Nos teus olhos,
Meu amor,
Acorda o silêncio de um
novo dia,
Desenha-se nos teus
lábios a madrugada em flor,
Nos teus olhos,
Meu amor,
Ergue-se um jardim
vestido de poesia…
Alijó, 27/08/2023
Nos teus olhos,
Meu amor,
Acorda o silêncio de um
novo dia,
Desenha-se nos teus
lábios a madrugada em flor,
Nos teus olhos,
Meu amor,
Ergue-se um jardim
vestido de poesia…
Alijó, 27/08/2023
É no teu cabelo em brilhante vento
Onde poisam os pássaros
dos meus sonhos
E habitam as minhas
palavras
E és tu mulher em branco
vestido
A janela do meu olhar
Quando o mar me abraça e
beija,
E eu travestido de barco
luar
Danço nas sanzalas
E eu em pequenas
despedidas
Escondo-me na tua mão.
Francisco
17/11/2022
(inédito)
Cai a neve, meu amor,
Nos teus olhos de Primavera adormecida,
Cai a neve,
Nesta manhã perfumada,
Desta manhã prometida,
Cai a neve, meu amor,
No silêncio dos teus lábios,
Nas palavras que a tua mão me escreve…
Cai a neve, meu amor,
Da mais pura brancura,
Nos teus olhos de ternura,
Dos teus olhos em flor,
Cai a neve, meu amor,
Em teu cabelo de vento,
Neve, neve meu amor,
Da neve que habita o meu pensamento.
Trazem-me a despedida
E as últimas lágrimas da
madrugada,
Trazem-me o vento em
partida
Quando a saudade se
esconde na calçada,
E a noite é um pedaço de nada,
Trazem-me o vento
E pedem-me para não
pensar,
Como posso eu abdicar do meu
pensamento
E do sorriso do mar,
Quando o amar… é apenas
uma nuvem sem sentimento,
Trazem-me a paz e as
flores do amanhecer,
Trazem-me a poesia
E as palavras de escrever…
Que deixarei de o fazer,
Quando acordar o novo
dia.
21/08/2023
Francisco
Podia amar-te enquanto o vento
Leva o que restou da
minha vida
Podia odiar-te enquanto o
vento me traz novamente à vida
Podia ser eu
Podia não ser eu
Podia amar-te enquanto a
Primavera se saboreia com as cerejas dos teus lábios
Podia ser
Podia ser ontem
Ontem podia ser hoje
Hoje podia ser amar-te
Enquanto as cerejas dos
teus lábios
São sanzalas de prata
No olhar pincelado de
encarnado
Dos musseques da minha
infância
Podia amar-te nas fases lunares
E não lunares
Das estrelas comestíveis e
não comestíveis
Podia amar-te enquanto o
vento me traz o que me levou
E me leva tudo aquilo que
não quis ter
Podia amar-te dentro
deste livro
Neste poema
Nesta cama
Podia amar-te e odiar-te
enquanto a chuva se despede de mim
E eu
Dela
Depois….
Depois posso amar-te
enquanto o vento me traz aquilo que me roubou
Daquilo
Muito pouco
Que me sobejou
Alijó, 20/08/2023
Francisco
Amo-te
Cabeça dura
Planície alentejana
Figura
Estátua granítica
Como o teu coração
Em tristes grãos de pedra
Montanha em despedida,
Amo-te
Cabeça dura
Noite perdida,
Amo-te
Invisível silêncio
Quando se ergue a manhã
em teus olhos de mar…
E uma amêndoa poisa
docemente nos teus lábios,
E dos teus lábios… acorda
o luar,
Amo-te
Cabeça dura
Planície alentejana
Montanha
Noite perdida
Na noite dos embriões de
papel
Em teus lábios de mel
Do mel da boca fugida…
Alijó, 19/08/2023
Francisco Luís Fontinha
(desenho de Francisco
Luís Fontinha)
Nos teus olhos de mar
Nascem as púrpuras manhãs
de incenso,
Dos olhos de mar
Acordam as madrugadas
E adormecem
Nos teus olhos de mar
As manhãs cansadas,
Aos teus olhos de mar
Regressam as gaivotas em
papel
E as primeiras palavras
do amanhecer,
Nos teus olhos de mar
Esconde-se a paixão,
O beijo…
E o desejo de beijar os
teus lábios de mel.
