Texto em destaque - Blogue Cachimbo de
Água - Sapo Angola
sábado, 7 de setembro de 2013
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
então um dia
foto de: A&M ART and Photos
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então um dia vou cobrir o teu corpo de
rosas...
inventar o sono que dormirá sobre os
teus seios em pedaços de pétala
então um dia vou saborear os teus
lábios como se fossem pequenos favos de mel
como se fossem Primaveras embebidas em
silêncios
mergulhadas
como se a luz fosse uma janela
e o mar
a jangada por onde foges
corres
invisível no corredor da solidão
então um dia voarás nos meus braços
e do teu sorriso uma fina lâmina de
madrugada embriagar-se-á com o teu corpo salgado
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de Setembro de 2013
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Assim seja, assim seja, amigo fiel...
foto de: Francisco Luís Fontinha
(Noqui)
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Será que me vais perdoar? Os dias terminavam em
canseiras brincadeiras e ao longe submergia o cheiro do rio
encurvado, um barco flutuava sobre o teu peito com asas fungiformes,
acendiam-se as lâmpadas da dor, olhavas-me, eu olhava-te, trocávamos
silêncios por pedaços de solidão, depois chegava o perfume de
embriaguez que servia de esconderijo das mulheres que te absorviam
como as moscas embebidas nos cortinados de areia, eu percebia a tua
dor, eu sentia o teu sofrimento, eu
Adormecia envenenado pela tua tristeza vagabunda que
circulava pelas ruas da velha cidade, pegávamos numa pistola,
brincávamos com balas de borracha e teias de aranha magoadas pelos
tornozelos das sombras das estrelas em papel crepe, solitáriamente
correndo becos, encostando-se a esquinas invisíveis, e inventando
mares de prazer entre lençóis de espuma, eu
Adormecia,
Pensava em ti, recordar-te como criança saltitando
os socalcos dos íngremes vómitos do comboio em direcção ao Porto,
curva, curva, montanha, montanha, e nada mais
Xisto?
Quanto houver, venha ele, se for preciso...
comemos-o como se comem os mabecos que o inferno tece, vulcões com
sorrisos de marfim, tabique em solstícios envergonhados, e havia
janelas com larvas suspensas nas persianas da lareira do incenso,
adormecia, adormecia, adormecia... até que o vento nos separava, até
que a tempestade nos transportava para
Onde?
Xisto, voávamos sobre as circunferências
tracejadas dos olhos castanhos que viviam na página trinta e cinco
do livro das noites sem dormir, tínhamos vergonha de sonhar,
tínhamos vontade de comer
Os mabecos?
Tristes, alegres, cansados folgados, meninos e
meninas, soldados
Todos temos o direito de amar...
Guerreiros, canhões de guerra barcos e petroleiros
Todos temos o direito de amar...
Xisto? Quanto houver, venha ele, se for preciso...
comemos-o como se comem os mabecos que o inferno tece, vulcões com
sorrisos de marfim, tabique em solstícios envergonhados, e havia
janelas com larvas suspensas nas persianas da lareira do incenso,
adormecia, adormecia, adormecia... até que o vento nos separava, até
que a tempestade nos transportava para
Os socalcos?
Para, para depois de amanhecer descermos as escadas
do poço da morte...
Assim seja, assim seja, amigo fiel.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Setembro de 2013
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
um dia
foto de: A&M ART and Photos
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um dia serei eu
um dia acordará a madrugada vestida de
branco
com uma pétala de rosa em cada estrela
suicidada
um dia vestir-me-ei de amanhecer
como as páginas de um livro perdido na
livrarias em poeira...
um dia acordarei e tu és uma pausa
como as sombras do musseque
depois da chuva se entranhar na terra
ressequida
um dia
um dia ausentar-me-ei... como as
bananeiras do teu sobrolho
como as sílabas dos teus lábios
e um dia saberás quem sou porque morri
partirei para a terra de ninguém
não estarás certamente à minha
espera... porque tu não existes
porque tu és uma feiticeira com asas
de carvão e boca de crocodilo
(n ã o r e v i s t o)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 4 de Setembro de 2013
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Essas, essas, não...
foto de: A&M ART and Photos
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Não percebo as angústias dos teus braços, é
sexta-feira e lá fora chove, e todas as flores do nosso jardim,
hoje, hoje não estão, bato-lhes à porta e parecem ausentes, ou
doentes... ou preferem não me reconhecer durante a viagem ao inferno
dos teus sonhos, tenho portas metálicas que me obrigam a esconder da
luz original das madrugadas onde tu
Eu deitava-me sobre os embondeiros dos teus olhos,
abrigava-me como pétalas e mesmo assim, sabia que tu
Que eu?
Que tu continuavas a mentir-me, que tu
Que eu?
Que tu continuavas a escrever nas nocturnas
meninices com o cabelo apanhado e enrolado sobre os bronzeados
comestíveis peixes do aquário que durante anos tivemos na sala de
jantar, hoje
Hoje?
Hoje, ontem, talvez amanhã...
Hoje, que... eu?
Hoje, ontem, talvez amanhã... sexta-feira,
meia-noite nos teus lábios, o pêndulo tresloucado contra a trave em
madeira que sustenta o tecto, do aquário os peixes de brincar
adormecem nas mãos deles, e os ponteiros de ti... adormecidos entre
as três horas e as três horas e quarenta e cinco minutos, indeciso,
não o sei
Desisto?
Não Desisto?
Hoje?
Que tu continuavas a mentir-me, que tu
Que eu sofro porque deixei de observar as estrelas
sobre o mar, que eu sofro por
Tu continuas a mentir-me,
Tu
Tu que eu sofro por não adormecer devidamente como
as nossas plantas da varanda das traseiras, porque
(Para que serve esta porcaria, saberás
responder-me?)
Porque os rios são de seda, porque as árvores são
de papel... porque eu
De pano, achas que eu sou de pano?
Talvez de entretela... estranha manhã a tua antes
de acordares e me venderes o primeiro e o último beijo do dia, um
por dia, trinta e cinco euros, e a vida parece sorrir-lhe até que
regressou um veleiro de lá e trouxe a tempestade de abelhas que
devoraram todas as plantas
Da varanda das traseiras?
As plantas que não quero, as plantas que não me
interessam... e o cansaço encontrou-me debaixo da meia-noite,
despeço-me de sexta-feira e entranho-me no sábado...
Normal?
(Para que serve esta porcaria, saberás
responder-me?)
Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras?
Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das
traseiras? Da varanda das traseiras?
Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras?
Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das
traseiras? Da varanda das traseiras?
(Para que serve esta porcaria, saberás
responder-me?) e
Desisto?
Não Desisto?
Hoje?
Que tu continuavas a mentir-me, que tu
Que eu sofro porque deixei de observar as estrelas
sobre o mar, que eu sofro por
Tu continuas a mentir-me,
Tu
E,
… cansaço sono amargura sofrimento solidão
loucura... tudo, tudo, menos as plantas da varanda das traseiras,
Essas, essas, não...
… cansaço sono amargura sofrimento solidão
loucura... tudo, tudo, menos as plantas da varanda das traseiras,
Essas, essas, não... cansaço sono amargura
sofrimento solidão loucura... tudo, tudo, menos as plantas da
varanda das traseiras,
Essas, essas, não... cansaço sono amargura
sofrimento solidão loucura... tudo, tudo, menos as plantas da
varanda das traseiras,
Essas, essas, não...
(não revisto – ficção – Alijó)
@Francisco Luís Fontinha
Terça-feira, 3 de Setembro de 2013
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
As três tristes palavras
foto de: A&M ART andPhotos
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Balanço-me das tuas tristes três palavras
escondidas no disperso xisto que jazem nas tuas mãos como pigmentos
coloridos de pequenos animais, balanço-me e esqueço-me, percebo-o
agora, não o sabendo, das tuas outras vozes que alimentas o piano de
cauda que vive no hospício com janelas gradeadas viradas para o
jardim dos doces colares de pérolas, vejo-te passar sobre o alegre
relvado onde brincam árvores, pássaros e crianças que ainda não
lhes é permitido visitarem os pais, as mães... os amantes as
amante, que amam, que vivem, que comem drageias como quem saboreia os
gelados do Baleizão, sentava-me, via-te sobre saias curtas e
sandálias com tiras finas de couro adormecido, passavas, olhavas-me
e eu, indiferente
Saboreava-o como se ele fosse um botão de rosa
descoberto no interior de um velho livro de poemas, havia junto dele
uma fotografia, uma imagem estática, triste e com olhos mergulhados
em água salgada, olhavas-me, olhas-me... e nada consegues dizer
Apenas
Talvez,
Que o dia terminou, que alguém correu o cortinado
da tarde... e o Baleizão mergulha nas sombras dos barcos encalhados
perto da Maria da Fonte, de longe chegava o som do Grafanil, cheirava
a naftalina e a calções recheados de urina, e ouviam-se os teus
suspiros depois de terminar o espectáculo de circo onde passeavas
sobre um arame invisível, olhavas-me e vias-me...
Apenas
Talvez,
As mesas e as cadeiras metálicas, o chão em
pequenos cubos de açúcar, e eu sabia que nunca mais regressaria aos
teus abraços de menina vestida de branco passeando na companhia de
um belo e monstruoso cavalo, pungente, e de olhar triangular como as
estrelas do Mussulo, e apenas
Talvez,
Não, nunca percebi porque prendiam os barcos com
cordas se eles de tão velhos quase não se movimentavam, viviam
encaixotados em andares sem elevador, escadas, escadas, a cadeira de
rodas mal conseguia mover-se no interior do caixote de vidro, e eles,
os barcos, e eles os barcos enferrujados gritavam
Somos felizes aqui,
Perguntava-me
Felizes?
Não, nunca percebi porque prendiam os barcos com
cordas se eles de tão velhos quase não se movimentavam, viviam
encaixotados em andares sem elevador, escadas, escadas, a cadeira de
rodas mal conseguia mover-se no interior do caixote de vidro, e eles,
os barcos, e eles os barcos enferrujados gritavam como meninos antes
do lanche, tristes, e no entanto, alguém os amarrava às cadeiras e
às camas... como medo que eles
Navegassem...
Que eles
Fugissem...
Que eles
Que eles fossem fumar cigarros para Cais do Sodré,
entrassem no Texas, pegassem numa das meninas cinzentas, e
Dançassem,
Dançassem até que o comandante com o apito
embebido misturado com vodka... os mandasse regressar ao cais, ao
cais do caixote de vidro, escadas, escadas, escadas... até que
morriam, hoje um, amanhã outro...
E deixavam de ser barcos
E deixavam de ser as três tristes palavras.
(Não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 2 de Setembro de 2013
um corpo putrefacto como as flores de Sábado à noite...
foto de: A&M ART and Photos
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a quem pertencerá este corpo que
habita nas escadas do meu sótão?
não vestido
voando como abelhas e poisando nas
pétalas de madeira
debaixo do corrimão...
oiço-o ofegante adormecido nas noites
de solidão
oiço-o em corrida apresada descendo a
calçada
abrindo janelas
abrindo... olhares cintilantes com
sabor a estrelas do mar
oiço os apitos marinheiros
embriagados por ti
e em ti
quando inventas seios de prata e coxas
de chocolate
oiço-o mergulhar nas minhas asas
são os teus sorrisos vagabundos como
silêncios prisioneiros das aranhas clandestinas
mórbidas
mortas pela ranhura de uma lâmina de
barbear
(a quem pertencerá este corpo que
habita nas escadas do meu sótão?
não vestido
voando como abelhas e poisando nas
pétalas de madeira
debaixo do corrimão...)
e oiço-o suspenso nas árvores do
jardim da Estrela
e oiço-o que me chama e precisa das
minhas mãos para subir as escadas da insónia
pertencerás tu aos grandes pilares de
areia?
o comboio cintila e morre nos teus
olhos cintilantes envenenados pela luz falsa
reescrita nos muros das palavras
deambulantes que as gaivotas trazem da ilha...
oiço-o
e oiço-o sobre a cama esperando pelos
meus lábios de sabão
como as pequenas caravelas de
esferovite perdidas no tanque dos quatro caminhos
a quem pertencerá? um corpo voando nas
marés de vidro
um corpo um apenas e simples corpo
o teu corpo que ninguém consegue
explicar a quem pertencerá...
terá nome idade sexo religião? um
corpo putrefacto como as flores de Sábado à noite...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 2 de Setembro de 2013
domingo, 1 de setembro de 2013
A chuva não existe
foto de: A&M ART and Photos
|
Se chove, não a sinto, se chove, se chove... que
fará a chuva a um corpo nu, despido, vagueando entre dedos,
vagueando entre fotões, electrões, se chove... não a sinto mas
oiço-a na minha pele como pequenos pontos de luz, como... como a lua
procurando as tuas mãos sabendo ela, que as tuas mãos são um
pêndulo, suspensas por um longo fio de nylon e suspenso no tecto da
paixão,
Um corpo em repouso, estaticamente só, um corpo
longínquo e transformado em ponto de luz, mergulha, e dorme, e
alimenta-se das lâminas transparentes dos apitos marinheiros com
vista para o mar... um corpo só, suspenso no pêndulo da noite,
adormece, sonha, vive, esquece... e saltita como marés cinzentas
depois dos velhos suspiros em peixes voando sobre a cidade, este
corpo, este pequeno ponto de luz... ele mesmo, a própria cidade, a
cidade mergulhada nas camisas madrugadas ornamentadas de pequenas
dentadas, e em dentes de marfim, o teu corpo aparece transvasado
dentro das minhas tristes mãos, como um vagabundo silencioso
perdidamente esquecido nos bolos de chocolate e das fatias laminadas
que sobejavam da luz vizinha em arbustos envenenado pela solidão dos
finais e tarde, um corpo, o teu, um pequeno ponto de luz, procurando,
procurando verdadeiramente o movimento circular uniformemente
acelerado, serve-te, este?
Não sou eu que procuro a luz dos teus olhos, mas
ela persegue-me, embrulha-se nos meus braços, e não me deixa
escrever, às vezes, sinto-a longínqua em redor do meu pescoço,
quase não respiro, quase não vivo, e mesmo assim, o teu corpo,
minúsculo, o teu corpo transparente das tardes de Setembro... voa, e
navega como uma caravela nos lençóis de espuma que o desejo
abandona depois de acariciá-lo, depois de...
Não percebi!
Se chove, não a sinto, se chove, se chove... que
fará a chuva a um corpo nu, despido, vagueando entre dedos,
vagueando entre fotões, electrões, se chove... não a sinto mas
oiço-a na minha pele como pequenos pontos de luz, como... imagino-a
sobre o piano, imagino-a enrolada ao cortinado carmim da janela da
biblioteca, entre mortas personagens e vivas paixões de areia, o
mar, nua, sinto-a como a se fosse filha da chuva e mergulhada nas
sandálias da manhã por acabar, sinto-a vaguear nas sílabas do meu
corpo, e depois
Não percebi, não percebo porque chove em ti,
Depois, qualquer coisa de estranho na tua voz, um
simples e medíocre círculo com olhos verdes, e escrevi-o sem saber
porque o fiz, ou se vivesse eternamente, acreditava na morte dele
depois de o escrever, e não percebi e não percebo que ainda vive em
mim e só morrerá quando eu morrer, quando as minhas mãos deixarem
de escrever e o espelho
Não percebi...
E o espelho vestido de grená espera-me
(não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 1 de Setembro de 2013
P.S.
Deixei de ser eu quando a chuva me roubou os sonhos
de papel que e guardava religiosamente no meu peito, deixei de ser
eu, e mesmo assim, corria devagar para adormecer nos teus braços de
aço, âncora mórbida, só, sentada no Cais das Colunas, só como as
nuvens quando desciam as escadas dos velhos e rabugentos guindastes e
entravam no teu sorriso, embebias-te em algodão e açúcar refinado,
e tão finas que eram as noites em ti que deixei de existir, deixei
de ser
Eu?
Tu?
Deixamos de viver, de comer, deixamos de correr em
volta de um círculo com olhos verdes, ele, vive, ele pertence ao
livro ainda não terminado, vive, come, vive e oiço-o diversas vezes
nas ranhuras clandestinas dos veleiros invisíveis,
E ainda há quem diga
“A chuva não existe”,
E ainda há quem diga que o teu corpo é de espuma e
que os teus olhos são...
Pequenos pontos de luz?
Electrões, fotões, positrões, neutrões,
partículas de Deus... e afins, limitada, com sede na rua dos
desgostos, número vinte, Lisboa,
E ainda há quem diga que o teu corpo é como a
espuma, e desaparece todas as sextas-feiras à meia-noite,
rés-do-chão, direito.
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