sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sombras sem sorriso


Deixei de sonhar com as tuas sombras sem sorriso,

Sufocam-me as tuas palavras amargas…

Sofridas e falsas,

Deixei de olhar o mar

E os barcos embriagados pela sonolência da noite,

Agora pareço um Cacilheiro amarrado às folhas ténues dos Plátanos,

Escrevo-te,

Mas não sonho com as tuas sombras,

Sem sorriso,

Agora,

Ontem…

A alegria de estar só.



Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 25 de Setembro de 2015

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Medo da cidade sem nome


(Fontinha – Setembro/2015)
 
 
As ruas sempre desertas,
As palavras ensonadas,
Na minha mão entre pássaros e sombras cansadas,
O peso do meu esqueleto procurando imagens sem nome,
O livro sobre a secretária com fome…
Quase que me come,
E eu, e eu tenho de me esconder nos teus braços silenciosos,
Como faz o luar quando foge para a montanha da saudade,
Vivo nesta cidade
Confundida com as estrelas e os rochedos da insónia,
Desço as escadas do sonho
E percebo que as ruas são túneis assombrados sem clarabóias para o mar…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 23 de Setembro de 2015
 


terça-feira, 22 de setembro de 2015

O espelho da paixão


Sentíamos a liberdade do vento dançando sobre os nossos corpos em desejo,

Um sótão recheado de livros gemeia, e da janela ouviam-se alguns sussurros insolentes, tristes, como serpentes mergulhando no peito da noite,

O rio que caminhava nas nossas veias saltitava nas luzes do prazer,

Uma clarabóia em delírio alicerçava-se aos teus seios, olhava-a, e via o luar em lágrimas, como se fosse esta a nossa última noite,

Amanhã não vens, e nunca mais existiram fotografias minhas no espelho da paixão,

Morri,

Não o sei…

Ou… ou talvez não,

Deixei de sentir a liberdade,

Deixei de pertencer aos sonhos em papel químico, e hoje sou apenas uma sombra escondida nas coxas do poema,

Senti, vivi o teu corpo misturado nas marés cinzentas da madrugada,

Não sei, meu amor,

Não sei se voltarei a olhar-te…

É que os meus olhos cerraram-se e apenas consigo imaginar os barcos agachados no Oceano amanhecer.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 22 de Setembro de 2015

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O grito


(Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Lembrei-me de ti, hoje, e das fotografias tiradas quando se escondia a noite nos coqueiros junto ao mar,
Lembrei-me da solidão
E dos passeios agarrado à tua mão,
Lembrei-me de ti, hoje, e das palavras que escrevias no meu olhar,
Como se eu fosse uma fina folha em papel,
Sofrida,
Cansada de ser riscada,
Velha e tonta… amada,
Lembrei-me de ti, hoje, e das tardes a desenhar os barcos em cartão,
Sós no imenso Porto de embarque e desembarque… sem destino algum,
Ensinaste-me o que eram as montanhas vestidas de branco,
Ensinaste-me o sabor da geada…
E hoje, e hoje lembrei-me de ti e das tuas lágrimas choradas,
Quando acordava a madrugada…
E eu, e eu sem sono… sem sono… gritava.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 21 de Setembro de 2015
 


domingo, 20 de setembro de 2015

Cansaço


(Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Cansei-me da tua voz,
Dos teus abraços,
Dos beijos,
E dos cansaços intermitentes nocturnos do desejo…
Cansei-me da tua sombra suspensa na minha janela,
Cansei-me do Inverno que ainda não regressou,
Cansei-me da tua voz,
Dos teus abraços,
Dos beijos…
E dos cansaços… nocturnos do desejo,
Cansei-me das minhas palavras,
Cansei-me das tuas palavras,
Dos livros,
Lidos,
Não lidos…
E ignorados,
Cansei-me da luz,
Das estrelas,
E dos cigarros apagados,
Cansei-me,
Cansei-me de estar cansado,
Aqui,
Sentado…
Folheando fotografias de gente morta,
Sem palavras,
As cansadas,
As não cansadas,
E as palavras algemadas…
Cansei-me do sono,
Cansei-me do sonho…
E de todas as madrugadas.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Setembro de 2015
 


sábado, 19 de setembro de 2015

Amanhecer envergonhado

 
(Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Sento-me
E sinto o amanhecer envergonhado,
Poiso sobre a lâmina da solidão
E oiço o cansaço da cidade em construção,
Amo,
Não sei se sou amado,
E não amo…
As palavras que escrevo sem vontade de o fazer,
Estou vivo,
Aqui,
Sentado… e sinto o amanhecer envergonhado,
Dentro do mar a arder…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 19 de Setembro de 2015
 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Regresso (Setembro de 71)


(Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Perco-me nos teus olhos de cereja envenenada,
Ao amanhecer, oiço a tua voz fundeada nos meus braços,
Um barco, sem rumo, desnorteado junto aos rochedos da noite…
Olho-te,
Beijo-te,
E sinto sobre mim todas as estrelas,
E sinto dentro de mim o teu corpo disfarçado de papel colorido,
Desenho em ti os sonhos,
Escrevo em ti todos os sorrisos dos marinheiros,
Olho-te, beijo-te…
Até que regressa a morte,
E desapareces na neblina do silêncio…
 
Despeço-me da tua sombra,
Invento cigarros nas andorinhas em flor,
Um barco, meu amor,
Um barco entre círculos de desejo e cubos de paixão,
Brinca na tua pele de amêndoa amaldiçoada,
Entra no teu peito,
Deita-se no teu coração…
E mais nada temos para escrever,
Não temos medo da geada
E das fotografias vestidas de madrugada,
(Perco-me nos teus olhos de cereja envenenada,
Ao amanhecer, oiço a tua voz fundeada nos meus braços),
 
E sei que amanhã não terei palavras para aprisionar o teu olhar,
 
O triângulo poético das tuas coxas suspenso no luar,
Um barco, meu amor,
Um maldito barco me trouxe para esta terra…
Maldito Setembro,
Maldita sanzala agachada no cacimbo…
E brincava com os mabecos,
E brincava com os papagaios de papel escrevinhado,
Sem tempo,
Sem sono,
Habito neste inferno sombreado de machimbombos
E triciclos apodrecidos…
E nunca tive coragem, meu amor, e nunca tive coragem de saltar o portão de entrada.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 18 de Setembro de 2015