foto; A&M ART and Photos
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Via a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a em
pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei
É o fim, o eterno fim,
As nuvens tristes, prontas a comerem-me,
saborearem-se com a minha carne em cadáver, como o fazem os abutres
(aves e humanos), das poucas gotas de chuvas que sobejavam dos lobos
dispersos pela montanha, ainda coberta pela neve do Inverno, havia
um que me chamou à atenção, e de tão distraído que sou, só
depois de o observar, uma, duas, três... talvez quatro vezes,
percebi que ele trazia na lapela uma folha de papel com um desenho
ilegível, perguntei-lhe
Querido lobo, que desenho é esse?
Cerra os olhos, finge que eu sou uma pedra, um
arbusto ou pior, que eu não existo, deu meia volta e desapareceu
entre os outros companheiros, como quem foge do silêncio quando as
palavras apenas servem para interromperem a noite, desviarem todas as
estrelas dos espelhos côncavos das cidades sem rios, e
Querido lobo, que desenho é esse?
Se possível, mesmo antes de acordar a manhã, fazer
com que todas as lâmpadas da cidade se apaguem, como os corpos
putrefacto, dentro de um congelador gigante, numa qualquer morgue,
onde existe sempre uma flor não identificada, à espera, que
desespera a chegada de um abutre, e assim, aliviar todo o sofrimento
dos corpos sem cabeça, sem braços, sem leme que seja possível
prosseguir viagem,
Há uma lenda que alimenta desde os primórdios os
mosquitos de asa tricolor, e sobre o fino prato de sopa,
infelizmente, apenas só, em permanente solidão, que como o corpo
putrefacto, espera e desespera pela chegada..., neste caso da dita
sopa, não do abutre (ave ou homem), apetecia-me ouvir POP DEL ARTE,
e como teimoso que ele é
Acredito,
Acreditar, porque não? Até prova em contrário,
todo o réu é inocente, como assim?
Acredito, eu acredito,
E como teimoso que ele é, acredito que passe o
resto da noite a ouvir POP DEL ARTE, depois, depois pegará num livro
de poemas de AL Berto, entre um poema ou três no máximo,
deliciar-se-á como um pássaro a atravessar o Oceano, lê os poemas,
ouve a música, adormece suavemente como
“Vi a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a
em pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei
É o fim, o eterno fim,”
Como se tudo em si fosse um misero sono dentro da
cabeça de um mosquito com asas tricolores, dentro de um prato de
sopa, sem sopa, como à janela da solidão, e o desgraçado do lobo,
até hoje, nunca me saciou a curiosidade e me contou o significado do
desenho ilegível que trazia na lapela...
É o fim?
Eu, acredito, acredito que não..., vi a terra
desaparecer dos meus olhos, sentia-a em pedaços de vapor a todo o
comprimento do meu corpo, e pensei
Vi o céu a desaparecer, e pensei
Vi, e pensei...
Hoje, POP DEL ARTE e AL Berto, porque não?
Acreditar...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha