sexta-feira, 2 de agosto de 2013

como o mar amar os lábios da paixão

foto de: A&M ART and Photos

dois viajantes vagueando sobre o silêncio da noite
comendo pétalas de chocolate embrulhadas em poemas desejo
como o mar
amar os lábios da paixão
quando estrelas dançam nos teus cabelos de porcelana,

dois viajantes apaixonados nas palavras invisíveis
folheadas pelas mãos tuas em desenhos sonhos amanhecer
comendo-me
comendo-te...
dois simples braços e mãos... entrelaçadas na alvorada,

o corpo arde na tela da insónia como acrílico sombreado das nuvens embriagadas
sobre mesas e cadeiras
sobre ti e sobre mim
o corpo
o teu corpo rodopiando ao som da garganta de um relógio de parede,

sonolento os olhos teus dançando nos versos da manhã
o medo entranha-se-te nos dedos sisudos
e a melancolia absorve-te as pálpebras encarnadas que o Sol esconde
e alimenta comendo-te
comendo-me... sem saber que éramos de brincar...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Desejava-te loucamente como versos brincando numa calçada de Lisboa

foto de: A&M ART and Photos

Embalavas o teu alegre piano como se ele fosse o teu próprio filho, abraçavas-lo e embrulhava-lo com os braços pendentes de caules verdejantes como as lâmpadas que a noite inventa nos teus olhos, ouvíamos-te longamente sentada num pequeno banco alegremente feliz, sentavas-te nele, rodavas o tronco e a cabeça, esticavas os longos dedos de porcelana... e saíam das tuas mãos os mais lindos melódicos sons,
Chamo-te A Pianista, sem o saber, sem sequer perceber se realmente sabes tocar piano, se realmente... algum dia tocaste com os teus dedos em algum, se realmente algum dia acariciaste algum, e sabes? Não o sei, talvez nunca tenhas tocado piano, talvez nunca tenhas adormecido ou acariciado algum piano, mas eu, eu imagino-te sentada num banco simples, feliz, voando dentro da sala de estar,
Ela vagueando como corpo sobre as teclas húmidas do piano em voz poética quando das manhãs ouvíamos-te saltitar entre os ramos cerâmicos dos teus abraços cúbicos nas equações complexas dos sons invisíveis do corpo teu piano..., havíamos inventado as janelas com vista para o mar, embalavas o teu alegre piano como se ele fosse o teu próprio filho, feliz, descendente do Sol, filho da nuvem cinzenta e da gotícula número mil quinhentos e vinte e três, gostava de ti, nua, sobre o teclado em tons de negro, descia sobre ti a tempestade, o ciúme, descia sobre ti o medo, e tu, rosa bravia, caminhas desordenadamente junto ao desejo, olhavas-nos, e sabíamos que nos teus olhos
Chamava-te A Pianista, sem o saber, sem sequer perceber se realmente sabes tocar piano, se realmente..., os teus olhos, vagabundos, escrevias nas pálpebras as notas musicais, deixavas adormecer nas tuas mãos os tão desejados silêncios dos beijos ainda não acordados, dormias, nua, eu, eu fumava desalmadamente cigarros que me cerravam os meus olhos, deixava-te de ver, apenas um sombreado ténue realçada o teu corpo deambulando entre o travesseiro e a cabeceira da cama, os teus cabelos soltos pelo imenso areal, a areia branca, silenciosa, e quando acordavas
Olá sisudo,
E quando acordavas, se ele fosse o teu próprio filho, feliz, descendente do Sol, filho da nuvem cinzenta e da gotícula número mil quinhentos e vinte e três, gostava de ti, nua, sobre o teclado em tons de negro, descia sobre ti a tempestade, o ciúme, descia sobre ti o medo, e tu, rosa bravia, caminhas desordenadamente junto ao desejo, tu vestida de desejo, e sentia-te nas minhas mãos antes de entrarmos mar adentro, o teu silencioso piano, o teu invisível teclado ténue...
Olá sisudo
Ténue como os teus dedos, ténue como os teus soltos cabelos escrevendo poemas sobre as rochas desassossegadas das palavras abelha que voavam debaixo dos velhos plátanos, deitada, tu, tu não propriamente, deitado o teu corpo, eu, eu fumava desalmadamente para não te ver, porque quando te via, eu, eu desejava-te loucamente como versos brincando numa calçada de Lisboa, ouvia, ouvíamos-te os sussurros sonhos,
Sisudo,
E a noite entrava nos teus mamilos cor de chocolate, uma borboleta poisava como se de uma folha de papel se tratasse, e sabíamos que não era uma folha de papel qualquer, e sabíamos que a noite não era uma noite qualquer, e sabíamos que o teu piano dançava no corredor entre o teu quarto e a casa de banho, e a borboleta que não era borboleta, mas apenas a imagem reflectida num espelho de uma folha de papel, a mesma
Sisudo,
A mesma folha de papel onde escondias as notas musicais, a mesma onde escondias o meus lábios e me proibias de te beijar, e era nessa mesma folha de papel onde guardavas as minhas mãos, para que eu, para que eu não te acariciasse o teu copo sonolento com sabor a melódicos sons e a poéticos suspiros, e os teus lábios acabavam, já de madrugada, por morderem-me o meu pescoço e o meu peito,
Sisudo eu, sisudo eu,
E fumava desalmadamente para não te morder os lábios e os teus seios poisados sobre o teclado sombreado de um piano, de um piano, que nunca ninguém viu, que ninguém sabe a idade, nome, ou a localidade onde habita, mas sinto-o, mas sinto-te na minha cama debaixo dos meus lençóis...

(não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Lágrimas?

foto de: A&M ART and Photos

O comboio sonolento deserta e foge dos carris lençóis de água que embrulham as mãos das locomotivas embriagadas, algumas tombadas como crianças depois de descer a tempestade sobre os telhados de vidro que cobrem os cobertores da inocência,
Farto-me de mim, farto-me deles, delas, farto-me das palavras e dos pequenos grandes voos de areia sobre as árvores invisíveis,
Farto-me do silêncio disfarçado de sofrimento, farto-me deste (sofrimento) quando se veste de insónia e rompe noite adentro, deita-se sobre mim, como se eu fosse um corpo prostituto, camuflado, como se eu fosse uma personagem sem nome, idade desconhecida, uma personagem sofrida, comestível, comiam-me se eu deixasse..., e os palhaços de porcelana sombreados na janela das estações com paragem obrigatória, bebíamos vodka pensando que eram melódicas palavras abraçadas a poéticos lábios de sémen,
O comestível comboio com rodas de algodão...
Nascia o poema, o amor, a paixão, nascia o corpo, o teu corpo vagão carruagem correndo léguas de searas com espantalhos vestidos de palheiro solitário, choravas, choravam, gritavam, gritavas, gemias, gemiam... e acabavam sempre por regressar ao Tejo, rio acima, comíamos a ponte de aço, fumávamos os cigarros com sabor a dunas de areia esbranquiçada, alimentávamos-nos de suor e carícias desenhadas pelas mãos calejadas dos homens e das mulheres filhas e filhos, dos socalcos, olhando, brincando, sei lá... o rio que só termina na cidade com pronúncia do norte,
O comestível comboio com rodas de algodão..., e silêncios de medo,
E
Amanhã não saberás o meu nome, levantar-te-ás, vais à janela e vais perceber que o rio, o rio sou eu..., eu, e
Lágrimas?
E os barcos, sim, também sou os barcos, de papel, de esferovite... os barcos em madeira, eu, levantar-te-ás... olharás os meus olhos
E
(não te conheço)
E lágrimas, e nada, e escuridão dentro das algibeiras dos anzóis comestíveis... e eu? Eu, eu e lágrimas, e tréguas, de silêncios, de medos, de janelas encerradas e de esplanadas como vodka derramada sobre o teu corpo de amêndoa,
Amar-me-ás?
(não te conheço)
Não,
Não sei se...
E
Amanhã não saberás o meu nome, levantar-te-ás, vais à janela e vais perceber que o rio, o rio sou eu..., eu, e
Lágrimas?
Navegáveis mãos as milhas nos teus seios de madrugada, cabelos embebidos no vento da paixão, zangado, eu? Navegáveis mãos, preciosos palheiros guardando as sementes do teu púbis que o triste pôr-do-sol inventa nas tuas coxas, e
Quem és, tu, mulher de tecido marinho?
E
(não te conheço)
Amar-me-ás? Nunca o saberei..., (como se eu fosse uma personagem sem nome, idade desconhecida, uma personagem sofrida, comestível, comiam-me se eu deixasse..., e os palhaços de porcelana sombreados na janela das estações com paragem obrigatória, bebíamos vodka pensando que eram melódicas palavras abraçadas a poéticos lábios de sémen),
E apenas sou um barco, e apenas sou um rio... um rio sem nome, idade... com paragem obrigatória, bebíamos vodka pensando que eram melódicas palavras abraçadas a poéticos lábios de sémen, Amanhã não saberás o meu nome, levantar-te-ás, vais à janela e vais perceber que o rio, o rio sou eu..., eu, e
Lágrimas?

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha

Vivendo inventando corações de vidro

foto de: A&M ART and Photos

Vivia inventando vida numa rocha de míseros metros quadrados
sentava-me sem encontrar espaço para poisar a cabeça
entrelaçava as mãos
pegava na caneta...

vivia inventando amigos e amigas namorados e namoradas
vivia dizia ele
como um vagabundo de vela ao vento
mergulhando em marés de vidro
descendo às profundezas das palavras
vivia amando inventando o amor
e a paixão
vivia inventando a vida
e rochas
de míseros metros quadrados
sem janelas
sem telhados

vivia eu percebendo que era outro eu
e rochas
e a paixão dos borrões de tinta sisuda semeada sobre o tabuleiro das sementes
vivia-se inventando o amor gélido das tardes de Domingo...
e rochas
quadrados espaços como os olhos da neblina
sobrevoando as sandálias do menino envenenado pela saudade...
e pelas gaivotas de papel.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A pianista

Foto de: A&M ART and Photos

O silêncio, vestido, o silêncio das palavras mergulhadas nas ínfimas gotículas de insónia, um olhar, uma cena construída nas cavernas da montanha adormecida, o poema redefine-se, vive, e parte em direcção ao mar..., os olhos fixam-se na parede húmida da escuridão, o silêncio absorve a musicalidade de um piano de cauda, as mãos finas e longas, entrelaçam-se e distribuem-se no teclado negro com sorrisos brancos, a pianista sorri, e tem nos olhos a alvorada das notas musicais, a pianista é como um livro na mão do poeta, manuseada, folheada... e acariciada, a pianista em lágrimas de desejo, voa sobre o palco inventado com um pequeno banco em madeira, há aplausos, há beijos nos lábios da pianista, e o poeta sussurra-lhe ao ouvido
Desejo-te como és, de mãos finas e longas perdidas nas manhãs de Primavera,
Ao ouvido (Amo-te?) amará o poeta a pianista misteriosa? Estará o poeta louco? E a pianista... será uma árvore com olhos verdes? Azuis? Descoloridos? Emagrecidos...
Como? Como serão os olhos da pianista?
Desejo-te (Amo-te) sussurra-lhe o poeta em duodécimos sons das palavras com sabor a gotículas de suor, o corpo permanece sentado e o piano, e o piano toca-se e masturba-se nas mãos da pianista, há um espelho, há pássaros, há...
Mendigos pássaros, loucos, loucos silêncios, vestidos, os silêncios das palavras mergulhadas em ti, nas ínfimas gotículas de insónia, não dormes, sonhas? Pensas num corpo sobre o teu, imune, vagueando como mórbidas Sereias no fundo do mar, sentindo, tu, entre o piano e o cortinado de fumo, os cigarros movem-se como carnívoras plantas em vasos de porcelana, desejas o desejo e tens medo de desejar,
Há,
Há pássaros em ti, voando, brincando, há pássaros nos teus cabelos de ébano cristalino, a tua boca, a tua doce boca, silencia-se na minha, permanece imóvel, ausente... e dorme, dorme como uma criança depois do almoço, da tua doce boca os lábios peregrinos começando as desvairadas lâmpadas de néon...,
Medo de desejares, medo de amares, há uma janela com vidros de pólen estacionada junto ao teu piano, ama-lo? Pareces cansada, triste, desiludida..., como eu, o poeta prisioneiro nas mãos da pianista, como eu, o poeta estátua, imóvel, nu, tu, numa cama embrulhada em livros e discos de vinil, uma cama camuflada no sofrimento da cidade, há
Como mórbidas Sereias no fundo do mar, sentindo, tu, entre o piano e o cortinado de fumo, os cigarros movem-se como carnívoras plantas em vasos de porcelana, desejas o desejo e tens medo de desejar, há em ti de mim... coisas desconhecidas, palavras não ditas, por escrever, doidas, doidas como os sons que das tuas mãos vomitam melodias de madrugada menina, vaidosa, alegre, como tu, menina, menina dos mimos, menina...
Há,
Há pássaros e pianos, há árvores e gaivotas, há poetas e livros,
Diz-me tu, o que escolherias?
Diz-me tu, como são os teus lábios quando sentes o invisível desejo do piano vagabundo descer a calçada em direcção ao rio,
Diz-me, diz-me tu..., menina do piano com graníticas pautas de oiro...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Ausente sisudo

foto de: A&M ART and Photos

Sisudo complexado como um piano
triste
velho
desafinado,

Eu um transeunte indefinido correndo calçadas
bebendo palavras
eu
como tu
mergulhando em lençóis de prazer,

Sisudo tu...
sisudo eu?