17/08/2023
Francisco Luís Fontinha
Perco-me neste labirinto
Procurando a sombra da
tua mão
Na tua mão que sinto
Que sinto a tua mão
Perco-me dentro deste
livro de poesia
Procuro neste livro os
teus olhos de mar
Procuro neste livro o
sorriso do dia
E as lágrimas do luar
Procuro neste labirinto
de insónia adormecer
As primeiras palavras da
madrugada
E sem querer
E sem o desejar
Procuro neste labirinto o
teu rosto de cansada…
Quando este labirinto é
os teus olhos de mar.
Alijó, 15/08/2023
Francisco Luís Fontinha
Podia desistir de tudo
Podia desistir de
desenhar os teus olhos de mar
E os teus lábios de mel
Podia morrer
Podia não ser
Podia pensar não pensando
em nada
E podia fugir
Como um pedaço de sucata
Em direcção ao mar
Podia desistir de tudo
Podia desistir de
escrever na tua mão
Podia deixar de voar
Podia vestir-me de
gaivota
Sentar-me sobre a ponte
E depois… pular…
Pular em direcção ao
abismo
Podia ser pai
Podia ser árvore
E morrer na tempestade
E arder na fogueira
Podia ser
Podia não ser
Podia voar no teu cabelo
Podia desistir de voar no
teu cabelo
Tanta coisa que eu podia…
(não desistindo)
Podia desistir de tudo
(não desisto)
Podia desistir de
desenhar os teus olhos de mar
E os teus lábios de mel
(não desisto)
Podia morrer
Podia não ser
Podia pensar não pensando
em nada
E podia fugir
Como um pedaço de sucata
Em direcção ao mar
(não desisto e não vou
fugir).
14/08/2023
Dá-me a tua mão
Meu amor
Dá-me a tua mão e vamos
desenhar
O sol na areia fina do
mar,
Dá-me a tua mão
Meu amor
Dá-me a tua mão e vamos
escrever
O silêncio da lua nas
mãos do mar,
Dá-me a tua mão
Meu amor
Dá-me a tua mão e vamos
brincar
Com as flores do meu
jardim… nos lábios do mar.
14/08/2023
Francisco
Esqueço os teus olhos de
mar
Em mar teus lábios de mel
Esqueço os teus olhos em
luar
Do luar que assombra este
papel
Esqueço a tua boca e o
teu cabelo de vento
Esqueço o domingo
inventando
Espadas no meu pensamento
Do lamento esquecer os
teus olhos que fui sonhando
Esqueço que este poema
não te pertence
Que este poema morreu
junto ao rio
Esqueço a força que me
vence
Quando a noite se esconde
na madrugada
Esqueço que este navio
É uma lágrima assombrada.
13/08/2023
Francisco
(desenho de Francisco
Luís Fontinha)
Escondo-me da cidade
Desta cidade invisível
Que me assassina ao acordar
Escondo-me da cidade
Nesta cidade
Quando aparece a manhã no
espelho da insónia.
Levanto-me
E escondo-me nesta cidade
Nesta cidade de enganos
Nos enganos de cidade.
Escondo-me da cidade
Dentro da máscara da
cidade
Escondo-me do rio
Desta cidade
Neste gueto
De cidade
Escondo-me da cidade
Na cidade
Enquanto esta cidade…
Arde no meu peito.
13/08/2023
Francisco
(desenho de Francisco Luís
Fontinha)
Aos olhos da lua,
Sou.
Sou qualquer coisa comestível
Que apenas a noite,
E só a noite,
Consegue mastigar.
Sou
Aos olhos da lua
Uma pequena lágrima de
sono,
E abatato-me neste
silêncio
E suicido-me nos teus
lábios.
Aos olhos da lua
Sou.
Sou lágrima em flor,
Sou poeta,
Sou pastor.
