Percebia-se
nos teus olhos o esconderijo da noite,
Tínhamos
entre nós uma parede invisível e um cortinado em veludo,
Percebia-se
nos teus olhos o cansaço das manhãs sem rumo,
E
enquanto clareava o esconderijo da noite, sabias que seria o último beijo,
A
última palavra,
O
último adeus…
O
último livro, o último eléctrico para o abismo,
Lisboa
continua viva, fervilha, e os jardins onde te sentavas deslumbraram a tua
ausência,
Esqueleto
infeliz,
Em
vidro,
Os
cacos,
Os
grãos de areia descendo a calçada em direcção ao rio,
Percebia-se
nos teus olhos o esconderijo da noite,
O
silêncio da vaidade,
A
loucura por objectos caros, raros, coisas imbecis…
Que
só mulheres como tu… sabem apreciar,
Coisas
imbecis…
Fúteis,
como tu, fútil, mimada, menina das searas envenenadas na solidão das paredes
pintadas,
Percebia-se
no luar o teu olhar,
O
outro luar, a outra avenida sem saída…
O
outro olhar,
Não
o teu,
Porque
esse… vendeu-se por migalhas,
E
evaporou-se num Sábado de neblina,
Entre
transeuntes e feirantes,
Velharias
e vigaristas,
Chapéus
de palha…
E
perfumaria pirateada,
Que
alguém como tu, fútil, consegue odiar.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira,
15 de Outubro de 2015