sábado, 19 de julho de 2014

E sábado..., e sábado os ASSASSINOS...


Sábado,
a metralhadora do silêncio começa a disparar,
uma mulher vestida de negro, caminha vagarosamente para o altar,
alguém a espera, alguém a ama, e só alguém a pode desejar,
sábado,
hoje não há palavras de escrever,
hoje só uma ténue lâmina de sémen suspensa na janela da cidade com chaminés de vidro,
ela dispara, ela mata... e depois, depois cessa... depois... depois abraça-se às feridas que choram,
hoje, sábado, a metralhadora do silêncio começa a disparar...
a tarde escoa-se através de uma conduta de beijos, e há os cabelos da noite enrolados no vento,
a mulher leva um livro na mão, uma bala que lhe dita o futuro não existente,
ela deita-se sobre a lápide da solidão, e espera, e espera...

Espera que um coração de papel acorde da ressaca de sexta-feira,

Sábado,
um dia invisível,
chuvoso,
a cidade com chaminés de vidro, arde,
e sente,
os estilhaços no corpo de uma criança,

ASSASSINOS!

Sábado prometido,
hoje, hoje, hoje o que posso eu dizer...
que invento mulheres vestidas de negro?
que há metralhadoras apontadas ao meu peito?
Sábado...
ASSASSINOS!

Os meninos,
brincam no centro do furacão,
os calções fendidos, os calções de chocolate baloiçando nas pernas íngremes da madrugada,
e sábado..., e sábado os ASSASSINOS...
saciam-se à volta de uma mesa redonda, recheada de comida,
e os meninos, morrem,
e os ASSASSINOS... e os ASSASSINOS escondem os sobejantes calções de chocolate,
e ninguém, e ninguém os consegue parar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 19 de Julho de 2014

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Dois corpos prisioneiros no espaço


O amor,
movimento circular uniformemente acelerado,
dois corpos prisioneiros no espaço,
três pontos os absorve,
o desejo,
o beijo...
e o abraço,
o amor,
o rio que corre para o mar...
e não mais vai regressar,
o silêncio impregnado nos lábios da madrugada,
o amor,

O amor desgovernado,
sem cais para aportar...
o amor de amar...
o amor, o amor submerso num triste olhar,

Entrelaçadas mãos,
numa cama deitadas,
o amor quando de um espelho ressaltam os pigmentos do amanhecer,
a janela encurralada na floresta,
o amor,
o amor verdadeiro, o amor... o amor sem se ver,

(o amor,
movimento circular uniformemente acelerado,
dois corpos prisioneiros no espaço,
três pontos os absorve,
o desejo,
o beijo...
e o abraço,
o amor)

O amor vestido de saudade,
o amor pintado numa parede invisível, o amor... o amor sem tempo para pensar,
as estrelas, o luar, o amor... o amor das palavras quando um túnel de vento se esquece de acordar,
o amor,
duas mãos entrelaçadas,
milhares de dedos encostados à tua pele bronzeada,
o amor, o amor de uma caravela,
correndo, correndo... correndo no pulso de uma sanzala...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 18 de Julho de 2014

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Cidades com coração de pedra


Não me perguntes onde vivem as cidades com coração de pedra,
porque a noite é escura, porque a noite é bela, e sombreada...
não me perguntes de quantos desejos estou à espera,
porque não espero desejos,
porque não existem desejos nas cidades com coração de pedra,

Não me perguntes a cor do meu olhar,
não,
sim, sim... eu tenho olhar,
mas... mas não desconheço as cores,
mas... nunca vi o mar, o amor, e as flores,

Não me perguntes...
porque há em mim uma lâmina em betão armado,
triste,
triste e cansado,
não,
não me perguntes pelas árvores do meu quintal,
não, e nunca... e nunca tive um quintal,
e nunca, até ver... fui... fui degolado,
posso ser parvo,
e louco,
mas... mas não conheço as cores,
mas... mãos não sei o significado de “amores”,

Tudo para mim é pouco,
e perguntarem-me pela madrugada é como se me tirassem os livros, e o luar,
e a insónia, e todos os sonhos de criança...

Não me perguntes onde vivem as cidades com coração de pedra,
não me digas que amanhã os beijos são de papel,
não, não o suportaria...
que um dia,
que um dia me perguntasses como são os meus lábios enquanto dormem...!

Porque,
Porque os meus lábios nunca, nunca, porque os meus lábios nunca dormem.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 17 de Julho de 2014