segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Lágrimas envergonhadas


As lágrimas envergonhadas

Do silêncio anoitecer

O cansaço da vida

Viver

Sem viver

Sentado nesta triste esplanada

Sem fotografia para o mar

Sem fotografia para o escurecer

Do silêncio anoitecer

O cansaço da vida

Viver…

Sem ser visto

Junto ao pôr-do-sol…

E escrever

Escrever no teu olhar

O poema do morrer

Aos poucos

Devagarinho

Como um passarinho ao acordar

Saltita na árvore dos sonhos

Brinca na eira dos desejos…

E as lágrimas envergonhadas

Prisioneiras nos invisíveis beijos.

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 15 de Fevereiro de 2016

domingo, 14 de fevereiro de 2016

A via não regressa mais aos teus braços, meu amor, sentíamos os gonzos da insónia acorrentados aos nossos lábios, o dia consegue alimentar-se das ardósias sonsas do olhar, a noite envergonha-se nos nossos medos, de amar, ser amado, amarmo-nos sem percebermos que amanhã o amor é uma lápide de lágrima, tive um sonho esta noite, estávamos sentados na saudade
Saudade, meu amor? Sim, sim meu amor, sentados na saudade, as cancelas da morte entreabertas, sentados na saudade,
Amanhã, meu amor, os pássaros brincando na janela virada para a Quinta, ao fundo o Rio, o Douro envergonhado galgando os socalcos do desejo, a vida
Não, não regressa mais aos teus braços
Meus amor?
Sim, claro, amanhã, amanhã sentiremos o odor dos sufixos aprisionados ao Dicionário da paixão, a encosta, o medo de perder-te, meu querido, enquanto lá fora a noite vomitava fotografias da tua infância,
Saudade?
Os brinquedos, os primeiros beijos e cartas de amor, o papel, os poemas em pequenos suicídios, milímetros de suicídio, aos poucos, a partida, o Adeus, a brincadeira,
Não, não meu amor, amanhã não
Não consigo absorver-te como te absorve a noite, as laminadas fragâncias enferrujadas no cabelo da invisível maré de Azoto,
Saudade?
Os brinquedos
Saudade, das vitrinas cobertas de sono, os bonecos e bonecas visíveis nas vitrinas cobertas de sono, e a saudade regressava como um apito, a dor, o sofrimento, a morte…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
domingo, 14 de Fevereiro de 2016
 
in “Amargos lábios do poema”

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Sangue sofrido e pedacinhos de areia…


A noite desesperada

No labirinto da palavra

Todas as flores do teu jardim

Assassinadas pelo coração do poema

Absinto

O mínimo tempo consagrado aos insectos

Que poisam no teu olhar

Imaginávamos o silêncio

Nas treliças da saudade

Sempre em desespero

Neste labirinto de espuma

Camuflada pelas mandibulas do cansaço

O louco sorriso

Nas avenidas do sofrimento

Que absorvem a cidade do medo

O teu corpo disperso na escuridão

Descendo do luar

Até à minha mão

(A noite desesperada

No labirinto da palavra

Todas as flores do teu jardim)

Mortas

Trémulas segurando uma velha esferográfica

Escrevia em ti o sentido lapidar da timidez

Como um rochedo de insónia

Navegando no Oceano

A morte

Vivida a cada segundo de luz

A morte

Vivida a cada milímetro de tristeza

E voava nos teus braços

E voava nas tuas coxas

Até adormecer junto ao mar

A noite

O labirinto da palavra

Despedindo-se das uniformidades da sentença escrita

Morte

Até que as lágrimas se transformavam em flores assassinas

O dia inventado nas pequenas limalhas do desejo

Acordávamos sobre os lívidos secretos da angústia

E terminávamos nos limos do corpo

Desejado

Indesejado

Do corpo

No corpo

Do majorado envenenado

Observávamos as gaivotas construídas no papel pelas mãos do pôr-do-sol

E nada mais tínhamos nas veias

Apenas sangue sofrido

E pedacinhos de areia…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 13 de Fevereiro de 2016

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Do meu próximo livro “103 com vista para o mar”



103 com vista para o mar
 
No corredor aglomerados de aço
Cadáveres de barcos
Braços
Sombras de amor embalsamadas
Passeando na réstia manhã adormecida
Lá fora o mar entranhado nas ervas esquecidas pelo Criador
Chove
Há nas quatro paredes invisíveis
Gotículas de uma lágrima sem nome
Em direcção ao infinito
Os gemidos
A fome disfarçada de noite
Lá fora o mar
Pintado no térreo pavimento da dor
Não há palavras
Poemas
Textos
Nada
Nada
No corredor
Aglomerados
Aço
Enferrujado
Velho
Sem saber a que cidade pertence
A idade
A idade em corrida
Tropeça na Calçada
Dorme
Acorda
E finge…
Finge não ter medo da madrugada.


Livros de Francisco Luís Fontinha





terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A álea manhã


A álea manhã ensanguentada

Fugindo da madrugada,

Das sílabas amargas do poema inacabado

Suspenso na esquina da avenida na cidade inseminada,

O cansaço coração repatriado

Descendo a montanha salivar,

O visitante perdido

Procurando os lábios da paixão

Que só ele sabe desenhar,

O poder da morte brincando no mar

Arrastando barcos para a destruição…

Um cigarro esquecido na mesa-de-cabeceira,

O silêncio à volta da ribeira…

Correndo para o rio dos murmúrios,

Um pedaço de terra que chega

E sobra

Para cobrir o olhar da serpente,

A álea manhã ensanguentada

Fugindo da madrugada,

As fotografias da solidão

Dentro de um pequeno livro,

Procura-se o alívio

E o repouso do tempo monstruoso…

E a álea manhã

Sentada à janela,

Em gritos espasmos

Revolta-se contra o desleixo da noite,

O ciúme envergonhado

Na lápide do artista,

As palavras ternas na mão do viajante,

Fugindo da madrugada

E da gente,

Como nós defuntos

Abraçados aos rochedos da saudade…

Outro cigarro,

Outra morada anónima,

O machibombo engasgado nos alicerces da picada,

Não me apetece olhar-te,

Não me apetece alimentar-me da tua ausência,

E a álea manhã

Sempre pronta para me acorrentar

Ao peito da madrugada…

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 9 de Fevereiro de 2016

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Poemas Perdidos - Francisco Luís Fontinha



“Poemas Perdidos”
Formato: 16 cm x 23,50 cm
ISBN: 978-989-680-167-0
Data de Publicação: Fevereiro de 2016
PVP: 10,90 euros


Uma cidade em lágrimas


Não sabia que da textura da noite se fabricavam beijos,

Não sabia que há no luar uma habitação condigna,

Com muitas janelas

E junto ao mar…

Onde nascem estrelas

Donzelas

E desenhos de desenhar,

Não sabia que tinhas no olhar

Uma cidade em lágrimas

Embrulhada na penumbra,

Tanta coisa que eu não sabia…

Que às vezes,

Sentia

Tremia

Gemia…

Até que acordasse a manhã na tua mão!

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2016

domingo, 7 de fevereiro de 2016

O peso do corpo sobre as pálpebras do destino


O peso do corpo

Sobre as pálpebras do destino,

O menino dançando nos braços do abismo,

Esperando o regresso dos soníferos poemas de amor,

Uma canção em desalinho,

Distante deste corpo

Sobre as pálpebras do destino,

O campónio silêncio,

A despedida embainhada nas sílabas do sofrimento,

As vozes dos outros

Acabrunhadas,

Tristes

E cansadas da despedida,

Como a morte do vento,

Sinto-me uma louca locomotiva

Dançando os socalcos do Douro,

Respirando o xisto das palavras

Engasgadas nos murmuráveis anéis de prata…

 

Sofro tanto, meu amor!

 

As insígnias soberbas lentidão

Rodopiando os círculos da saudade,

O peso do corpo

Arrepiado nas amendoeiras em flor,

Desperto,

O amor,

A sinfonia da loucura aprisionada no texto do escritor,

O mar,

O meu mar suicidado nas lâminas do medo,

Sem ter o juízo,

Sem ter a aventura

Dos segredos,

O peso do corpo,

Este,

Meu…

Escorçado das insignificantes marés de areia…

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 7 de Fevereiro de 2016

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Partiram, levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira...

(…)
 
Amanhã amar-me-ás como hoje?
Mas hoje... não existe, um caixote em madeira, alguns tarecos e meia dúzia de fotografias,
Todas,
Todas a preto e branco...
Partiram, levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira,
Alguns tarecos, pouca coisa e fotocópias de fotografias envenenadas pelo silêncio, na algibeira, o amor, o desejo do mar, dos barcos e das coisas
Simples?
Os livros,
E das coisas sem nome,
Sombras de mangueira?
E beijos, das coisas travestidas de saudade, dos livros lidos nas entranhas do desejo, caminhávamos entre quatro círculos de luz, abraçavas-me como se abraçam os pássaros, as acácias e os pindéricos cabelos de nata,
Amanhã amo-te...
Partiram, fugiram das noites embriagadas com direito a limonada e a sexo, construíram cubatas nos musseques da alegria, saltaram muros e muros, tinha medo das curvas da vida, adivinhava os beijos como sendo abelhas em flor, sobre as casas sem nome, idade, e
Sexo?
Só depois das seis,
E sonhos, de um dia regressar...
Regressar, mãe?
O texto escreve-se no teu corpo, a partida pertence ao passado, triste, tão triste como fazer amor num vão de escada,
Os gemidos,
Os silêncios mergulhados na algibeira do cansaço, amanhã saberei se me pertences, maldito caixote em madeira,
Alguns tarecos, meia dúzia de fotocópias de fotografias,
O mar, mãe?
O mar.… morreu,
Como morrem todas as coisas belas,
Sinto-me um caixote em madeira, um socalco em lágrimas descendo até ao Douro, uma eira, imaginada em Carvalhais – S. Pedro do Sul, sinto-me a noite vestida de negro, abraçada aos meus sonhos, sem poder mais,
Amanhã, meu amor!
O circo, os palhaços narcisados nas palavras escritas pelo fantasma do silêncio, a minha vida uma “merda” comparada com a vida dos meus vizinhos, hoje sonhei que a pobreza tinha morrido... como se a pobreza tenha morte... este momento embriagado em poemas de amor,
Poder mais...
Os sorrisos, a mentira do soneto sobre os ombros vergados de uma enxada, o cristal opaco que sobressai nas fotografias de infância, a dor, e a doença
Sinto-me
E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me.… um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Um café Doutor?
Café...
Faltam-me os cigarros...
E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me.… um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Faltam-me as tuas mãos, mãe,
Café?
Viajo na tua saia e percebo que não temos regresso, regressar é um suicídio sem palavras, uma carta escrita, os motivos da tua ausência, as faltas da tua presença na Igreja, sinto-me quando abres a janela do quarto e tenho a certeza que estou vivo,
Bom dia, mãe...
Meu querido filho!
O livro cresce nas ardósias cinzentas da memória,
Que és enigmático, meu filho...
Que sim, minha mãe,
Que sim,
Telefonaram da Rua dos Mendigos?
Para mim, mãe?
A cidade embriagada nas sandálias do pescador, o mar, sempre o apaixonado mar, a paixão azul, do azul literário e poético..., sabes com é, mãe,
Pois,
Sei que sempre sonhaste comigo,
Eu?
Sim, tu, mãe,
Quando dizias que aos três anos de idade já voava...
Eles chegaram, o caixão ainda cheirava à tinta fresca da manhã, brincava um silêncio de olhos verdes no vão de escada,
Foder num vão escada, como fodem todas as palavras do poema...
Sabíamos que o corpo não pertencia às nossas vidas,
Clandestino, eréctil nas disciplinas do abismo, o poema esfomeado esperando o amante suicidado,
amanhã, amanhã nascerá um cansaço de medo no afastamento dos círculos das cidades embriagadas,
Sem iluminação, sem mulheres ou bares para combater a distracção, uns panfletos expostos na parede xistosa,
Há Tripas,
O caixão dançava no centro da sala de estar,
Confesso,
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,
A aldeia padece de claridade, existem fios de escuridão nos telhados cansados das palhotas de algodão,
Enigmático, eu?
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,
E palavras sem coração, sentia-me embriagado nas mãos do amanhecer, sentia-me um miúdo encostado à sonolência da idade,
A aldeia em chamas, os campos esbranquiçados na tela do desejo imaginavam canções de moluscos e alguns grãos de areia,
O desenho teu na cidade dos alicerces alienados, os bares em combustão, as miúdas dançando canções de solidão,
Amas-me?
Que não,
Que a arte vive e vai morrer no teu olhar,
Ouves-me?
E palavras sem coração, avenidas nuas, travestidas de machimbombos reumáticos voando sobre a cidade, eu... eu... adormecia,
Inventava beijos nos teus braços, a minha primeira paixão, imaginava-te uma flor triste e cansada, nos circos ambulantes da saudade,
Os sete orgasmos do Mussulo, a liberdade sobre as palmeiras invisíveis que me atormentavam, como campânulas de sofrimento, ao deitar, o caixão que dançava deixou de o fazer, dificuldades com o cachê, dispensa de artistas e cadáveres de cera, um altar recheado de almas, tantas almas como os versos do sem-abrigo quando sentado numa cadeira apodrecida de um circo ambulante,
Quero ser artista, mãe!
Nem penses..., nem... penses...
Filho meu não é artista!
 
(…)
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha
in “Amargos Lábios do Poema”