terça-feira, 9 de abril de 2013
segunda-feira, 8 de abril de 2013
A rua dos Caracóis
Não, tenho medo de perceber que a noite acontece,
apenas, e só, porque nos teus olhos cresceram as margaridas das
madrugadas em flor – Desculpa, onde colocaste a pilha de livros que
estavam sobre a mesa da cozinha? - sei lá, talvez, e... - Porquê? -
Olha... já viste na casa de banho? Não, tenho medo de
(trazias no bolso a caixa de fósforos, na camisa,
sempre acreditei que fossem cigarros, não, não eram, e medo, só, a
escrever, sentado sobre um pedaço de xisto, só com duas, colheres,
de, prata, sim, eram de prata, e depois ouviam-se-lhes os guisos
melódicos das palavras por escrever, mortas, nunca escritas, porque
a saudade é de borla, pintavas as telas com acrílicos mergulhados
em bagaço, o Conhaque sabia-te a Primavera sem nuvens, sem lágrimas,
sem...)
Eras bela, diziam todos os espelhos dos guarda-fato
da rua dos Caracóis, e – Porquê? - e porquê o quê? O amor,
sabes o que é? Sei o que são rios fingidos como as ervas junto à
eira de Carvalhais, e tu
(sentava-me no degrau do palheiro, e quando o vento
batia no espigueiro, ouvia, tenho a certeza, ouvia poeticamente os
Fingertips sobre a ponte do rio Sul, nas Termas, os patos silenciados
pelas cascatas de areia dos olhos tricolores das meninas que
brincavam junto às ruínas dos balneários Romanos, e além de ouvir
os Fingertips, via o Rei e a Rainha, coitados, tão tristes, e tão
belos, e assim se curou o primeiro Rei de Portugal e a última Rainha
de Portugal, eu olhava a ponte e apetecia-me abrir os braços e...)
E tu parecias janelas construídas em madeira
envelhecida, e sempre encerradas, perdoa-me, mas... tenho medo, do
vento, das palavras, das ruas e dos gritos dos pinheiros em castelo –
E do silêncio que vinha dos espigueiro recheado de espigas de
milho... - e não havia luz que iluminasse as tristes mercearias da
rua dos Caracóis, sem candeeiros, sem transeuntes, sem palavras ou
traficantes – Uma rua sem traficantes é como um jardim sem flores
– ou como um homem sem mãos, ou uma mulher sem pétalas de rosas,
e nós tínhamos as canções de Outono regressado dos perfis
laminados do inferno complexo de rochas em papel, desenhos na
traseira das portas das casas de banho – Fulano é um corno – ou
– Imagina a mulher da tua via... agora, imagina-a a cagar – ou –
Me liga amor, me liga – e mentalmente fotografava a preto-e-branco
as imagens sem literatura, poucas palavras, como as ervas junto ao
palheiro, que, de vez em quando, olhavam, acariciavam... o velhinho
espigueiro de
(Carvalhais à solta, terreno abaixo, ribeiros
submersos em musgo caligrafado pelos olhos das moscas em delírio, e
assim, quando o relógio de pulso abria a boca, quando abria,
sorria-me em trinta e cinco suaves prestações, e eu, eu
recordava-me da tapada com o pulmão ensanguentado de pinheiros,
fieitos, e pequenas coisas que o avô guardava dentro de um envelope,
e depois, enviava, pelo correio, sem destino, sem direcção, sem
nomes, até que um dia descobriu o casebre do monte Desgraçado, e
chegava derreado, o Domingo de Páscoa)
Endurecido pelas chamas do insignificante poema à
menina Sem Nome, com uma simpática estrutura de madeira assente
sobre um esqueleto de pedra, os ossos rijos – Como vão esses ossos
Avô Velhinho? - e ele dizia-nos – Tal como quando regressei de
França, da Primeira Grande Guerra, meu rapaz – e apenas com uma
mão fazia o que eu nunca consegui fazer
(fazer um cigarro)
Tentei, tentei... e desisti quando percebi que os
carris onde circulava um comboio de espuma, aquele que às vezes
aparece nos sonhos dos meninos, tinha desaparecido, como
desapareceram, o palheiro, a eira, o espigueiro e a casa, e quanto à
tapada
(fugiram todos os pinheiros mansos)
E os cigarros em prazer de ácidos e argamassas com
chocolates embrulhados em telhas de vidro, e sabíamos que as bolas
de golfe brincavam sobre a secretária, depois, tínhamos os
cachimbos, uns em madeira, dois em vidro e outros dois de espuma do
mar, um de água, e um livro com fotografias onde habitavam corpos
despedaçados, horrível, horrendo, frágeis as minhas tuas mãos
quando nos sentávamos no banco de madeira em frente aos Correios...
