Para si sou apenas uma invisível
árvore de papel
sentada numa pedra triangular
para si sou apenas uma sombra
uma alma penada
uma voz a agonizar
para si sou um barquinho à deriva no
mar
com sílabas de espuma
e pálpebras de prata
não sabendo que do amor
vem a claridade das plumas cintilações
dos seus abraços clandestinos
para si eu desfaleço como as palavras
de ontem
quando o vento entrou no seu peito de
acácias e levou o que me pertencia,
Para si sou apenas um corpo em agonia
uma flor cansada
que a madrugada cuspiu contra as
amaldiçoadas manhãs de inferno
porque você está ausente
ou
porque
para si sou um pedinte um fantasma um
palhaço de circo
embrulhado nas palavras ricas
escritas
pelos palhaços empobrecidos
desamados
todos os dias começados por coxas
recheadas em versos complexos,
A cidade que é a sua cidade
dos seus lábios de onde eu oiço os
gemidos de gelo
que a noite semeia nas clarabóias
palavras que o mar afoga
para si eu não sei o que possa ser
não sou uma árvore porque você
detesta as árvores
não sou um pássaro porque você odeia
os coitados dos pássaros
pergunto-lhe – O que sou eu para si
senhora minha amada?
Talvez um relógio a pilhas
nos braços de uma extinta voz que a
sua cidade escondeu
Talvez um buraco nego em soluços
depois de comer um hipercubo
pergunto-lhe - O que sou eu para si
senhora minha amada?
(fios
fios de música entrelaçados nas
janelas do abismo)
indesejadamente eu pertencendo à sua
lista do desprezo monótono das suas noites a preto e branco.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó