quarta-feira, 11 de setembro de 2013

esquecer-me em ti de ti

foto de: A&M ART and Photos

um cigarro esquecido
na tua boca de serpente
envenenada pela solidão
em ti
um cigarro ardido
de ti
ausente
quando o coração
de uma árvore parte e voa em silêncios de espuma
um cigarro mordido
em teus lábios de ternura
em ti de ti... senti

em ti
e de ti

a claridade mente
a madrugada distante
como as águias dos esconderijos mergulhados em ténues mãos de areia
ardem como as palavras incandescentes
e as sereias
parvas
em pequenas sementes
do corpo embrulhado em tristes larvas...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 11 de Setembro de 2013
3º Encontro com Escritores da Lusofonia - Montemor-o-Velho

Blogue Cachimbo de Água em destaque – Sapo Angola


Blogue Cachimbo de Água em destaque – Sapo Angola
http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O só eu como os outros em gravatas de madeira

foto de: A&M ART and Photos

O só, o castanho cabelo das árvores inseminadas nas tardes de literatura, vi-a como só, vestida dentro de uma voz melódica, poética, dizem que o amor vive dentro de um cubo de vidro, e que durante a madrugada, ele, só, brinca com o hipercubo da vizinha do rés-do-chão direito, lá fora não há sol desde que partiram os cortinados de cerâmica, lá fora há apenas vestígios de lágrimas, uivos e folhas espalhadas pelo pavimento chão em madeira tratada, de um cubículo mobilado apressadamente, um vulto de areia grita por mim, diz-me que o amor
Amo-a, menina, amo-a... sabia?
Claro que não, diz-me que o amor é o amor, que a noite é a noite, que as viagens à lua são as viagens à lua... e que no quintal dela habitam roseiras bravias, e nos lábios trazem pergaminhos de poesia, o só, eu, o castanho cabelo das árvores
Amo-a..., sabia?
E cansei-me do sono, das luzes quando desce sobre ti a noite, cansei-me das retretes e dos mictórios com o letreiro
“não deitar pontas de cigarro”
E cansei-me das estrelas, e dos cinzeiros com letreiros...
“não urinar dentro do cinzeiro”
E cansei-me dos letreiros... “hoje há caracóis”
Gritas-me
Já não temos caracóis, amo-a menina, se fosse há coisa de cinco minutos... e como sempre, cansei-me de andar e chegar atrasado a todas as ruas da cidade, espero-a na paragem do autoruas...e vejo-a caminhar rapidamente em direcção ao rio, e sinto as ruas em pequenas corridas, apinhadas de gente, não param, seguem, rua acima, rua abaixo
Acima
Abaixo o capitalismo,
Não param, buzinam, gritas-me
Amo-o... menino, sabia?
Acima
Abaixo o capitalismo,
Rua abaixo galgando as gruas enferrujadas dos velhos guindastes de pano, os sapatos pontiagudos apertavam-lhe os dedos do pé, raio
Gritava ele,
O casaco e a camisa pareciam papel de engenheiros, transparentes e embrulhados em tinta da china, e uma triste gravata
Acima
Abaixo o capitalismo,
O pescoço torcia-se, vacilava, e uma andorinha uivava sobre os teus crisântemos seios de névoa adormecida, Acima
Abaixo o capitalismo,
Não param, buzinam, gritas-me
Amo-o... menino, sabia?
Acima
Abaixo o capitalismo,
E respondo-lhe
Se eu soubesse...
E se também eu soubesse...
Não
Não?
Não, nãos escrevíamos estas parvoíces, sem sentido, como serpentes de uva embebidas em longas e distantes prisões com grades de ébano, e do Éden Jardim
Não, não o sabia... menina,
Dormem os anjos das coxas encarnadas, vivos, e gritam, gritam...
E cansei-me dos letreiros... “hoje há caracóis”.

(Não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 10 de Setembro de 2013

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

acreditava que eras de pedra

e a foto é de: A&M ART and Photos

acreditava que eras de pedra
e que tinha no olhar uma nuvem de luz
sentia-te vacilar nas searas da tristeza
voando sobre os tentáculos da solidão
dizias-me que eu pertencia às árvores de folha caduca
e em cada Outono
eu
tombava nas tuas mãos emagrecidas
os dedos esticados e finos
quando procuravas o mar nas clareiras do silêncio depois de partir a tarde
acreditava que eras de pedra
e percebia que amavas e percebi que tinhas no peito um coração de rosa dorida

(doente
dormente
ausente
e mente)

o amor depois da tempestade
fingia suspender-se nos teus dedos de verniz
compridos e longos
distantes como a madrugada
e vinha a noite
e tu acordada
esperavas
não dormias
abrias e fechavas
janelas
e ventanias
como sentias o meu corpo dentro do teu ventre

talvez
um dia percebas as fachadas dos meus olhos coloridos pelos pigmentos da insónia
memória tenho e nunca me faltou
corpo tenho e dou-me conta que me roubaram o esqueleto
em aço inoxidável
ao carbono
talvez percebas que o amor é uma treta como são todas as palavras
todos as imagens...
e um dia acredites nas gaivotas e nos barcos com dois braços meus
velas em teus cabelos
loucas
cinzentas que sobejaram do jardim teus lábios

