50
x 60 – Acrílico s/tela – Fontinha – Alijó
domingo, 26 de janeiro de 2020
sábado, 25 de janeiro de 2020
O silêncio da luz
Percorro
estes montes de ninguém,
Na
ausência do prometido poema,
Cansaço
da madrugada,
Quando
alguém me chama,
Me
grita,
E
me acena;
Triste
é esta calçada,
Onde
habito sem memória,
Sem
história.
Na
noite desgarrada,
Escrevo,
pinto, o teu retracto,
Passeio-me
pelo infinito amanhecer,
Sem
perceber,
Que
nas minhas palavras,
Vivem
os esqueletos malvados,
Sem
sono,
E,
alicerçados,
Às
palavras vãs,
No
bosque,
As
árvores, o silêncio da luz,
Que
me traz a saudade.
Pinto,
Sinto,
Que
todas as sílabas,
São
balas assassinas,
Munições
de esperança,
Quando
acorda a noite.
Sabes?
Amanhã
serão apenas sombras,
As
tuas palavras,
Que
alimentam a madrugada.
O
silêncio da luz,
Nas
mãos do poeta…
Perde-se,
Vive-se,
De
quê…?
Sempre
que amanhece,
Neste
corpo zangado,
Filho
e filha,
Passeando
por aí…
Passeando
ausente,
De
mim,
E,
de ti.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
25/01/2020
sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
A paixão dos mortos
Jazem
na minha mão as palavras da saudade.
O
mar alicerça-se no quadriculado caderno da madrugada,
Sílabas
loucas,
Corações
abandonados, numa esplanada de areia,
Esqueletos
vadios,
Cansados
de viver,
A
luz traz as amoreiras em flor,
Mártir
silêncio dos poemas adormecidos,
A
paixão dos mortos,
Quando
um barco se perde no Oceano,
O
marinheiro afoga-se no poema,
Lê
em voz alta, para todos ouvirem, os mandamentos das gaivotas,
E,
sem regressar, procura o sexo na escuridão.
Salta
da maré um pequeno veleiro adormecido,
De
lágrimas nos olhos, grita pelas almas que partiram,
Ninguém
o ouve; a luz.
Todas
as manhãs, antes de acordar, o marinheiro chora pelos que partiram,
Ao
longe, uma bandeira em demanda,
Sofre,
grita,
Mas…
não adianta.
Pelos
vistos, os mortos não regressam nunca ao local de partida.
O
corpo escurece,
Derrete
nas pálidas madrugadas, quando do silêncio, uma criança brinca no convés do
navio,
Todos
os barcos, loucos,
Internados
em Psiquiatria,
Enfermaria
azul, cama vinte e cinco,
Drageias
para todos os navios,
Não
dormem,
Mas…
sofrem.
Sofrem
de quê?
Do
silêncio,
Da
solidão que provoca o silêncio.
O
amor nasce entre os cortinados do camarote,
Na
enfermaria, um dos barcos internado, grita pelo enfermeiro;
SOCORRO!
E,
ninguém. Ninguém o ouve.
Apenas
o comandante está autorizado nas visitas, poucos minutos, servem para
acariciar-lhe as âncoras da tristeza,
QUERO
SAIR DAQUI.
Todos
o queremos.
Uns,
mais, outros, menos.
Mas
os barcos são teimosos, e, firmemente, alegremente, fogem…
E,
só a paixão dos mortos consegue sobreviver ao destino.
Sofre.
Grita.
Zurra
nas amêndoas em flor, descendo socalcos,
Subindo
rochedos,
E
outros demais silêncios.
A
loucura pertence aos pássaros,
E,
aos barcos.
Torna-se
na viagem mais inclinada do Universo,
Quando
todos sabemos, que o mar, os pássaros e, os barcos,
Morrem.
Morrem
nas clandestinas sanzalas do silêncio.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
24/01/2020
quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
Teorema da loucura
Deus,
não gosta de mim.
Os
pássaros, criados por Deus, também não gostam de mim.
Não
acredito em Deus, nem nos pássaros criados por Deus.
A
tempestade, em mim, costuma ser passageiras,
Alguns
segundos, ventos ciclónicos, e chuva miudinha…
Também
ela, obra do criador.
Debato-me
com o trágico sentimento de perda,
Quando
as palavras se ausentam,
Quando
os livros, recheados de palavras, também se ausentam.
Deus,
não gosta de mim.
Pudera.
Se
não acredito em Deus, também ele, não deve gosta de mim, acreditar em mim,
Mas,
não preciso que alguém acredite em mim,
Os
desenhos acreditam em mim?
Os
desenhos criados por Deus, que me criou, e eu duvido.
A
cidade ferve,
A
moça corre apressada para os braços de Deus,
Abraça-a,
beija-a, como se amanhã existisse uma ribeira fora do leito, em direcção ao
mar.
Deus
criou as palavras,
Os
versos,
A
mentira,
A
despedia,
A
morte,
A
rebeldia…
Deus,
parece-me indiferente às palavras, palavras criadas por Deus.
O
campo, ao longe, verdejante, desparece nos lábios de Deus…
E,
os pássaros, filhos de Deus, à procura das abelhas,
Picam-me,
Aleijam-me,
Mas
nada é mais doloroso que a morte.
A
morte, a má-sorte, e companhia limitada,
STOP,
Em
frente, marcha,
Cruzamento,
GNR
ao comando,
Automóvel
desgovernado,
Nas
mãos de Deus.
IRRA.
Não.
Não.
Ponto.
Palavras.
Mortas. À nascença.
Deus,
Deus é Deus, criado por Deus.
FIM.
Tudo
ao molho e fé em Deus.
Todos
os homens, são pássaros?
E
os pássaros?
São
homens?
E
o burrinho?
Que
faz o burrinho dentro do poema?
Porque
hoje é 22 de Janeiro,
Porque
Deus criou o calendário…
Não.
Não.
Talvez
amanhã!
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
22/01/2020
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
As mãos de uma criança
Perde-se
no tempo o sonho da saudade.
Invento
coisas, pequenas frases suspensas nos cortinados da solidão,
E,
ao longe, a camuflada madrugada em desespero.
Dizem
que ela, a tempestade,
Vem
alicerçar-se nas janelas do silêncio,
Como
um livro desempregado, só, triste…
Invento
coisas.
Perde-se
no tempo o sonho da saudade.
O
alegre canino, que habita nas sombras desta velha cidade,
Corre
em direcção ao mar,
Veste-se
de veleiro vadio,
E
zarpa sem ninguém dar conta da sua ausência.
Fico
triste, vê-lo partir como partem os pássaros para a outra margem,
Sem
destino,
Sem
rumo,
Rodopiando
dentro do vento,
Canções
de chorar.
Levita
o cansaço da noite,
Quando
o dia já pertence ao passado,
Morre
nas mãos de uma criança,
E
jamais acordará em mim.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
20/01/2020
domingo, 19 de janeiro de 2020
O homem de negro
Durante
a noite, sem horários dentro de mim, atravesso as portas enferrujadas do
Inferno.
Visto-me
de negro,
Assalto
as janelas da escuridão,
Antes
de acordar o Sol.
É
tarde.
O
sono brinca no silêncio das fechaduras da insónia,
Os
primeiros transeuntes, também eles, vestidos de negro,
Avançam
em minha direcção;
Tenho
medo, mãe!
Não
sei se vou acordar, hoje, porque sinto-me envergonhado, por estar vestido de
negro.
As
pirâmides, que assombram o meu pensamento, dançam sobre um rio desenhado na
minha mão,
Trago
as pedras, e sou capaz de apedrejar esta maldita solidão, que abraça os
musseques da minha infância.
Uma
multidão em revolta, vem para mim,
Não
sou capaz de correr, saltar, descer os socalcos que me separam do dia;
Ai
os dias, ai os dias!
São
todos iguais.
São
dias, pedacinhos de quadricula numa folha de papel, que alguém apelidou de
calendário.
Andam
rápido. Caminham como serpentes, quando o Sol aquece a presa, o manjar
prometido por Deus.
Morre-se,
morrer-me como quem fuma um cigarro envenenado pela tempestade,
No
sacrifício dos dias.
Durante
a noite, fumo.
Bebo
pequenas gotículas do tão falado vénedo, mato os pássaros, e fica em mim a
saudade,
Simplesmente,
às vezes, entram em mim as carruagens que trazem os pequenos blocos de granito,
Folhas
de silício, almofadas para uma noite doente, sempre que oiço os gonzos da madrugada.
Durmo.
Esqueço
a saudade.
E,
prometo acordar cedo.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
19/01/2020
quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
As paredes de xisto
A
fragilidade do corpo embrulhada no sono,
O
cansaço das palavras, inertes, mortas,
Nas
páginas sonâmbulas da tristeza,
O
vento chora,
Traz
a chuva,
Vai
embora.
Todo
o silêncio é pouco,
Quando
os farrapos da saudade,
Envelhecem
na escuridão,
A
metáfora,
O
sorriso das plantas,
Junto
ao mar,
E
inventam-se rosas em papel,
Comestíveis,
às vezes, quando a fome é invisível,
Descendo
o rio,
Saltando
a ponte metálica,
Em
direcção ao Sol,
Em
direcção ao abismo.
Não
quero pertencer a este conflito de interesses,
Caixas
em cartão,
Revoltadas
contra a geada,
A
chuva, miudinha, perde-se na calçada.
E,
no entanto,
Estou
aqui,
Esperando
o regresso das lâminas lágrimas,
Como
se fossem balas de raiva, contra as paredes de xisto.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
16/01/2020
quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
As noites de mim
Não
me digas as palavras que eu te prometi.
Ontem,
reinava o silêncio, no interior do teu abraço,
As
flores, cansadas de dormir, acordaram com o teu sorriso,
Dilacerado
nas manhãs de Sábado.
Não
gosto dos Sábados, meu amor.
Fico
estúpido, burro,
Durmo
na despedida do Adeus,
Às
vezes, esqueço-me de almoçar,
Lanchar,
Ou…
jantar,
Coisa
pouca,
Ninguém
morre por não comer.
Não
me digas as palavras que eu te prometi,
Porque
este livro em solidão,
Assusta-se
com a minha voz,
Foge
de mim,
Como
um mendigo,
Ou…
sem-abrigo.
Não,
Não
me digas,
As
palavras,
Em
voz alta,
As
palavras que eu te prometi,
E
mesmo assim, hoje, escrevo-as no teu olhar.
Sinto-me
cansado dos dias,
Das
noites,
Sem
dormir,
Vagueando
num corredor escuro,
Sombrio,
Que
me traz à lembrança, a morte.
Essa
mesmo,
O
final do dia,
O
eterno desgosto,
Que
abraçam os livros de poesia.
Oiço-te,
Lá
longe,
Nas
páginas esquecidas da sonolência das palavras,
E
mesmo assim,
Grito,
Sufoco
com os gritos das pedras,
Também
elas, tristes, gastas, e, cansadas.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
15/01/2020
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
Os lábios da saudade
O
silêncio apertado nos lábios da saudade.
O
beijo suspenso na solidão nocturna do cansaço,
Há
flores no meu jardim, envelhecidas,
Outras,
cansadas,
Tristes
rosas nas lágrimas da noite.
O
pesadelo da infinita madrugada,
Quando
traz a liberdade prometida,
Vaiada…
Garrida.
O
texto que se escreve na penumbra,
Quando
as palavras adormecem,
E,
choram de alegria.
Regressa
a morte,
Leva-o
a passear,
Inventa
amanheceres,
Como
quando o poeta,
Derrama
palavras emagrecidas,
A
fome de viver,
A
fome de caminhar junto ao rio,
E
aquele silêncio,
Apertado,
Mergulha
nos lábios da saudade.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
14/01/2020
domingo, 12 de janeiro de 2020
As cobras
(lavar
a loiça, coisa e tal, arrumar a cozinha… decididamente, não tenho muito jeito
para isto; sou melhor na poesia)
As
cobras que habitam o meu jardim,
São
silêncios de solidão,
São
palavras suspensas na minha mão,
Dos
livros absorvidos por mim.
As
cobras que habitam o meu jardim,
São
nuvens de espuma,
Brancura
da vida,
No
mar da despedida.
São
transeuntes embriagados,
Ninhos
de pássaro abandonados,
As
cobras que habitam o meu jardim,
São
a esperança de viver,
Estar
calado,
Quando
a Primavera acordar,
Sorrir,
E
caminhar sobre os parêntesis do cansaço.
As
cobras,
Que
habitam o meu jardim,
São
flores amestradas,
Papoilas
envenenadas,
Pela
geada,
Pela
sombra da calçada.
As
cobras,
Que
habitam,
O
meu jardim,
São
lágrimas.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
12-01-2020
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