Aos olhos da lua
Sou um miserável,
Poeta miserável,
Poeta…
O morto poeta
Quando as mãos da poesia,
Lentamente,
Masturbam a noite.
Aos olhos da lua,
Sou.
Sou.
Sou o quê, aos olhos da
lua?
Se a lua não tem olhos
E eu,
E eu não sou nada.
Aos olhos da lua,
Sou.
Sou canção que se abraça
ao rio,
Sou o poema que brota do mar,
Sou a fome,
O fastio,
Aos olhos da lua,
Sou.
Sou trombone na
filarmónica,
Sou equação nas mãos
dele,
Aos olhos da lua,
Sou.
Aos olhos da lua sou
gaveta de armário,
Papel higiénico…
Aos olhos da lua,
Sou…
13/08/2023
Francisco
(desenho de Francisco
Luís Fontinha)
Madrugada sem destino
Madrugada das almas
aprisionadas
Madrugada do pobre menino
Menino das cidades
amordaçadas
Mestre canónico do
silêncio ardor
Que nesta mão se revolta
Que assassina uma flor
E tudo aquilo que está à
sua volta
Madrugada sem destino
Em teu doce olhar
Madrugada deste pobre
menino
Do menino sem lar
Madruga em teu olhar
O mar.
12/08/2023
Francisco
Sobre o meu peito
Dança a espada que me vai
matar
Lâmina da paixão em
desassossego
Como os chocolates que
sobejaram da noite passada,
E sobre o meu peito
Esta triste espada
Pesada,
Sobre o meu peito
As cancelas da alvorada
se abrem
Sem que do outro lado do
rio
Os transeuntes percebam se
estou morto
Ou vivo,
Sobre o meu peito
A aceleração deste
foguete que habita em mim
E em direcção à lua
Parte à descoberta da
madrugada,
Ergue-se a manhã no meu
peito
Da manhã desta espada
Desta espada silenciada
Pelos olhos do mar
Que voam de árvore em
árvore,
Sobre o meu peito
A jangada em despedida
Deixa a terra e caminha…
Deixa a terra
E também ela
Como eu
Morre às mãos desta
espada,
Sobre o meu peito
Dança a espada que me vai
matar
Lâmina da paixão em
desassossego
Como os chocolates que
sobejaram da noite passada,
Chocolates da manhã
submersa no teu cabelo
Que olha esta espada
E nada faz
E nada faz
Para que esta espada
Que dança sobre o meu
peito…
Me mate
E grite;
Está morto.
12/08/2023
Francisco
(desenho de Francisco
Luís Fontinha)
Do teu poema
Flor que se esquece de
acordar
Flor do teu poema
No teu poema de amar
Do teu poema de sonhar
Esta flor que cresce
E se ergue no teu olhar
Como uma fogueira branda
e que aquece
As sílabas da madrugada
Do teu poema
Ouve-se a canção da
ribeira brava
O teu poema que lanças
contra mim
Quando no teu poema
Aos poucos acorda um
jardim.
12/08/2023
(desenho de Francisco
Luís Fontinha)
Ao cair da noite
Pego na tua mão
Beijo-a como Deus me
beijou.
Ao cair da noite
Pego no teu cabelo
E acaricio como Deus me
acariciou
Junto ao rio
Quando eu procurava aquele
navio
Que me transportaria para
o desconhecido.
Ao cair da noite
Afugento o mar dos teus
olhos
E dou às abelhas que
brincam nos teus lábios
O doce mel da madrugada.
Ao cair noite
Beijo-te como Deus me
beijou,
Como Deus escreveu no meu
corpo
Os silêncios da noite,
Como Deus desenhou no meu
corpo
O cair da noite.
Ao cair da noite
Pego na tua mão
E beijo-a como Deus me
beijou
Enquanto cai a noite
No teu cabelo de
Cinderela adormecida.
Ao cair da noite
Quando desisto da despedida
Vou em busca da noite
E vou à procura da tua
mão
E de uma nova partida.
12/08/2023
(desenho de Francisco
Luís Fontinha)