Escondo-me
nesta cidade de sombras, vou à janela e oiço o fogo das imagens prateadas no
corpo inabitado, preciso de ver o mar, os barcos, os corações acorrentados à
geada, escondo-me
-
Acordei nas alegres palavras do silêncio folheando fotografias embainhadas nas
bocas sonolentas da madrugada, fui ao espelho, do meu esqueleto saltitou a
paixão, percebi que o amor… é uma estrada infinita,
No
cais assombrado pelas palavras, sinto o cigarro do meu sonho, escrevo pensando
que o sono é um espelho de algas finas, frágeis, quebradiças quando da
tempestade,
-
Então pá?
Nada,
Amanhã
o perfumado piloto da minha jangada,
-
Então pá?
Não
o sei, tinha na mão a sangrenta visão das serpentes da noite, sabia o meu nome,
percebia que eu era apenas uma pedra em granito, frio, cansado das horas
travestidas de medo e lágrimas, cinco minutos debaixo de uma árvore que aos poucos
fui travando amizade, hoje
-
Uma amiga vestida no Verão e nua no Inverno, são assim, as árvores do meu
jardim, belas, fingidas de verde correndo os Musseques da forca,
Hoje,
Musseques da forca, ruas enganadas pelo Tejo, recordo os Cacilheiro de lábios
pintados e de mini-saia, e eu…
Escondo-me,
Parto
para o sofrimento andaime das flores gigantes, a loucura encurralada nas ruas
de Lisboa, ela ama-me
-
Areia fina, rochedos cinzentos afagados nos meus braços, desço a Calçada,
encontro-te na infinita poesia da manhã, o café recheado de promessas, amo-te,
Os
amigos ao longe, olhavam-me, fotografavam-me com as mãos calejadas da velha
espingarda com balas de papel, ria-me, chorava, perdia-me
-
No teu corpo, entardecia nos teus seios,
Então
pá?
Desciam
as nuvens sobre o teu cabelo, escondia-me nas tuas coxas, e nem tu, e nem eu, sabíamos
que um dia chegaria a saudade, então, pá?
Nada,
No
teu corpo, a prisão inventada por um louco verdadeiro, como o circo, eu sobre
um arame invisível, corria, agachava-me nos teus lábios, as estrelas, as ruas,
as casas, as “putas dentro das casas”… Então, pá?
Todos
os vidros da janela do amor entre beijos na estrada infinita…
-
Então, pá?
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Sábado,
1 de Agosto de 2015