorriso)
Chique e bela, como, amo-o, chique e bela como as ondas quadriculadas do mar que brincava no caderno de matemática, o sorriso engraçava-lhe as curvas crepusculares do corpo esculpido no desejo, sobre o pedestal do velho mar, uma língua de areia com sonhos de solidão desciam-lhe do cabelo camuflado por alguns poemas..., (o mais lindo sorriso), as imagens reflectiam-se-lhe nos seios de pétala branca, sobressaiam-lhe as sombras do soutien de papel que retirava e deixava simplesmente cair sobre as pequenas gotículas de suor, havíamos combinado resistir à tentação de sermos absorvidos pelo oceano..., levado, comido, nas ondas sem currículo, e mesmo assim, resistimos ao fantasma com olhos de cristal,
Amo-te meu querido,
Chique e bela, o sorriso... o mais brilhante do eterno desejo, amo-o, e da rua das flores, hoje, ela, o perfume, as gotículas de suor entre as ranhuras das pequenas pedras da calçada, ela é bela, ela é... e ele entre o primeiro
Amo-o,
E
E ela depois do segundo sorriso..., chique e bela, de sorriso semeado em lençóis de linho, havia uma estrela, bordada pelas mãos dele, enquanto, ela, ele, semeavam suspiros à janela da noite...
Amo-o, amo-a, desejando-os como telas clandestinas no cavalete de um pintor, louco, estrábico..., ele e ele, ela,
Amo-os,
Chique e bela, como todas as madrugadas dos teus olhos, poéticos e melódicos...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

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