(não revisto)
não datado (o hoje não existiu)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó (não tenho a certeza se sou eu)

domingo, 8 de setembro de 2013

estive esperando na tua cama


pois vou... estive esperando na tua cama... e tu? voando entre quatro paredes... e tu? sorrindo rosas com pétalas de cetim, pois vou, vou, claro que vou, dormir, sonhar, ficar apenas acordado, olhar o tecto, desesperado, cansado, pois vou... estive, estou... esperando por você... e a sua cama parece um manicómio com muitas janelas, um corredor longínquo, grandes de beijos nas janelas, voando, dançando, pois vou, claro que vou... sonhando, brincando, até que a tempestade traga as tuas mãos disfarçadas de gaivota, mar, barco... ou... nada,
só isso, buscar água? e eu que pensei que foste procurar-me entre sombras, debaixo das bananeiras do teu quarto... mas não, não
pois vou,
dormir... estive esperando na tua cama... e tu?


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Setembro de 2013

Aqui não há nada

foto de: A&M ART and Photos

Aqui não há nada,
pensava eu,
aqui vive-se acreditando nos lençóis de insónia que durante a noite acordam das madrugadas incolores, os corpos vagueiam como pedras caindo do terceiro andar, depois uma fina chuva de sorrisos cai nas esplanadas cinzentas das avenidas ainda incógnitas, ainda virgens como árvores por descobrir no quintal lá de casa, abriam-se a janelas, abriam-se as portas e
pensava eu
aqui não há nada,
Depois diziam-me que as coisas iam melhorar, diziam-me que amanhã o sol acordaria dentro de mim, e eu, chateado
(acorda o caralho... porque só vejo calhaus e ferros em aço pedindo migalhas de pão)
chateado ouvia-os no varandim da casa amarela escrevendo frases de revolta na sombra dos lábios inchados pelos pequenos morcegos de negras asas em cartolina, e diziam-me que amanhã
Amanhã tudo será diferente,
(o caralho que será)
Amanhã como hoje, amanhã como ontem, amanhã como há vinte e cinco anos, as palmeiras, os semáforos avariados, as tuas coxas magricelas parecendo esteios de xisto mergulhadas em ocas palavras em desejo, amanhã, amanhã e ontem, e hoje, e amanhã as tuas mesmas coxas de ontem, iguais nada em ti mudou, nada... nem a cor dos olhos, da pele, do púbis, tudo igual, porra
(muda, amanhã, o caralho...)
Amanhã,
Muda, muda de coxas, muda de seios, muda a cor à pele de marinheiro poisando os cotovelos na escotilha do submarino que há dentro de ti, muda, alimenta-te de mim, alimenta-te dos pedaços de rosa que deixaste meus no interior de um livro, ainda existe?
Existes tu, coxas magricelas, leves, invisíveis quando o sol levanta voo e alicerça-se no teu peito doirado, chovia em ti, molhavas-te para te esconderes em mim, e de mim, e o amor és isto
(uma merda escrita num papel e outra merda descrevendo círculos numa branca tela, virgem, fina, magricelas, igual às tuas lâminas coxas)
Amanhã...
Existes em mim?
Claro que não, claro que n ã o...
Nunca
(muda, amanhã, o caralho...)
Porque aqui, aqui não há nada.

(Não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Setembro de 2013

gritos de revolta

foto de: A&M ART and Photos

sinto-o correr nos poços escuros do meu corpo
quando escarpas e ventos se alicerçam nas minhas tristes mãos de areia
sinto-o como se ele fosse uma lâmpada de cristal vomitando palavras
tracejados traços no sorriso de uma abelha
e sinto-o e sinto-a
em mim depois de adormecer a solidão
sinto-o correr nos poços escuros... do corpo
e há uma corda invisível em cada esquina do sofrimento
que as cidades descobrem depois de acordar a manhã
e as ruas absorvem as lágrimas tuas
que correm nos poços...
escuros nus dormentes ausentes das sílabas de prata

vazios como o silêncio desgovernado
dos teus íngremes cabelos com sabor a naftalina
e de uma gaveta fechada
uma sombra disfarçada de imagem
emerge no espelho da dor
estás triste
como se o teu barco naufragasse no profundo Oceano mar...
e no entanto
sem o perceberes
uma jangada voa nos teus olhos magoados
como uma gaivota de oiro envenenada pela insónia de uma velha estória...
e sinto-o e sinto-a... dentro de mim em gritos de revolta


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Setembro de 2013

sábado, 7 de setembro de 2013

e eu e eu acreditei

foto de: A&M ART and Photos

não sei como são as tuas manhãs de solidão
quando acordam os vidros embalsamados pela escuridão do corpo suspenso no tecto da paixão
não sei como és quando descem sobre ti as mandíbulas ensanguentadas do orgulho
quando o mar entra na tua mão
e no peito
uma âncora de prata alicerça-se como um cogumelo encarnado
voando sobre os cinzentos teus seios de flor apaixonada
não sei como são as tuas tristes manhãs de solidão
se és branca
escura
alegre abelha de silício
procurando a colmeia do púbis em madrugadas embriagadas

não sei como são os barcos onde nasceste
viveste
brincaste com os meus olhos debaixo das mangueiras de papel
e tínhamos dentro de nós
o frio congelado dos beijos nunca dados
inventávamos tardes numa sanzala de cartão
e chapinhávamos nos charcos de incenso
as doces pernas da infância
brincávamos
e em beijos
ouvíamos os meninos que dormiam sobre um colchão de palha castanha...
e chovia e dormiam e choviam coloridas imagens de triângulos equiláteros

eu procurava nos teus seios ainda por descobrir o cosseno dos teus abraços
e tu
calculavas a tangente do sémen que um dia apareceria nas equações húmidas diferencias
que de um caderno quadriculado saltitavam como pigmentos de resina depois da despedida noite em lençóis de Aspirina derretida
éramos tontos vagabundos de areia
apaixonados loucamente e literáriamente vestíamos personagens magoadas pela ausência do Pôr-do-Sol...
não sei como são as tuas manhãs de solidão
porque a noite rende-se à porta de entrada
onde moram as tuas loucuras fantasias dos telhados em zinco
uma sanzala chorava
eu chorava...
e tu dizias-me que o cacimbo tinha levado o meu triciclo e eu e eu acreditei


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Setembro de 2013

Esqueleto de aço com mãos de seda

foto de: Francisco Luís Fontinha

(dedicado ao amigo Zeca Gaspar)


Se sentes a pulsação do sol não digas que estás triste, inventa riscos traçados nas paredes das nuvens envergonhadas, inventa desassossegos nos cansaços das caravelas teus olhos, hoje, encerrados como quatro paredes de uma cela com meia dúzia de grades em papel colorido, inventavas traços nas costas dos morcegos, inventavas sílabas na língua dos socalcos inclinados descendo o Tua... e ao longe, o verdadeiro apito da vida, as tuas mãos que seguravam as escadas em direcção ao Céu, as tuas mãos, iguais às minhas, iguais às de tantos outros camaradas... acreditávamos que era possível vencer a insónia, o cansaço e a fome, como tantos outros, tudo demos, e tufo fizemos, se sentes a pulsação do sol, tu, amigo, não fiques triste pela ausência da luz vestida de marinheiro, não fique triste amigo
(prisões de chocolate com sabor a melancolia)
E no entanto, tu, eu, acreditávamos no sonho, na saudade, na literatura e nos automóveis com nomes esquisitos
Dizias-me... Isto é um Lada... e
E nas árvores com pássaros coloridos por diversos artistas, por diversas mãos, como as de há pouco, pequenas, silenciosas, e meigas, em chocolate, em porcelana, em...
E subíamos e descíamos, ruas e becos e montanhas, e nunca, e nunca
Adormecíamos, e nunca, e nunca
Éramos vencidos pelo cansaço, pela vergonha, ou
Dizias-me... Isto é um Lada... e ao longe, o comboio subindo o Douro, ofegante, na mala do carros a propaganda misturada com inocência, misturada com a saudade, misturada com os sonhos, os mesmos sonhos que ainda hoje, uns mais do que outros, acreditam, acreditamos, e tu? Onde estarás agora, logo, e pela madrugada? Andarás a segurar as escadas sonâmbulas onde eu timidamente, como medo de tombar sobre as pedras íngremes do medo... eu... subia, subia
Não tenhas medo pá, ninguém nos bate!
Claro que não, claro que não, respondia-te sempre com todo o respeito que merecias, mereces... e continuarás a merecer, como continuará suspenso na parede da minha biblioteca o quadro que me ofereceste, autografaste... e quando te encontrar, talvez
(prisões de chocolate com sabor a melancolia)
Se sentes a pulsação do sol não digas que estás triste, inventa riscos traçados nas paredes das nuvens envergonhadas, inventa desassossegos nos cansaços das caravelas teus olhos, hoje, encerrados como quatro paredes de uma cela com meia dúzia de grades em papel colorido, inventavas traços nas costas dos morcegos, inventavas sílabas na língua dos socalcos inclinados descendo o Tua... e ao longe, o verdadeiro apito da vida, as tuas mãos que seguravam as escadas em direcção ao Céu, as tuas mãos, iguais às minhas, iguais às de tantos outros camaradas.. porque a vida é isto, entramos uns dentro dos outros... e depois...
Depois...
Simplesmente... partimos.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Setembro de 2013