foto: A&M ART and Photos
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Imagens, solstícios de imagens descem metodicamente
do tecto do impostor prazer que a luz provoca nos corpos negros,
absorvidos pelos espelhos e pelos cortinados de espuma, onde te
ajoelhas, onde te deitas, onde
(me masturbo)
Imersas minhas mãos nos solavancos que os vidros de
areia escrevem nas paredes de barro depois das chuvas dos finais de
tarde, lamento informá-lo mas
(ela morreu de tédio, desassossego, ou)
Mas ficou-nos sobre a mesa-de-cabeceira as fingidas
pétalas dos perfumes embriagadas depois de caírem sobre as lajes de
granito os melancólicos ossos da paixão dos peixes, havíamos
construído e declarado guerra aos apaixonados cansaços vestidos de
sobretudo encarnado, circulavam pela cidade, durante a noite, em
busca de imagens, comida e simples jornais desvairados que alguém
tinha deixado nos caixotes do lixo, um dos títulos anunciava a
possibilidade da queda do governo, e se ele cair, que caia, mas que
não se aleije, salvo seja, senhores das imagens que entram pelos
meus olhos, eu nua, eu com uma câmara fotográfica em busca de um
passado desperdiçado nas clareiras águas salgadas das praias com
varanda para as traseiras, íamos à janela, e suspendíamos os seios
no peitoril cinzento com saliva esverdeada, perguntávamos-lhe o que
tinha, e ela respondia-nos
Fígado,
(ela morreu de tédio, desassossego, ou)
(me masturbo)
Imagens, muitas, loucas e loucos, como as árvores
do Outono mergulhadas em rochas de iodo, e tédio, e cansaço...
todos, temos, lamento informá-lo mas... cessaram as imagens a
preto-e-branco, e se eles caírem, paciência, uns vão dizer que
vamos melhorar, outros que nada mudará, eu nem sei o que lhe dizer
Dona Menina Amélia... olhe
Seja o que Deus quiser,
E se ele não quiser, paciência, venham as imagens
esquecidas, venham os bancos de jardim com ripas de madeira, venham
eles e elas, todos e todas, a luz e a escuridão, o silêncio e a
algazarra, o branco e o negro, e as pedras, e
(os barcos de papel com melodias entrelaçadas nos
dedos)
E as flores, todas as flores, não falando nas
algibeiras com a laje apodrecida, as moedas, poucas, caem até se
estatelarem na cave, sombria, e sem janelas e sem abraços, coitadas,
infelizes, aqueles e aquelas, pobres miúdos de porcelana com sorriso
de nuvem embebida no sono longínquo das amendoeiras em flor, e se
eles caírem?
(Imagens, muitas, loucas e loucos, como as árvores
do Outono mergulhadas em rochas de iodo, e tédio, e cansaço...
todos, temos, lamento informá-lo mas... cessaram as imagens a
preto-e-branco, e se eles caírem, paciência, uns vão dizer que
vamos melhorar, outros que nada mudará, eu nem sei o que lhe dizer
Dona Menina Amélia... olhe), um dia perceberás a minha cabeça, um
dia perceberás que sou tão normal como todas as outras pessoas que
circulam à nossa volta, como são as moscas, como são as abelhas,
como são todas as imagens, e todas as palavras
Normais,
Sou normal como qualquer árvore do jardim de
Luanda, ou como qualquer machimbombo ou como o Mussulo, normal, sou,
como a estrada para o Grafanil, ou
Normais,
Ou o cheiro da terra depois da chuva, e um dia, um
dia perceberás que apenas a mulher da máquina fotográfica, essa
sim, louca como os comboios em direcção ao Tua
(pare, escute, olhe... atenção aos comboios)
Proibido fumar, peço desculpe PROIBIDO O TRÂNSITO
PELA LINHA,
E o Tua morto,
É como lhe digo Dona Menina Amélia, se cair
Caiu como vão cair os finos fios de luz das
mandíbulas empobrecidas, loucas, loucas, loucas como uma montanha de
areia, com braços de aço e olhos de plástico, simplesmente, se
caírem que não o façam sobre mim,
(É como lhe digo Dona Menina Amélia, se cair)
O importante são as imagens, e por muito que eu o
descreva, acredite em mim, só vendo, consegue vossemecê imaginar
uma mulher nua dentro de um quarto escura a fotografar sombras? E
junto à mulher um escadote com acesso ao infinito? Consegue?
É claro que não, Fígado,
(ela morreu de tédio, desassossego, ou)
(me masturbo),
Ou por falta de luz...
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha