quarta-feira, 29 de julho de 2015

O fingidor de sonhos


Tenho asas nas pálpebras

Sou o solitário viajante das noites infinitas

Oiço a madrugada embrulhada em pedaços de lágrimas

E das palavras que incessantemente te escrevi

Já não preciso delas

Nem dos livros

Fotografias

Nada assim

Tenho nas mãos os secretos beijos dos teus lábios

Tenho no olhar a tua boca sonolenta

Em queda livre

Em direcção à cidade

Finjo que amanhã será um novo dia

Estará sol

E vão nascer nos teus braços tristes cordas de nylon

Transformar-te-ás num barco de papel

Sem bandeira

Comandante…

Nem precisarás de marinheiros

Ou vento para desceres a montanha da saudade

Imagino-te voando como as gaivotas sobre o Tejo

Sentava-me e fumava cigarros doentios

Depois escrevia num caderno o número de petroleiros contra o desassossego

Traziam a dor

E os movimentos pendulares do sonho

Tenho nas pálpebras

As asas

Que a madrugada há-de afogar nos Oceanos

Que a manhã há-de levar na algibeira

Para a outra margem

Fotografias

Em queda livre

Livre…

Como o luar dos amanheceres em vidro

Fusco

Cortinados abandonados numa janela sem sorriso

Fusco

Finjo…

Que tenho asas nas pálpebras.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 29 de Julho de 2015

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