quinta-feira, 20 de março de 2014
quarta-feira, 19 de março de 2014
Sombras cristalizadas
Aqui, permaneces intocável, como o
guião de um filme em construção,
aqui sentes-te o herói térreo das
sombras cristalizadas,
funestas palavras, os cigarros voam
sobre as árvores do quintal,
há uma nuvem de açúcar quase a
evaporar-se nos teus lábios,
e sentes?
sentes as palavras não ditas, aquelas
que escrevíamos em noites de ninguém?
sentia-te perto, e tu longe,
tão longe que nem as estrelas
conseguiam abraçar-te,
dar-te um beijo,
simples, tão simples como adormeceres
no cansaço da vida,
e a vida é o esconderijo da dor,
habita em ti e de ti se alimenta...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 19 de Março de 2014
terça-feira, 18 de março de 2014
Pigmentados beijos
foto de: A&M ART and Photos
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Pigmentados beijos de ti, Sereia
adormecida,
Oceano retalhado dos teus lábios
amanhecer,
mulher que sonha e inventa palavras nos
muros de xisto ao luar,
regressa a ti a noite, e dela, todas as
fotografias mais belas que se alicerçam no teu peito,
beijos, bocas renegadas e sem jeito,
árvores poisando pássaros apressados
e apaixonados...
louca, tu, quando acordas e vês no
espelho da poesia os seios desgrenhados do poeta,
inventas,
e finges orgasmos nos socalcos
mergulhados em lágrimas,
e alimentas...
e sentes... sentes lá fora o deambular
da chuva miudinha,
que os pigmentados beijos de ti...,
Sereia adormecia, essa... constrói a neblina.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 18 de Março de 2014
segunda-feira, 17 de março de 2014
Panfletos negros
foto de: A&M ART and Photos
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Liberto-me dos panfletos negros que
habitam nos muros tuas mãos,
há pedacinhos de silêncio, pequenas
gotículas de solidão invisíveis ao meu olhar,
escrevo-te, escrevo-te sabendo que hoje
existe luar, e palavras impregnadas nos seus lábios,
e que... e que o amor morre, como eu,
como tu, como... como os rios antes de adormecerem,
sonharem...
liberto-me percebendo que às palavras
dar-lhe-ei o descanso eterno,
E que o meu envelhecido corpo, esse,
coitado... cinza,
dispersa,
voando sobre os imaginários telhados
de Luanda,
liberto-me,
sim, claro que sim... liberto-me dos
panfletos negros,
sombrios, nuvens de chocolate
mergulhadas em nocturnas estrelas sem pálpebras,
A cidade submerge da tua boca de
cristal puro,
o vidro dos teus olhos... parte-se... e
sinto-o descendo a calçada em direcção a uma rua sem saída,
uma penumbra fresca de água e estanho
embalsamam o teu corpo em papel vegetal,
e oiço a tua voz em pequenos
grunhidos...
como um calendário ardendo na fogueira
do desejo,
e dizem-me que estou em liberdade.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 17 de Março de 2014
domingo, 16 de março de 2014
Testemunhas de uma fogueira em evaporação
foto de: A&M ART and Photos
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Não sei quem és, como te vestes e o que
pronuncias, não sei se és um pássaro em decomposição, uma árvore
solitária que habita os jardins da cidade adormecida, tão pouco se
és a madrugada, o Domingo quase a terminar, a noite a nascer, não,
não sei o que és e quem tu és,
Como posso eu sorrir às tuas lágrimas? Percebes-me
agora? O Domingo em término, a noite quase noite, a crescer e a
erguer-se na tua boca de cristal, e quase não oiço as tuas palavras
de porcelana, e quase, a janela da paixão a encerrar-se eternamente,
para sempre e só..., hoje tu, amanhã eu, depois as pedras e os
canteiros, as flores, os pinheiros de uma infância entre o mar e a
montanha, sinto-me prensado, sinto-me um muro argamassado pela
tristeza,
Quem sou?
Não sei, nunca soube, talvez... talvez no Domingo
que vem, talvez amanhã, talvez no descanso das roldanas, uma corda
em direcção ao sexto andar, subo as escadas, sinto-me cansado, os
cigarros, a idade, a saudade, novamente os cigarros,
Oiço-os como testemunhas de uma fogueira em
evaporação,
Cigarros vadios, como-os vivos, oiço-te e não sei
Quem sou?
Sim, e tu, quem és, o que fazes aqui, aqui dentro
de mim?
Uma esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu
sem poemas para ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes
dentro de mim, deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que
algures nessa cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de
cartas, poucas palavras,
E eu, eu sem poemas para ti,
Quem sou?
O vento, sim o vento, pensas que eu sou o vento?
Sim, penso, imagino-te sentado na esplanada vazia, apenas uma mesa e
quatro cadeiras, conversas com duas ou três sombras, bebes uma
bebida invisível, pegas num livro, voltas a poisa-lo sobre a mesa,
depois vais à gabardina e puxas de um pequeno caderno, acendes o
cigarro, desorientadamente...
Quem sou?
O cigarro acende-se a ele próprio, ganha vida como
as tuas palavras, sofre e chora, e acredita na tristeza como acredita
que tu, sim tu
O vento!
Sim eu, percebo que me imagines como o vento quando
se alicerça na minha pele, sim como o vento, quando rodopia em redor
dos meus seios, e tu, e tu
Eu?
Oiço a voz, oiço-os a arder na escuridão de um
final de Domingo, amanhã, amanhã talvez..., amanhã talvez “uma
esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu sem poemas para
ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes dentro de mim,
deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que algures nessa
cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de cartas, poucas
palavras”, e eu, e... eu,
Só, eu e uma corda em direcção ao sexto andar...
E eu, eu sem poemas para ti,
Quem sou?
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Março de 2014
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