segunda-feira, 26 de maio de 2014

marinheiro naufragado


acordar sobre o titânio amanhecer
pegar nas tuas mãos de andorinha selvagem
agarrar o mar
se possível
esconder o mar na tua algibeira de cartão

sentir os teus braços no rio que corre dentro de mim
acariciar todas as rosas das tuas pálpebras de marinheiro naufragado
descansar sobre o teu peito
beijar-te
simplesmente beijar-te... gaivota adormecer.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 26 de Maio de 2014

domingo, 25 de maio de 2014

Noite de tempestade


Dentro de ti, as palavras que oiço,
as frases incompreendidas depois de poisarem nas tuas ténues mãos de areia,
os sítios proibidos,
a montanha escondida nas tuas pálpebras,
dentro de ti, o silêncio,
a ansiedade de partires...
o rio que desce pelo teu corpo até se entranhar nos alicerces da cidade,
a mesma cidade que te absorveu numa noite de tempestade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Maio de 2014

sábado, 24 de maio de 2014

Folha esquecida


Sentia-me aconchegado nos teus braços,
regressava a noite ao teu olhar,
e percebia que no meu corpo habitavam beijos de insónia,
lençóis de porcelana entranhavam-se nas tuas pálpebras de luar,
sentia-me envergonhado,
triste...
sentia-me aconchegado,
como se tu fosses um cobertor recheado de poesia,

Um livro não lido,
uma folha esquecida sob a mesa-de-cabeceira,
uma ribeira,

Sentia-me aconchegado nos teus braços,
adormecia,
e... e sonhava,
ouvia,
ouvia os pássaros,
escrevia,
escrevia nas tuas coxas as palavras proibidas,
as palavras... sentidas,

Um livro não lido,
uma folha esquecida sob a mesa-de-cabeceira,
uma ribeira,

O mar,
o mar quando se escondia nos teus seios de Primavera,
acordava o marinheiro sem pátria,
havia uma bandeira,
uma... uma casa que voava,
sentia-me aconchegado... nos teus braços,
os alicerces de uma cidade inventada,
em papel, uma casa do tamanho dos teus lábios...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Maio de 2014

poemas de morrer


morte
viagem sem regresso
destino
bilhete
desamarrar as cordas da saudade
voar
e partir...
a morte das palavras
escritas numa lápide de lágrimas
morte
quando o corpo cessa de escrever
e nos olhos de quem parte... nascem poemas com nome de “morrer”.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Maio de 2014

sexta-feira, 23 de maio de 2014

há um dia apelidado de “FIM”

foto de: A&M ART and Photos

há um dia apelidado de “FIM”
um dia sem esqueleto
um dia esquecido nas esplanadas da cidade sem nome
há um dia com silêncios disfarçados de melodia
um dia poético
um dia procurando palavras
no teu resgatado olhar
há um dia apelidado...
com medo e cansado
há um dia laminado
que nas tuas mãos inventa baloiços
e meninos sorridentes,

há um dia
um dia “filho da puta”
um dia que te levará sem destino
um dia... um dia apelidado de “FIM”,

há um dia eternamente recordado
um dia feio
um dia desamado
há um dia que o teu corpo vai vacilar
desistir
um dia com janelas e pálpebras de mar
há um dia que será a noite
há as lágrimas do sofrimento
que nesse dia
o dia cessa de caminhar
pára
STOP...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Maio de 2014

quinta-feira, 22 de maio de 2014

triste borboleta

foto de: A&M ART and Photos

sou uma triste borboleta
cansada de voar
um rio que deixou de correr para o mar
o barco
uma pedra a chorar
sou uma triste borboleta
com olhos de insónia
com asas de papel
com mãos de amónia
uma triste borboleta
eu sou
como as madrugadas de mel...

sou uma triste borboleta
em busca do Inverno
e desce a noite aos teus cabelos
e acorda o maldito Inferno
e deixo de viver
e deixo de habitar
os teus olhos sem palavras de escrever
sem as palavras de sofrer...
uma triste borboleta
cansada de voar
cansada de amar...
nas manhãs da manhã ensonada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 22 de Maio de 2014

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Os teus olhos

foto de: A&M ART and Photos

Os teus olhos no espelho que poisa no meu rosto,
do cansaço adormecido das palavras anónimas,
tu, meu amor, sussurras-me baixinho que serei eternamente tua,
acredito,
acredito que há no teu jardim rosas envergonhadas,
acredito,
acredito que os olhos que habitam no meu espelho,
um dia serão as minhas estrelas vadias,

Os teus olhos que dormem nos meus lençóis,
sós,
a aldeia escapa-se entre os dedos da tristeza...
e acredito...

Ofereço-te o meu corpo embrulhado em poemas de miséria,
eternamente tua, eternamente... ausente de ti,
regresso ao espelho e descubro os teus braços na sombra dos meus seios,
afago os teus cabelos enquanto a noite se veste de menina desajeitada,
de menina... de menina de uma outra cidade,
ofereço-te o meu corpo como se eu fosse a tua flor preferida,
a árvore sob a qual te deitavas quando se inventavam em ti os sargaços da manhã,
e partiam os barcos para o luar como pássaros em busca dos filhos em voos infinitos,

Os teus olhos que dormem e sonham nos meus lençóis,
tão distante, tu, homem sem local para aportares...
ofereci-te os meus abraços,
e tu,
e tu fingiste não ouvir,
disseste-me que o cais serve apenas para a partida,
e partiste,
sem regressar nunca,

Como as palavras,
depois de extinta a fogueira da paixão,
ouvia o silêncio dos teus livros...
e nada mais tenho a acrescentar a ti e de ti,

Os teus olhos que nunca me pertenceram,
os teus olhos que brincavam nas minhas coxas antes de eu levitar em direcção aos sonhos,
cerravas-os e partias como uma tempestade de areia...
a ti e de ti,
as conversas inacabadas,
as palavras não escritas, e não ditas,
os teus olhos, os teus malditos olhos que iluminavam um cubículo de papel...
e tinham tentáculos que conseguiam beijar o mar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 21 de Maio de 2014