Poema de Francisco Luís Fontinha em
destaque – Sapo Angola – Blogue Cachimbo de Água.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
vivo inventando rosas
foto de: A&M ART and Photos
|
odeio-me por existirem dentro do meu
peito as palavras das encarnadas flores
vivo inventando rosas
amores
e chuva miudinha sobre as íngremes
rochas do mar da tristeza
sou um barco em fuga das conversas
loucas que iluminam os teus lábios de papagaio em papel
e sobes entre o Céu nocturno do desejo
e desces às catacumbas do silêncio
há em ti uma palavra prometida numa
tarde de Outono
e éramos crianças vestidas de negro
dançando sobre a mesa de um velho café
esquecendo as amarras Luas dos sótãos
clandestinos como divãs de areia
na mala de couro adormecido que a tua
mão saboreava
me levavas encarcerado até encontrares
os beijos das garças quando rompem o cacimbo embriagado pelo capim
dos poemas encalhados
distantes
doentes
húmidos
… teu corpo e teu vestido
sós simples abandonados... molhados
como saliva de sémen na clarabóia da insónia
o texto reflecte-se no espelho da
agonia
dorme
vomita
sangra das veias suicidadas as ardósias
com sabor a chocolate
e baunilha
terminas a noite voando sobre a cidade
dos anjos
entranhas-te em mim
és minha
como todos os livros que vivem na minha
algibeira,,,
imagino-te sentada no Rossio
vendando folhas de cartolina com
caracteres inanimados
mortos
imagino-te brincando em Cais do Sodré
correndo sobre os carris da paixão
escrevem-me e esqueço-me que deixaste
de pertencer aos meus sonhos
que deixaste de fabricar sorrisos nos
fósforos das manhãs embaciadas
ruas infinitas à volta de uma fogueira
de casas abandonadas
e... odeio-me por existirem dentro do
meu peito as palavras das encarnadas flores
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 2 de Outubro de 2013
Labels:
amor,
cacimbo,
Cais do Sodré,
capim,
chuva,
flores,
Lisboa,
mar,
paixão,
palavras,
poema,
Poesia,
Rossio,
solidão,
vida
Location:
5070 Alijó, Portugal
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Hoje perco-me de ti nos teus braços de hoje, e ontem...
As palavras, os sons... porque hoje o silêncio
mistura-se nas palavras por dizer e em trocados olhares, porque hoje,
hoje tudo parece adormecer como uma doce boneca de trapos nas mãos
de uma criança, e o céu, e o mar, e os sons... mergulham nas
esplanadas do abismo, comem poemas não escritos, e, e escondidos nas
clarabóias do nocturno beijo que as árvores de papel crepe deixam
cair sobre as tuas mãos de acrílico sobre tela
Há uma tempestade dentro do meu coração,
Cair sobre os charcos que vivem nos musseques de
ontem, e de hoje, e talvez amanhã, um sofrimento de capim grite
sobre os telhados de zinco
Há uma,
Sobre tela, o acrílico desejo em sons uivos dos
alicerces amaldiçoados pelos mabecos revoltados, embondeiros dormem
de pé esperando a chegada do silêncio e este mistura-se nas
palavras por dizer e em trocados olhares, porque hoje, hoje tudo
parece adormecer como uma boneca de trapos nos ramos feridos das
folhas mortas que vão caindo sobre o paralelepípedo castanho que as
sílabas de prata escrevem no caderno em pequenas despedidas,
Perco-me de ti nos teus braços de hoje, e ontem...
Havia uma tempestade dentro do meu coração, e
ontem
Eu era um cadáver em movimento curvilíneo,
suspenso por um cordel ao tecto das amendoeiras preguiçosas, sem
flor, caindo em pedaços apodrecidos sobre as paredes do amor
impossível, indesejado... do amor não vivido, do amor proibido, às
palavras, às linhas transversais das marés de Inverno...
(o cosseno de trinta graus é raiz de três sobre
dois)
Havia uma tempestade dentro do meu coração, e
ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma
tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma tempestade
dentro do meu coração, e ontem Havia uma tempestade dentro do meu
coração, e ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e
ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma
tempestade dentro do meu coração, e ontem,
Há uma,
Havia muitas...
As palavras, os sons... porque hoje o silêncio
mistura-se nas palavras por dizer e em trocados olhares, porque hoje,
Hoje perco-me de ti nos teus braços de hoje, e
ontem...
(o cosseno de trinta graus é raiz de três sobre
dois).
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 1 de Outubro de 2013
as areias movediças da insónia
foto de: A&M ART and Photos
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dormes sobre as areias movediças da
insónia
alimentas-te dos corpos flutuantes que
a morte absorve
nas tardes infinitas de Outono
dormes sobre a tempestade imaginada
pelo esqueleto de aço do beijo
e lá fora junto à lápide sinto o teu
nome reflectido no espelho da solidão
há borboletas no teu cabelo loiro que
as nuvens de algodão comem...
e da tua mão em papel cinzento... o
livro da paixão em pedaços de sofrimento na lareira de sémen
prateado das algibeiras clandestinas que as janelas de olhos vendados
sentem
gritam
choram...
adormeces no banco em madeira no
rés-do-chão de uma decrépita estação de comboios
voando sobre a cidade dos pássaros
voando...
e choram
gritam
e sentem
sentem as areias movediças da tristeza
dormes sobre o meu cansaço travestido
de areia movediça
e sinto-te entranhada no pólen da
minha pele ensanguentada pelas palavras parvas
absortas
lânguidas...
abstractas
palavras filhas das palavras parvas...
e dizem que o amor é impossível entre
sucata de carris
e carris sucata de barcos em Agosto
flor
oiço as tuas lágrimas como se elas
fossem letras semeadas na planície dos lençóis de linho
húmidos
voando...
e choram
gritam
e sentem
as alheias paredes de granito que
dividem os círculos azuis dos teus seios
em sons melódicos que um velho piano
bebe dos guindastes junto ao Tejo
e dizem que sou apenas uma sombra
e dizem que tu és uma lápide sobre o
meu peito...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 1 de Outubro de 2013
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
E... livres de sonhar...
E tudo o vento levou... ficaram as palavras em
revolta, contam estórias, cantam, gritam, amuam..., e
repentinamente, e em abraços de xisto, acordam os prisioneiros das
madrugadas sem horário, e tudo o vento levou, e deixou, e apenas,
só... a esperança de recomeçarmos, reaprendermos, sermos livres,
livres como as gaivotas de Maio.
Regressaram as palavras, e as nuvens são de
prata...
Somos livres como a seiva das árvores descendo o
corpo do amor, somos livres como os calções de chita e a t-shirt
branca com sabor a tristeza, regressaram as palavras, ainda são
poucas, ou nenhumas..., e tudo o vento levou, e tudo na fogueira da
vaidade ardeu como arderam os manuscritos de Gogol, somos livres pois
então, e brevemente, regressarão todas as palavras roubadas aos
sonhos inventados por uma criança dançando num baloiço de cordas,
brevemente, são de prata, as palavras e as bocas que gritam as
palavras...
E apenas a tua mão no cais à minha espera;
regressei, voltei para os teus braços... para novamente sermos
livres, de escrever
Amar?
E... livres de sonhar...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
era Domingo
foto de: A&M ART and Photos
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voávamos sobre as espigas cremadas do
centeio
e era Domingo
e... sentíamos nas asas o perfume da
madrugada
voávamos conforme tínhamos combinado
na véspera da tempestade de areia
sentíamos no rosto as lâminas de
xisto impregnado na pele doirada dos nossos corpos de açúcar
e da água víamos-nos desaparecer no
cesto de papeis junto à escrivaninha embriagada
bebíamos licor de amêndoa como se
dentro dos pequenos cálices de cristal
houve uma árvore com braços de prata
uma árvore recheada de pássaros
barcos
e montículos de areia
com sabor a insónia
amávamos as raízes escondidas nos
túneis nocturnos das lâmpadas em flor
e era Domingo
e
e... voávamos nas encostas íngremes
do silêncio
da boca rasgada do amanhecer ouvíamos
os gemidos enlouquecidos dos mabecos adormecidos
e corríamos em direcção ao mar
e dormíamos sobre um cobertor de
poesia
papeis voavam sobre o teu rosto de
sílaba apaixonada
e das teclas de escrever que poisavam
na tua fina mão de cerâmica
os sons metódicos de um máquina
engasgada nas janelas de orvalho
descíamos as escadas do inferno...
e sabíamos que nunca mais ouviríamos
as perdizes cinzentas nos corredores do desejo
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 30 de Setembro de 2013
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