sábado, 16 de abril de 2022
quarta-feira, 13 de abril de 2022
O silêncio das pedras
Permita-me,
Desenhar as palavras do
silêncio
Que habitam nos seus
olhos,
Abraçar a sombra da manhã
Que voa nos seus olhos,
Escrever na sua boca,
O luar que ilumina os
seus olhos,
Quando as pedras em
silêncio,
E se me permitir,
Desenhar nos seus olhos,
As lágrimas dos meus
olhos.
Permita-me,
Amarrotar esta pobre
folha
Onde escrevo o feitiço
dos seus olhos,
Semear nos seus olhos
A triste noite antes de
adormecer,
E perceber
Que os seus olhos são um
rio em delírio…
São uma planície ensonada,
Que os seus olhos, teimam
em não enxergar.
Permita-me,
Abraçar os seus olhos
Que brincam neste poema
e,
E acordam as pedras em
silêncio.
Alijó, 13/04/2022
Francisco Luís Fontinha
terça-feira, 12 de abril de 2022
Manhãs de vidro
Trazias nos lábios
Os doces lírios da
Primavera,
(às palavras o seu
descanso)
Ouvíamos o uivo silêncio
Que transportavam a forca
da saudade e,
Todo o Universo dormia na
tua boca.
Escrevíamos nas
tempestades nocturnas do luar.
Quando nas profundezas do
rio,
Acordavam os pássaros sem
nome,
Eles, dançavam nas
espingardas
Que disparavam sobre as
sombras
Cansadas na neblina.
Ouviam-se as lágrimas
sentidas
Que a morte transporta nas
mãos do poema…
Das flores que gritavam,
Regressavam as manhãs de
vidro.
Assim, após a morte do
poema,
Uma lápide de tristeza sombreava
o teu nome,
E o triste poeta,
Sem perceber que nas
madrugadas de prata brincam crianças,
Sorriem jardins e,
Vivem as gaivotas,
Regressava à gruta da
solidão.
Hoje somos apenas pedaços
de nada,
Dois círculos de luz
Envenenados pelo silêncio…
Hoje, somos apenas cansaço.
Alijó, 12/04/202
Francisco Luís Fontinha
segunda-feira, 11 de abril de 2022
Oceanos de luz
E se despede de ti como
se fosses uma lágrima de luz,
Desce a tempestade sobre
a solidão dos dias, em poucas horas, depois do entardecer, a ribeira desparece
da imensidão dos socalcos laminados do desejo; todos somos pedaços de nada, quando
o nada se enforca no triste silêncio da alvorada.
Amar-te, como se fosses o
oiro da manhã.
À hora da despedida, como
sempre, a alvorada embainhada no perfume envenenado das sanzalas de prata, a
voz das árvores corria montanha abaixo e, pequeníssimos orvalhos adormeciam na
tua mão.
Tínhamos no sorriso dois
Oceanos de luz e, depois da espera, víamos o cansaço dos triângulos assassinos
que se despediam do luar, depois, alguém nos trazia as últimas nuvens de Março,
ao fundo o rio fundia-se com as palavras não escritas.
Ouviam-se os gritos
melancólicos das esplanadas de prata, o beijo alicerçava-se na tua mão depois
de percorrer todas as ruas da cidade, o uivo cansaço impregnado num simples
telegrama; morreu de quê, questionava ela.
Luzes clandestinas,
telhas de vidro, abstractos farrapos nos teus braços, como sempre,
nas aguarentas planícies do
prazer. E sabíamos que um dia tínhamos o mar encurralado como se encurralam os
pássaros nas gaiolas de sombra.
Um dia, outro dia, ontem,
hoje, a vaidade abraça-se nos lábios do lírio, o poema enforca-se nos lábios do
poeta, enquanto o poeta desaparece no cacimbo da vergonha. Que da lareira
emerja um pedaço ti, como emergiram os pássaros dos quarteis sitiados depois do
toque da alvorada. Depois disso, afagávamos os loiros cabelos do poema que
brincava no parque-infantil da aldeia. Escrevo-te;
Escrevo-te nas mãos
envenenadas que escondes na algibeira, saltitavas de pedra em pedra, de sorriso
em sorriso, escrevo-te recordando as lágrimas das mangueiras que voavam sobre
as lápides da saudade, enquanto lá fora, debaixo das sílabas lunares, as
palavras mergulhavam nos teus seios poéticos.
Ai a lareira, meu amor!
À hora da despedida, como
sempre, sabíamos quando os pássaros adormeciam, como sempre, sabíamos que
depois das árvores, os sítios se tornariam frios e escuros.
Sabíamos.
Como sabíamos quando
descia a noite.
Como sempre.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 11/04/2022
domingo, 10 de abril de 2022
Querido imbecil
Quando um imbecil cortas
as asas a um pássaro,
Ele,
Não voa,
Mas um pássaro sem asas,
sonha e,
Voa.
Quando um imbecil corta o
sorriso às tuas flores,
Elas, choram, elas ficam
tristes,
Mas uma flor sem sorriso,
Sonha e,
Alegra o dia de uma
criança…
Quando um imbecil diz que
as tuas palavras são nadas,
Que as tuas palavras são
asas cortadas,
Quando as tuas palavras
são tempestades…
Quando um imbecil diz que
és apenas uma montanha,
Um pássaro de asas
cansadas.
Alijó, 10/04/2022
Francisco Luís Fontinha
quarta-feira, 6 de abril de 2022
Aos pássaros que desistiram da Primavera
Não desistas,
Enquanto o vento te leva
para o mar,
Não desistas e,
Não te deixes ofuscar
pelo luar,
Não desistas de voar,
Amar,
Brincar,
Beijar…
Não desistas das palavras
Que escreves no céu
nocturno do sonho,
Não desistas das canções
de embalar e,
Que os teus pais te
ensinaram…
Não desistas das tardes
límpidas junto ao rio,
Não desistas de observar
as montanhas e,
Todas as pedras.
Não desistas, não desistas
de sonhar.
Alijó, 06/04/2022
Francisco Luís Fontinha
sábado, 19 de março de 2022
Estas palavras
As palavras cansadas
Que dormem nos teus
lábios,
São poemas, são canções,
São flores
Neste jardim sem nome.
As palavras cansadas
Que habitam nas tuas
mãos,
São saudade,
São enxada…
São diamantes das manhãs em
fome.
As palavras…
Balas que disparo contra
o teu peito.
Alijó, 19/03/2022
Francisco Luís Fontinha
quinta-feira, 17 de março de 2022
Aos teus lábios
Aos teus lábios
Lanço as minhas palavras
em desejo,
Enquanto o mar
Se alicerça nos teus
cabelos.
Aos teus lábios
Ergo os meus beijos
Como se fossem pássaros
de amar
Ou canções de Primavera.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 17/03/2022
sábado, 12 de março de 2022
O caderno de geada
O cachimbo suicida-se nas mãos do poeta.
Era noite, caminhava pelos trilhos que a geada tinha
desenhado e, na mão, o caderno embalsamado pelas palavras da morte, tinha medo
do escuro, tinha medo dos versos envenenados pelo luar e, mesmo assim,
caminhava, caminhava,
O cachimbo embrulhado em metástases desesperadas pela
fadiga do corpo, do fígado saía o camuflado texto das palavras inventadas pelas
crianças da aldeia, às vezes, poucas, tinha fome e,
Fumas?
E fumava desalmadamente até o nascer do Sol, poisava a
caneta sobre a mesa-de-cabeceira, atirava o caderno contra o espelho, sonhava;
Sonhava!
O cabelo que outrora lhe tinha pertencido, fugiu para
a praia mais distante, ficando ele, apenas com o usufruto do rio, uma enxada,
rangia lá longe, nos socalcos e, o cachimbo
Sonhava!
E o cachimbo de mão dada com o caderno, como o amor de
duas flores, uma roseira e um craveiro, uma sombra de luz poisava na boquilha,
marinheiro agreste dos oceanos enlouquecidos, o falso milagre,
Sonhava…
E suicidou-se na minha mão.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 12/03/2019