Navego
nos teus alicerces de prata,
Sinto
o término do dia, é triste, meu amor, a despedida da luz vadia…
Quando
tenho nos braços o cansaço da solidão, meu amor,
Navego
sem destino, desorientado, sem leme… nem rumo certo,
Trago
no peito a lança cravada pela noite, meia-noite aqui, meu amor,
E
das sanzalas de veludo o cheiro dos meninos brincando na areia…
A
prezada manhã enraivecida pelo tédio, o sol distante de nós,
E
lá ao fundo os barcos de papel…
Navego
nos teus alicerces de prata,
Sonâmbulo
nocturno das cavernas,
E
dos pequeninos charcos de incenso… voando em direcção ao rio.
Escrevo-te
todos os dias, minha sombra de parede,
Olho-te
no espelho da tarde, e sabes, meu amor, amanhã mais um dia de tristeza,
Carregado
de sangue nas algibeiras da coragem,
Amanhã,
meu amor, amanhã entras pela janela e correrás dentro de mim…
Líquido
da madrugada, fantasma da alvorada…
Navego,
Acesso
ao teu coração…, e observo um cadáver de lata lutando contra um braço de mar…
Esperança,
a distância dos perfumados destinos, assim, assassinados pelo tempo, escuro,
deserto, e áspero…
E
as árvores tombam nos teus braços, meu amor, tombam nos teus braços.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
20 de Agosto de 2017