Foges
escondes-te nas amarras rochas de arroz
cerras os lábios
e colocas em volta do coração uma corrente de aço...
uma âncora de sofrimento embebida em sílabas
foges
sisudo tu...
sisudo?

Inventas-te inventando-me nas paredes da tua solidão
pareces um barco com asas de gaivota
uma menina saltando à corda junto às amoreiras em flor...
… sisudo eu
carrancudo perdido como pedra de ruela
varanda com vista para o Oceano petroleiro da vida...
inventando tu o amor
foges
escondes-te das flores e da miudinha chuva sobre a madrugada...
foges
sisudo tu...
sisudo?

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Perfeito (diz ela)

foto de: A&M ART and Photos

Ossos vestidos de desejo adormecido
canções do mar
perdidamente sós sobre os pilares invisíveis da alvorada
e os teus olhos mergulhados em palavras papel...
e os teus olhos correndo a calçada das desgraçadas pedras de solidão
tristes
cansadas
ossos os teus e os meus
amargurados como pincéis embebidos em beijos de amar...
sonhos teus entre os sorrisos navegar
ossos vestidos de desejo
desejando-te na escuridão noite do prazer...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 30 de julho de 2013

Nua voando sobre os lençóis da alvorada

foto de: A&M ART and Photos

imagino-te sentada numa rocha, nua, cansada, despida... imagino-te, nua, triste, alegre, vadia... correndo sobre o mar, imagino-te, Mulher do mar, veneno, palavras não escritas, nas mendigas folhas de papel, imagino-te, nua... nua voando sobre os lençóis da alvorada, um anjo com asas de vidro e lábios de cristal, a preciosa mulher do mar, a mulher do verdadeiro amar..., como as árvores de porcelana vagueando sobre os cabelos nocturnos da alvorada, saciando o teu desejo, construindo em ti os prazeres infinitos das equações diferenciais,
Triplas integrais correndo sobre o rio agoniado,
Sentávamos-nos um sobre o outro, brincávamos como artistas plásticos desenhando corpos invisíveis nas clarabóias do imaginário sofrimento, gemias, uivos e pingos de suor como pássaros vaiados nas manifestações do amor,
Equações dos mamilos heterogéneos como sílabas de cansaço, teus braços nos meus braços, teus lábios nos meus lábios..., tu dentro de mim, assim, uma rocha recheada de sémen, uma lâmina de luar deitado na varanda virada para o rio, ao longe, o petroleiro esquecido procurando anzóis envenenados e pequenas migalhas de ferrugem, saciar-me de ti como tu sem dizes,
Existo, e sou mulher,
O que é ser feliz?
Imagino-te sentada sobre mim, imagino-te em trapézios de mãos entrelaçadas, fugindo, correndo, escondendo-se..., imagino-te, assim, nua, em mim, imagino-te sendo o mar vestido de gaivotas com sorriso encarnado, o pôr-do-sol, ou...
Existo, e sou mulher, existo e preciso de prazer, de ser acariciada, e amada, simplesmente como são as flores, e as abelhas, e os poemas esquecidos sobre a mesa-de-cabeceira, escritos para ti, poemas, palavras embriagadas, estonteantes, palavras mendigas, vagabundeando a cidade amaldiçoada, imagino-te amada, mal amada, imagino-te só... enrolada no travesseiro, embrulhada nos lençóis de seda com nuvens verdejantes, triplas integrais correndo sobre o rio agoniado, barcos e barcaças e velhos cacilheiros, vomitando, agoniados, frases de paixão adormecida, peixes comendo algas, as tuas algas, e tu, sobre mim
Nua, recheada de sémen e incenso, em tridimensionais desenhos, cubos olho-te e de nua nada tens, olho-te e de integral... apenas o símbolo, escorrendo da tua boca como saliva, como ninguém,
Existo, e sou mulher,
O que é ser feliz?
E lábios de cristal, a preciosa mulher do mar, a mulher do verdadeiro amar..., como as árvores de porcelana vagueando sobre os cabelos nocturnos da alvorada, saciando o teu desejo, construindo em ti os prazeres infinitos das equações diferenciais,
Triplas integrais correndo sobre o rio agoniado, vogais suicidadas no mural da felicidade, vejo-te e sinto-te, dentro de mim, nua, apenas em esqueleto de desejo como melódicas canções de amor, imagino-te, imagino-te... imagino-te,
Chorando, rindo, sonhando, imagino-te..., imagino-te sentada numa rocha, nua, cansada, despida... imagino-te, nua, triste, alegre, vadia... correndo sobre o mar...
Nua, dentro de mim, cambaleando como tempestades de areia...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Mulher do mar