e não, foi fuzilado por promover o amor, condenado, foi mandado
destruir pelas mãos do Presidente da (de) Câmara, e hoje apenas uma
fileira de árvores solitárias caminha nocturnamente depois de cair
o cortinado da lua, baixam-se as persianas, retiras o penoso soutien
de veludo... e – Apetece-me pegar-te na mão e inventar o mar no
teu peito! - e eu, apressadamente, erguia âncoras e íamos até ao
infinito...
(fugiram todos os pinheiros mansos).
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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amor,
Carvalhais,
Cigarros,
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Pedro do Sul,
S. Pedro do Sul,
Termas de S,
Texto
Location:
5070 Alijó, Portugal
domingo, 7 de abril de 2013
Papel-químico
foto: A&M ART and Photos
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Descia a rua e ninguém a cruzar-se comigo, sentia-me estranho e
só, e todas as montras dos estabelecimentos comerciais, tapadas com
jornais velhos, provavelmente encerradas, por ventura, há muito,
pois as teias de aranha transpareciam para o exterior, havia um
cheiro bafiento, penumbro, um cheiro a abandono, como aquele
característico cheiro de quando somos abandonados por alguém e ao
passarmos na rua – Coitado, cheira a abandonado – e aos poucos a
tarde mergulhava no papel-químico para ser reutilizado na tarde
seguinte, talvez amanhã, talvez depois de amanhã, ou... talvez
nunca,
Tínhamos um cão rafeiro com olhos castanhos, pêlo curto, dentes
afiados como lâminas de barbear, e quando se chateava comigo, eram
os meus tornozelos que o pagavam, a fúria e o rancor, a maldição
sobre a minha presença, e parece que nunca gosto muito da minha
sombra, berrava-me e quando eu regressava tardíssimo a casa, lá
esta ele à minha espera, como se eu precisasse de alguma coisa, ele,
ele ajudar-me-ia... coitado do infeliz, coitado daquele que acredita
que pode, e no entanto, pouco ou nada poderá fazer, a não ser,
ladrar, ladrar e ladrar... coitado do Noqui I, como todos os cães,
ladrar, ladrar e ladrar – Havia sorrisos de açúcar sobre a mesa
das toalhas brancas – e hoje pergunto-me a razão de todos os
rafeiros pertencerem a uma classe de fanfarrões, que não aguentam
com um estalo no focinho, como os homens, e as pombas e as formigas
Pegava no papel-químico de anteontem, e colocava-lhe em cima um
laço azul-escuro, e depois abria a janela e mergulhava-os no Sol de
fim de tarde, regressavam as imperiais e o prato com tremoços,
quatro o cinco, às vezes, seis, marinheiros sem embarcação
definida – Queres dizer... desempregados? - não, não, marinheiros
apenas de patente, marinheiros de esplanada, e quase no encerramento
do dia, quando Deus com os seus assessores, faziam a contabilidade do
dia... tínhamos sobre uma mesa redonda, e frágil, “cuidado –
Frágil - “ aproximadamente oitenta copos de vidro, vazios,
solitáriamente como andorinhas e botões de rosa,
E as formigas subiam árvore acima até encontrarem o fruto
embrulhado em papel-químico, este, o de ontem, reviam o dia,
visionavam as imagens sombreadas pelos lápis de cor das crianças da
rua dos Alecrins, e uma senhora de bengala e óculos de sol, a que
todos chamávamos de Dona Maria Dona, que vivia só, sem parentesco
conhecido, pegava na bengala e corríamos como se fossemos moscas
disfarçadas de gaivotas, deixávamos cair os lápis e quando
chegávamos a casa, as nossas mães ao questionarem-nos – Os lápis
de cor? - em uníssono respondíamos que...
Fugiram, mãezinha,
Hoje desço a rua e ninguém a cruzar-se comigo, sentia-me
estranho e só, e todas as montras dos estabelecimentos comerciais,
tapadas com jornais velhos, provavelmente encerradas, por ventura, há
muito, pois as teias de aranha transpareciam para o exterior, havia
um cheiro bafiento, penumbro, um cheiro a abandono, como aquele
característico cheiro de quando somos abandonados por alguém e ao
passarmos na rua – Coitado, cheira a abandonado – e quem nunca
foi abandonado que atire a primeira pedra – É o atiras... -, e
continuam lá, as frágeis mesas de esplanada, e continuam lá, as
frágeis resmas de papel-químico dos dias passados desde mil
novecentos e oitenta e sete, lá, como continuam lá, frágeis os
queridos homens desesperados na ânsia de encontrarem companhia para
as noites frias de Inverno, como continuam lá, as frágeis mulheres,
com flores ao peito, com cabelos de chocolate, que se comiam nos
intervalos do cinema,
Fugiram, mãezinha,
Olá, sou o Francisco – Muito prazer, sou a Maria André! - mas
entre, entre e esteja à sua vontade, faça de conta que está em sua
casa – Sim, claro, sim – e as frágeis formigas, como os lápis
de cor, que quase sempre se perdiam – Os lápis de cor? -
respondia-lhe
Fugiram mãezinha, fugiram,
Que se comiam nos intervalos do cinema, à luz dos candeeiros a
petróleo, - Sopa? - não, não gosto de sopa, nunca gostei, detesto,
como detestava as formigas do quinto esquerdo, sós, sem acesso ao
sótão, ele voltou, sinceramente, e hoje, ficava lá, e hoje não
regressava, e hoje, pegava nas folhas de papel-químico do avô
Domingos, que religiosamente guardava numa caixa, e confesso que
nunca percebi para que serviam, e mais tarde vim a descobrir que
eram a cópia dos dias passados, coitado, e pegava nas folhas de
papel-químico e construía uma papagaio, o pulsar do cordel enrolado
no pulso, como um cabo de aço a prender árvores à terra com cheiro
a chuva e a fogo, ouvíamos o tilintar das carapaças dos caranguejos
esquecidos junto ao circo – O que são mangueiras? - mesmo debaixo
da roulote dos palhaços, sentia-lhes as patas da frente contra os
rodados de borracha como tenazes nas lareiras de trás-os-montes, e
estávamos tão longe, distante, e descíamos a rua, descia a rua e
ninguém me cumprimentava – Bom dia senhor Francisco! - olá bom
dia Dona Menina Dona, e seguia, olhava e não ninguém, não havia
árvores naquela cidade, barulhos, pedras de encontro às montras
escondidas pelas velhas folhas de jornal – Procura-se Francisco
Luís Fontinha – e não acredito
(Olá, sou o Francisco – Muito prazer, sou a Maria André! - mas
entre, entre e esteja à sua vontade, faça de conta que está em sua
casa – Sim, claro, sim – e as frágeis formigas, como os lápis
de cor, que quase sempre se perdiam – Os lápis de cor? -
respondia-lhe
Fugiram mãezinha, fugiram),
E nunca mais o encontraram, e nunca mais regressou, e pergunto-me,
se o jornal que enfeita a montra diz que “ Procura-se Francisco
Luís Fontinha” e se isso aconteceu há mais de dez anos, logo
A cozinha não tinha janela para as traseiras – Não percebi –
estava a brincar, porque se a cozinha fica na fachada da frente, isto
é, a cozinha tem janela para o alçado principal, pela lógica, pela
lógica a cozinha não tem janela para as traseiras do prédio, logo
Há mais de dez anos que este estabelecimento comercial está
encerrado – Não percebi! - repara, logo a cozinha não tem janela,
logo
Dou-me conta que caminho pelas ruas de uma cidade fantasma, uma
cidade que existe e não existe, digamos que – Bom dia dia menino
Francisco – olá bom dia, Dona Teresa, como está a netinha? -
Crescida e preguiçosa – Pois, pois... - como os barcos esquecidos
no Terminal de Cruzeiros da Rocha Conde de Óbidos, presos a um
cordel e um velho parecido com o avô Domingos a passeá-los rua
acima, rua abaixo, e ninguém, nenhuma pessoa, nenhuma sombra, nada
Que desinquietasse a cidade fantasma,
E nada, tal como os lápis de cor - Fugiram mãezinha, fugiram –
e a cidade, quando começava a noite, embrulhava-se no papel-químico
e entrava dentro da caixa de cartão, até que mais tarde, ele,
quando se lhe entranhava a solidão nos ossos, a abria, retirava o
papel-químico e começa a recordar imagens que nunca
Existiram,
E que ele acredita terem existido.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
sábado, 6 de abril de 2013
mil novecentos e oitenta e nove - quarto andar – sala um
Um verso desesperado
na tua mão solitária,
um vidro partido
na árvore dos sofrimentos
quando vem a manhã,
e ele ausente
de ti e de mim,
e ele mente
como toda a gente
quando chove torrencialmente
e caiem as estrelas do nocturno Céu
em desassossego,
O medo sabe escreve nos olhos da noite
como quando tínhamos os abismos
segredos
em planícies de solidão,
agredias os meus tristes olhos
com o rancor das tuas lágrimas,
vestias-te de alegria
e dançavas,
comias,
brincavas sobre o meu corpo esmiuçado
entre os cigarros de tinta da china
que o merceeiro nos fiava,
e um pequeno panfleto de açúcar
entranhava-se nas tuas veias...
Chegava o carteiro com palavras tuas
escritas em papel de arroz
e uma andorinha saltitava no pequenos
postal artesanal,
miúdo, pequeno morcego de luz,
e no entanto, vinham os insignificantes
plásticos com as sandes
e os carnívoros sons das garrafas de
vodka,
era festa lá em casa
bebíamos, comíamos... e dormíamos
e felizmente
sempre tivemos tempo para acordar,
outros
não acordaram nunca
e assim voaram até ao cais dos
embalsamados ossos de penicilina...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
06/04/2013 - Alijó
A cidade das ratazanas em porcelana
foto: A&M ART and Photos
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Uma cidade em chamas, um povo em alvoroço, as
árvores balançam com a fome do povo em alvoroço, e tu, tu aí
sentada, a fumar cigarros, como se não estivesse a acontecer nada de
especial, está tudo bem dizes-me tu, não há problema, arreganha-me
os dentes o teu pai, e no entanto, balançam as árvores, e no
entanto, de tanto balançarem... poderão cair, sobre as mãos
líquidas do povo em alvoroço, cansado de sofrer, e sem rosto,
recomenda-se, e até diria que nunca vivemos como hoje, somos
felizes, somos um casal feliz, sorridente, somos perfeitamente... os
mais parvos do bairro onde vivemos – És tão pessimista, meu
querido! - como fui pessimista quando fugi para cima de uma árvore,
quando criança, e só consegui descer com a ajuda dos bombeiros, e
tudo, porque, o Alberto meteu-me em cabeça que se eu estendesse um
arame no caminho para o bairro, a meia altura do chão, era engraçado
quando o senhor António passasse de motorizada, já noite dentro, e
com algum desequilíbrio devido à falta de luminosidade ou porque o
tinto da tasca da dona Francisca era do melhor que havia, não
interessa, o problema foi que quando o pobre do homem vinha no seu
rame-rame, pumba, ele para um lado e a pobre da motorizada para
outra, conclusão – Quase que era degolado! - decapitado, poderá
dizer-se, e ainda nós não vivíamos na Coreia do Norte, ou na
China, que a família do pobre condenado à morte por fuzilamento,
coitados, têm de pagar a respectiva munição – Queres tu dizer,
meu querido, têm de pagar a bala? - sim, é isso, sim...
(os animais humanos sem direitos porque o direito do
dinheiro fala mais alto do que a dignidade, tudo se cala, aqui e fora
daqui, e assim vão enviando contas de munições a cada família que
por azar, um dos seus queridos resolveu desafiar o sistema – E? -
sim? - E se eles tiverem fraca pontaria, isto é, se o condenado
precisar mais do que uma bala para voar até ao infinito amanhecer? -
boa pergunta, minha querida, nunca tinha pensado nisso...)
Sim, talvez, talvez prendam as árvores com fios de
aço para que não balancem tanto, mas... - Mas, meu querido, não há
aço que aprisione o pensamento, e esse, vai sempre balançar... -
mas esta cidade começa a ficar infestada de ratazanas, cabrões e
pratos de porcelana...,
(depois dizes-me alguma coisa? - Sim, minha querida,
digo)
Amo-te – Desculpa, não sabia, minha querida – e
o “panasca”, desde miúdo que nunca gostou de sopa, papas, ou
coisas similares, e agora – Obrigaram-te a comer sopa? - e agora
digo-o, sem medo que te amo, e pergunto-me, questiono-me, adormeço
pensando em ti, e a perguntar-me - E tu rapaz, sabes o que é o Amor?
