foto de: A&M ART and Photos
|
Um pouco de silêncio não faz mal a ninguém,
segredavas-me quando nos sentávamos sobre a pedra de xisto junto ao
rio, e ficávamos, apenas sós, e olhávamos um para o outro,
inventávamos desenhos, porque são mais belos que as palavras, e
assim, apenas nós, permanecíamos um em frente ao outro, de olhos
verdes para olhos castanhos, sem palavras, sem cortinados de fumo,
sem geometria descritiva, que às vezes, poucas, utilizávamos para
transformarmos a solidão em pedacinhos de insónia, e lá vinha o
eterno abraço... caía a noite sobre o teu doirado corpo,
percebia-se pelos teus seios os socalcos íngremes descendo a
montanha... até que os carris em aço entranhavam-se-te nas mãos
tristes, tuas, ao longe, ouvíamos um sonolento comboio com rota para
o Porto..., e adormecíamos como duas crianças no colo da inocência,
não percebi que chorasses, e sabia que a tua tristeza era real,
estava viva dentro de ti, eras como uma seara de trigo suspensa no
vento vindo do mar, um pouco de silêncio, não, a ninguém como
éramos espelhos côncavos dos jardins de Belém, ouvíamos o assobio
do rio em todos os finais de tarde, hoje, o mesmo silêncio, o mesmo
decalque do último final de tarde, o cheiro do teu corpo que sobejou
e permanece intacto nos arbustos perto do rio, e recordamos os sítios
com sabor a ardósia da tarde, a nossa tarde
Choviam-nos sílabas recheadas com marinheiros
embriagados, dizias que amavas todos os peixes, percebi por não ser
eu um peixe... que não me amavas,
Tu és diferente,
Porquê, perguntava-te,
Respondias-me que adormecíamos como duas crianças
no colo da inocência, não percebi que chorasses, e sabia que a tua
tristeza era real, estava viva dentro de ti, eras como uma seara de
trigo suspensa no vento vindo do mar, um pouco de silêncio, não, e
corações enublados avançavam pelas trincheiras do desejo, gemias
quando lias os poemas de AL Berto, como se estivesses a ser penetrada
por um vulcão de pétalas pintadas de encarnado,
Eu que era diferente,
Porquê?
AL Berto, sorria-nos enquanto inventávamos posições
sobre o colchão manchado de tinta permanente de uma velha caneta de
sexo,
Havia em nós,
O quê?
Havia em nós sítios de areias brancas, palmeiras,
ao longe, machimbombos rosnavam quando o avô Domingos com um cordel
os puxava pelas ruas, depois chegava a casa, cansado, abraçava-me e
tombava sobre a cama, como um sonâmbulo depois de passear-se pelos
rochosos sexos de sal que era cuspido pelo mar do Mussulo até que
uma criança, ele, em pequenas rotações, cambaleava e experimentava
o estado de embriaguez de algumas plantas, flores, pedras...
Que às vezes, poucas, utilizávamos para
transformarmos a solidão em pedacinhos de insónia, e lá vinha o
eterno abraço... caía a noite sobre o teu doirado corpo,
percebia-se pelos teus seios os socalcos íngremes descendo a
montanha... até que os carris em aço entranhavam-se-te nas mãos
tristes, tuas, ao longe, ouvíamos um sonolento comboio com rota para
o Porto..., e adormecíamos nos braços da tarde, éramos loucos,
diziam-nos..., loucos porque amávamos os corpos nus que dormiam
dentro dce nós,
Porquê?
O quê? Gemias quando lias os poemas de AL Berto,
como se estivesses a ser penetrada por um vulcão de pétalas
pintadas de encarnado,
Eu que era diferente,
Porquê?
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Sem comentários:
Enviar um comentário