sábado, 17 de janeiro de 2015

Ausência do invisível


Absorvo o tesão intelectual,
tenho nas palavras o orgasmo da insignificância,
os momentos perdidos nos teus braços...
não me esperes hoje, meu amor,
sinto a maré do teu sémen voando entre personagens invisíveis...
e equações matemáticas,
apaixonadas,
pois claro,
e ainda,
o prometido automóvel do sorteio da TV,
e no entanto, sofres,
com a minha ausência.


Francisco Luís Fontinha
Sábado, 17 de Janeiro de 2015

Verdes olhos ao mar salgado

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Verdes olhos ao mar salgado,
esta jangada de silêncio
fundeada nos braços do regresso,
às palavras a simplicidade do corpo em evaporação,
as mãos pela calçada abaixo,
sem medo,
verdes olhos ao mar salgado,
triste vida de transeunte acorrentado
às pálpebras do sofrimento,
o eterno desejo em forma de crucifixo
suspenso no gesso cansado,
a alvenaria dos teus seios...
sentem o amanhecer,
e da rua,
os murmúrios dos candeeiros apagados,
perdidos,
sempre à espreita da madrugada,
não paro,
não tenho coragem de olhar a lua,
o transatlântico enferrujado
com janelas de cartão
e portas de amar,
aos teus lábios...
o beijo dos verdes olhos ao mar salgado.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Janeiro de 2015


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Grito

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Não me perguntes que horas são!
Não fazes ideia do papel gasto gritando o teu nome em vão...
os desenhos,
as sombras calcinadas no espelho do prazer,
o orgasmo envaidece-se e foge,
restam apenas algumas palavras de sémen,
as migalhas das torradas,
e algum café embriagado gatinhando sobre os nossos lençóis,



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015


Imagens a preto e branco


Há nas cinzas do teu olhar
imagens a preto e branco,
palavras de amar,
poesia,
sílabas com odor a cansaço,
há nas cinzas do teu olhar
flores,
pedras,
cubos em madeira...
e gaivotas de brincar,
há nas cinzas do teu olhar
a poeira do meu corpo travestido de luar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sem horário

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Que faço a estas flores...
se tu, se tu já não existes,
voaste em direcção ao Tejo,
suicidaste-te na Calçada da Ajuda,
sem ajuda nenhuma,
sem perceberes que habita na noite o amor,
a literatura, a poesia,
e a pintura...
que faço, meu amor,
a estas flores de névoa, a estes silêncios sem horário,
que faço a estas flores...
diz-me...
diz-me por favor,
e a pintura,
se tu, se tu já não existes,
e agora, e agora és uma flor sem leitura...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2015


Falsa memória nos braços da paixão

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A mentira dos homens
mergulhada na falsa memória,
a solidão das palavras,
escritas e semeadas,
nos longínquos corredores da insónia,
o imperfeito corpo do espelho que alimenta a paixão...
em pedaços,
tão pequeninos... como grãos de areia em pleno voo matinal,
as telas amordaçadas que habitam a minha casa, ardem,
sinto o fumo de néon quando pego numa caneta,
tenho uma carta para escrever...
mas,

mas mergulho na falsa memória,
sem destinatário,
sem remetente...
tão sós...
o subscrito,
e a folha de papel oferecida por um pindérico pássaro de cigarro nos lábios...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2015


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O ardina das janelas de vidro

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Sou o ardina das janelas de vidro,
dizem-me que nas palavras habitam os teus lábios,
da lua oiço os teus recados,
as tuas lamentações,
sou ardina,
cancioneiro dos jardins perdidos,
sou a jangada invisível dos teus seios
masturbados na claridade da ausência,
dizem-me que do poema
nasces nua,
em granito esculpido,
pelos meus olhos... sou o ardina das janelas de vidro.


Francisco Luís Rodrigues Fontinha
Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2015