foto de: A&M ART and Photos

Cortas em fatias douradas a triste madrugada
corre em ti sonâmbula um rio nas linhas de aço do amanhecer
cortas as nuvens silvestres percebendo-se nelas as cansadas manhãs de solidão...
carnívoras palavras alimentam-se de ti
e em ti
comestíveis poemas sobre as velhas searas adormecidas,

Entranhas-te no meu peito fumegante em cinzas invisíveis dos cigarros vegetais
amar-te-ei como o mar que engole silêncios de velhos barcos enferrujados
inscritos em ti os últimos desejos da noite com sabor a ébano das montanhas de espuma
entranhas-te como a água salgada nas rochas da solidão...
e em ti
de ti... o sabor da tua língua procurando os milímetros quadrados dos meus braços,

Saborear-te ensanguentada de gemidos uivos e pequenas gotículas de suor
o odor embriagado dos teus seios que sobejaram das tempestades de areia
os vómitos das pequenas árvores abandonadas
sobre o oceano desencanto navegável...
não esqueço os desenhos em prata
que dos teus mamilos voam sobre a cidade do amor...

Desenhar-te como um rio vagabundo
indomável como eu correndo sobre as calçadas de granito sapateado...
sou como tu eu nu
invisível saborear-te em pedaços papel amarrotado com chocolate
desencanto desenhar-te não percorrendo com os meus dedos
o corpo teu que tu inventaste para mim...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Palavras do ser

foto de: A&M ART and Photos

O corpo viciado em pequenos pedaços de espuma, mergulha, flutua..., o corpo sensível e volátil, voa, voa livremente sobre as acácias em flor, o corpo viciado em poema, disfarçado de personagem imaginária, o corpo vivo, do prazer, ao sonho, como um livro, um livro recheado com palavras, desenhos... um livro teu corpo de ler,

Define paixão!
Define… definição
Corpo
Coração,

Define amor!
Define… definição
Corpo
Canção,

Define madrugada!
Define… definição
Criança
Zangada,

Define flor!
Define… definição
Mulher
Dor,

Define prazer!
Define… definição
Sexo
Escrever.

O corpo mergulha, transpira, vive, vive como uma sílaba embebida numa simples folha em papel de parede, o espelho, a vida, o corpo que é o teu, simples, complexidade, circular, cúbico, os teus olhos, mergulhas, és esfinge, és literatura, espuma, mar, o corpo teu que voa, que tem asas, tua, minha, deles... destruída, a paisagem, tua, como uma janela despedaçada, húmida, partida, forçada..., tua, Tua..., um corpo e uma parede, nua, mergulha, cintila, e as pálpebras ao rubro, o desejo percorre as mandíbulas da rua,
Nua, tu, tua, o corpo, o teu, aquele que alimenta os espelhos, aquele que acompanha a Primavera, aquele que embrulha os tristes lençóis de seda, aquele teu corpo de ler, invisível, como as palavras nele, como as palavras nele escritas, desenhadas, premeditadas...
O corpo, o teu belo corpo em cerâmica e pintado com os dedos finos às lâminas da mão do prazer, uivos, gritos, gemidos, pedras partidos vidros, o corpo, teu corpo de ser...
Escrever,
Sexo?
Quando a mulher existe, quando a mulher se transforma em pedra anelar, em Lua, luar..., em planeta, foguetão, em astronauta, quando o corpo da mulher submerge até ao infinito cubo silêncio dos pássaros vadios, rebeldes, como tu, em teu corpo, simples, de palavras, as palavras do ser...

(não Revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó