domingo, 16 de agosto de 2015

As árvores incendiadas pela solidão

(desenho de Francisco Luís Fontinha)
 
 
Perdi-me na confusão dos dias,
Senti as facas do destino cravarem-se no meu peito,
Não gemi, não chorei,
Tudo senti…
Sem saber que hoje um pequeno sonífero de paixão
Avassala-me como seu fosse um tonto,
Um imbecil sem guarita…
Um livro morto
Sobre uma mesa caquéctica,
Oiço-o como se ele pertencesse aos ausentes esqueletos de sombra
Descendo os socalcos da madrugada,
Lisboa mora nos meus braços,
Todos os dias sou atropelado por um Cacilheiro em sofrimento,
E sinto-me perdido
Nesta cidade de montras iluminadas,
Não tenho palavras para deixar no teu rosto,
Apenas algumas cartas, apenas alguns cadáveres de rosas roubadas num qualquer jardim sem cais de embarque,
Pertenço-te,
E amo-te,
Neste destino desesperado,
Quando no meu relógio são horas de me esconder nos teus braços,
Espero-te, espero-te sabendo que o teu corpo pertence às nuvens,
Espero-te… espero-te sentindo o peso da saudade nas árvores incendiadas pela solidão,
E quando regressa a noite,
Deito-me numa caixa de cartão,
Escrevendo cartas
Para um remetente sem rua, sem cidade… sem número de polícia… mas escrevo.
 
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Agosto de 2015
 

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