quinta-feira, 17 de julho de 2014

Cidades com coração de pedra


Não me perguntes onde vivem as cidades com coração de pedra,
porque a noite é escura, porque a noite é bela, e sombreada...
não me perguntes de quantos desejos estou à espera,
porque não espero desejos,
porque não existem desejos nas cidades com coração de pedra,

Não me perguntes a cor do meu olhar,
não,
sim, sim... eu tenho olhar,
mas... mas não desconheço as cores,
mas... nunca vi o mar, o amor, e as flores,

Não me perguntes...
porque há em mim uma lâmina em betão armado,
triste,
triste e cansado,
não,
não me perguntes pelas árvores do meu quintal,
não, e nunca... e nunca tive um quintal,
e nunca, até ver... fui... fui degolado,
posso ser parvo,
e louco,
mas... mas não conheço as cores,
mas... mãos não sei o significado de “amores”,

Tudo para mim é pouco,
e perguntarem-me pela madrugada é como se me tirassem os livros, e o luar,
e a insónia, e todos os sonhos de criança...

Não me perguntes onde vivem as cidades com coração de pedra,
não me digas que amanhã os beijos são de papel,
não, não o suportaria...
que um dia,
que um dia me perguntasses como são os meus lábios enquanto dormem...!

Porque,
Porque os meus lábios nunca, nunca, porque os meus lábios nunca dormem.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 17 de Julho de 2014

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