Escrevo-te nesta folha em branco,
Triste, frágil e só,
Nesta folha de onde oiço
as tuas lágrimas,
Desta folha onde crescem
as palavras…
Escrevo-te, enquanto o
sol sorri
E a lua não cessa de chorar.
Escrevo-te nesta pobre
folha em papel cansado,
Nesta folha lapidada pelo
silêncio da madrugada,
Escrevo-te, sabendo que
no teu peito de menina
Dormem as flores das
noites de insónia,
E brincam todas as pedras
cinzentas da alvorada.
Escrevo-te, enquanto as
sanzalas da minha infância
Ardem nas mãos de um
louco,
Enquanto as sanzalas da
minha infância são apenas
A saudade de um menino
suspenso nos calcões de uma tarde de chuva.
Escrevo, nesta frágil
folha,
Escrevo-te sabendo que
jamais irás ler estas rasuradas palavras
Que deixei morrer junto
ao mar;
E junto ao mar
Acredito que ressuscitarás,
Como um qualquer Jesus
Cristo.
Escrevo-te, hoje, porque
apenas tinha esta pobre folha
Que andava esquecida na
minha algibeira,
Nesta pobre algibeira
Onde dormem os cigarros
que me irão matar.
Alijó, 1/11/2022
Francisco Luís Fontinha