segunda-feira, 17 de agosto de 2015


 (Francisco Luís Fontinha - Agosto/2015)


 (Francisco Luís Fontinha - 17/08/2015)

Triste tempo recheado de fotografias


Não tenho tempo

Para desenhar lágrimas no meu rosto cansado,

Não tenho tempo

Para folhear os álbuns de fotografias…

Esquecidos sobre uma secretária,

Que mais parecem um cemitério, umas mortas, outras perdidas,

Outras… vivas quase mortas,

Gente anónima,

Sem tempo para conversar,

Não,

Não tenho tempo

Para o amor

E esculpir a paixão na madrugada,

Não tenho tempo para construir sonhos

Que acabam sempre por ruir…

Não tenho tempo

Para imaginar-me dentro de um espelho,

Triste,

Derrotado pela força do vento,

Não tenho tempo

Para ninguém…

Apenas estou aqui,

Sentado,

A olhar o meu relógio parado…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 17 de Agosto de 2015

domingo, 16 de agosto de 2015

 (Francisco Luís Fontinha - 17/08/2015)

As árvores incendiadas pela solidão

(desenho de Francisco Luís Fontinha)
 
 
Perdi-me na confusão dos dias,
Senti as facas do destino cravarem-se no meu peito,
Não gemi, não chorei,
Tudo senti…
Sem saber que hoje um pequeno sonífero de paixão
Avassala-me como seu fosse um tonto,
Um imbecil sem guarita…
Um livro morto
Sobre uma mesa caquéctica,
Oiço-o como se ele pertencesse aos ausentes esqueletos de sombra
Descendo os socalcos da madrugada,
Lisboa mora nos meus braços,
Todos os dias sou atropelado por um Cacilheiro em sofrimento,
E sinto-me perdido
Nesta cidade de montras iluminadas,
Não tenho palavras para deixar no teu rosto,
Apenas algumas cartas, apenas alguns cadáveres de rosas roubadas num qualquer jardim sem cais de embarque,
Pertenço-te,
E amo-te,
Neste destino desesperado,
Quando no meu relógio são horas de me esconder nos teus braços,
Espero-te, espero-te sabendo que o teu corpo pertence às nuvens,
Espero-te… espero-te sentindo o peso da saudade nas árvores incendiadas pela solidão,
E quando regressa a noite,
Deito-me numa caixa de cartão,
Escrevendo cartas
Para um remetente sem rua, sem cidade… sem número de polícia… mas escrevo.
 
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Agosto de 2015
 

sábado, 15 de agosto de 2015

Manhã de Luanda

(desenho de Francisco Luís Fontinha)
 
 
Sei que me esperas nas searas adormecidas,
Escreves o meu nome numa granítica sombra,
E eu,
E eu permaneço aqui, esperando que regresse o silêncio
E me traga a paixão,
Deixei de ouvir a tua voz,
Deixei de tocar no teu rosto,
Mas tenho as palavras do teu sorriso
Cravadas no meu peito,
Hei-de amar-te eternamente,
Desenhando nas estrelas os teus lábios,
Hei-de amar-te eternamente,
Escrevendo as lágrimas da chuva no teu cabelo…
E um dia,
A paixão nascerá numa manhã de Primavera,
Como eu nasci numa manhã em Luanda.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Agosto de 2015
 

Pequenas rotações de saudade

(desenho de Francisco Luís Fontinha)
 
 
Perdi-me nesta escuridão de cadáveres acorrentados ao luar,
Tenho em mim a fogueira da paixão,
Entre papéis rasgados e fotografias esquecidas numa qualquer caixa em cartão,
Perdi-me,
Deixei de ouvir as estrelas que brincavam no tecto do meu aposento,
Deixou de bater na minha janela o vento,
E as flores vestidas de luz,
Tombam como balas nos cortinados do sono,
Invento imagens nas paredes invisíveis da maré,
Agacho-me e escondo-me de ti…
Não adianta,
Sou sempre descoberto, sou sempre encontrado…
 
E a vida gira em pequenas rotações de saudade,
A voz rouca cessa e dorme,
E não sofre mais,
 
Amanhã, nascerá uma madrugada pincelada de cidade atravancada,
Buracos negros na boca,
Planetas longínquos procurando o corpo,
E o corpo deixou de dançar sobre a sombra periférica da alma,
Os barcos dentro de mim,
Os seios da tempestade entre equações e finais de tarde junto ao rio,
O término,
A viagem sem regresso…
O cais semeado de caixotes em madeira,
Palavras que nunca consegui decifrar…
E hoje
Recordo-o como sendo um jardim abandonado.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Agosto de 2015
 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Para os meus Pais com amor...

Poema rasgado

(desenho de Francisco Luís Fontinha)
 
 
Sinto a voz dos teus medos
Entranhada no meu peito rochoso,
Pareço o mar
Cansado de sonhar,
E levo nos ombros os barcos do entardecer,
Quando me sinto triste, tão triste de não escrever,
Tão triste de não te amar…
Restam-me as tuas mãos invisíveis no meu rosto,
Em lágrimas,
Entre as sombras das flores desenhadas
No teu corpo negro que apenas consola a solidão,
Sou um homem esculpido no coração da noite,
Não tenho futuro,
Não tenho a ambição de dormir sobre as tuas coxas abraçadas ao vento,
Mas quero tocar no luar,
Atravessar a ponte sobre a cidade do teu quarto,
Onde habitas, como uma andorinha sem sítio para poisar,
Rochoso,
Deambulas na minha escuridão,
Sofres, e amas… todas as pedras da calçada,
Estátua,
Canção entre poeira e árvores caducas,
Em lágrimas,
“Entre as sombras das flores desenhadas
No teu corpo negro que apenas consola a solidão”,
Descalça, cansada do meu olhar,
Não tenho tempo para sofrer,
Nem chorar…
Sinto a voz dos teus medos
Entranhada no meu peito rochoso,
Espero o acordar do amanhecer,
Sentado em frente ao espelho…
Não vens,
Sei que nunca mais regressarás aos meus braços,
Como este poema rasgado
E lançado no abismo da paixão…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Agosto de 2015