Cinzento,
o teu silêncio
mergulhado em lágrimas que o desejo absorve,
a rua deserta, tu,
tu desapareces entre a neblina que a noite alimenta,
cinzento,
o teu cabelo, solto,
ao vento...
cinzento,
o rio que afugenta a
paixão,
o beijo que
transporta o teu sofrimento,
Cinzento,
eu,
carcereiro do amor
envergonhado, ténue, cinzento o teu coração despedaçado,
invisível, e
cansado,
Cinzento,
o alicerce de uma
carta não escrita,
inventada,
cinzento...
cinzento o teu corpo
quando levita,
e se transforma em
poesia,
e se transforma em
melodia,
como as palavras,
como o arvoredo das tuas coxas, todo ele, ele... cinzento,
Cinzento,
cinzento,
cinzento...
O barco naufragado,
os seios da árvore
do teu jardim,
quando acariciados
pelo mar,
cinzento,
o papel onde escrevo
palavras cinzentas..., palavras... para ti,
cinzento,
quando percebo que
há uma esplanada,
uma esplanada
disfarçada de mulher,
Cinzenta,
também ela,
a sombra...
e a canibal
melancolia comestível pelos segredos da madrugada,
Cinzento,
quando te digo
“amo-te”... e Deus, cinzento, é testemunha que nada amo,
cinzento,
o cofre onde
escondes uma fotografia com lábios de cereja,
sem inveja,
como amendoeiras
correndo montanha abaixo,
e caindo no poço da
tristeza,
e acorda o cinzento
esqueleto que vive dentro de mim...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de
Junho de 2014