- desculpa, não sei o que são veredas cinzentas com fios de aço,
desculpa, minha querida, não sei o que são fios de prata enrolados
em pescoços feios, lânguidos, bronzeados cálices de azevinho,
mórbidos, esfomeados como o fumo das sanzalas sem candeeiros de
oiro, sem rios de magnésio, sem nuvens de chocolate, como a vida de
“merda”, a nossa vidinha, de bairro de preferia,
(de uma cidade em chamas, um povo em alvoroço, as
árvores balançam com a fome do povo em alvoroço, e tu, tu aí
sentada, a fumar cigarros, como se não estivesse a acontecer nada de
especial, está tudo bem dizes-me tu, não há problema, arreganha-me
os dentes o teu pai, e no entanto, balançam as árvores, e no
entanto, de tanto balançarem... poderão cair, sobre as mãos
líquidas do povo em alvoroço, cansado de sofrer, e sem rosto,
recomenda-se, e até diria que nunca vivemos como hoje, somos
felizes, somos um casal feliz, sorridente, somos perfeitamente... os
mais parvos do bairro onde vivemos – És tão pessimista, meu
querido! - como fui pessimista quando fugi para cima de uma árvore,
quando criança, e só consegui descer com a ajuda dos bombeiros...,)
Começo – Não percebi, minha querida! - ah...
sim, quando lá passar eu digo-lhe, fica descansada, começo a ficar
farto das palavras, dos poemas e dos textos que parecem poemas,
começo a ficar farto, dos livros, e das coisas parecidas com livros,
começo a ficar farto com o amor e com todas as coisas parecidas –
Terminadas em dor? - ou isso, é-me igual, desigual seria se quando
regressasse a casa e não encontrasse a porta de entrada, o pior
seria se regressasse a casa, encontrasse a porta de entrada,
entrasse, e lá dentro, nada – Como nada, meu querido? - nada, nem
paredes, nem janelas, nem escadas, nem móveis, absolutamente nada –
Imagino-o, meu querido, imagino-o... - e mesmo assim pedia à vizinha
do lado – Vizinha, faz o favor de me emprestar a corda de nylon que
serve para prender o seu burro à oliveira da terra funda? - ela meia
mouca – Quer-se matar, menino? - e como posso eu explicar-lhe, a
ela, à dona Francisca, que a corda era apenas para eu lançar ao
ramo mais forte da árvore do quintal, e tentar subir até que não
existisse mais árvore – Como o fizeste na infância? - e depois
vinham os bombeiros, e eu descia
(sim, como o fiz na infância)
E descia, e descia, descia...
(quase ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Porque não sonhas com...
foto: A&M ART and Photos
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Acordei cedo, sonhei contigo, e a cabeça
estoirava-se-me, alguma coisa que eu tenha deixado sem me aperceber,
quero dizer, alguma coisa que eu tenha esquecido sobre a
mesa-de-cabeceira, um parafuso, uma porca, um anel ou a pulseira de
pechisbeque que comprei no ano passado na barraca do cigano zarolho,
mas não sei, meu querido, talvez o copo de água, talvez devido a um
dos vidros da janela do quarto estar quebrado, mas... esta dor –
Dormes poucos, meu querido – e não, não durmo pouco, nunca dormi
pouco, e recuso-me a admitir de durmo pouco, mas durmo, sonho, às
vezes, com pedras – Acreditas nisto? Quem sonha com pedras? - mas é
verdade, sim, eu sonho, porquê?
(domingo vou à penitenciária visitar o André)
Porque, meu querido, não é normal sonhares com
pedras, as pedras não são, não fazem parte dos sonhos – Então
com que objectos posso eu sonhar? Se existem objectos para o
efeito... - ora, sei lá agora, podes sonhar com o mar quando desce a
tarde – Não gosto mais do mar – podes sonhar com as gaivotas em
voos triangulares sobre o Tejo – Também deixei de gostar do Tejo e
de triângulos – olha, porque não sonhares com
(sinto-o muito magro, diz que não lhe apetece
comer, diz que não dorme, que a cela é sombria e húmida, tem os
olhos adormecidos, percebes? Parecem o romper da madrugada, mas por
alguma razão externa à natureza, a madrugada ficou submersa no
horizonte, meia sombria, meia adormecida, meia ensonada, são assim,
os olhos do André, sabes? Tenho, tenho pena dele e da solidão que
habita nele, tenho pena de ser eu a única visita que tem, a mãe,
que não pode, sempre atarefada, a irmã, estuda à noite e trabalha
de dia, o irmão mais novo, que não tem coragem para entrar numa
penitenciá, tretas, meu querido, tretas, porque a mãe encontro com
o amigo, de braço dado a passear no Rossio, à irmã, sim a que diz
estudar e trabalhar, essa galdéria, vejo-a sempre com namorados
diferentes rua acima, rua abaixo, e)
Experimenta sonhar com nuvens – Nuvens? - vou
agora sonhar com nuvens...
(e o cabrão do irmão mais novo sempre com o rabo
sentado na sala de jogos, umas vezes a jogar bilhar, outras a ver
jogar bilhar, e quando está teso, sabes como é, faz-se à vida, e
vai até Belém, engata aqui, engata ali... e o irmão que se lixe –
Sabes, meu querido? - tenho pena do André...)
Depois lembrava-me de chuva, e a chuva faz-me
recordar as árvores, e as árvores a terra, e a terra o cheiro, e o
cheiro..., um quintal esquecido no meio do capim – Talvez consiga
sonhar com as bonecas de porcelana da tia Clementina – boa, porque
não tentas?
(sinto-o triste, coitado do André)
Às vezes, lembrei-me agora mesmo, tenho medo do
sono, é isso, medo de adormecer e não acordar – Medo de morrer...
- não, não é medo de morrer, é medo, medo de não acordar, ficar
eternamente a dormir, sem pegar em livros, sem ver palavras, sem
olhar as flores . Sem ires visitar o André! - sim, também, é esse
medo que me preocupa, é esse medo que não me deixa adormecer, assim
– Assim enquanto estiveres acordado... - claro, enquanto estiver
acordado tenho a certeza que a terra não dorme, e tenho a certeza
que a noite não termina nunca, e
(triste)
E consigo ouvir uns pássaros parvos que não dormem
nunca, oiço-os toda a noite – Se calhar estás a sonhar que ouves
pássaros...! - a sonhar, eu? Eu não sonho, deixei de sonhar, não
acredito em sonhos, não
(estás tão pálido, meu querido)
Que não, porque a claridade existe para te proteger
das embaciadas línguas de fogo que a maré lança para os barcos, e
quando pensávamos que estávamos de mão dada, tu, percebias que eu
tinha deixado de existir, estavas só, como sempre, só, e eu, eu
nunca percebi a tua solidão, ausentava-me quilómetros de rio até
desaguar nas rochas juntamente com o descarregador do esgoto, e
(misturavas-te com a cidade)
E como sempre, a cidade perdidamente perdida nas
arruadas sem saída – Tens visitado o André? Como está ele? - uma
cidade penumbra com janelas de vaidade, casas que chegam ao Céu, e
automóveis que não cessam nunca de caminhar, não dormem, como ele
(triste, muito triste, mas vai-se aguentando)
E como ele, também os outros, aqueles que acordam
cedo, e correm para a cidade, fazem-se à vida, às vezes têm azar,
e é a vida que se faz a eles, outras vezes, são uns pássaros
negros, muito grandes, maiores que os edifícios – Aviões? - sim,
esses mesmo, que os levam e nunca mais regressam...
(e que nunca mais vou sair daqui – Claro que vais,
André, claro que vais).
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Infinito Inferno
foto: A&M ART and Photos
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Se eu me perco mar adentro
dizes que sou um barco desgovernado
em sofrimento
um barco aparvalhado,
E nem gota de água consigo ser
nem tão pouco um papagaio de papel
não sou palavra de escrever
nem ponta de cordel,
Se eu me perco perdido vou andar
quando da noite de Inverno
a nossa lareira se apagar,
Livremente só como as árvores em flor
perdidamente alegre dentro do infinito
inferno...
no indiferente amor.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
quinta-feira, 4 de abril de 2013
E no Sábado?
foto: A&M ART and Photos
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Há uma parede ínfima que separa a saudade da
vontade de regressar, há uma brecha na parede ínfima onde me é
permitida a entrada, e mesmo sendo apenas ao Sábado, eu entro, e
fico lá, a olhar os pedaços de loiça que sobejaram da catástrofe
que as madrugadas sem destino provocaram na melodia que junto à
noite ouvíamos, provavelmente, da casa do vizinho, mas ao longe, um
senhor de barba, todos os finais da tarde, saboreava o seu trompete,
e eu, uma criança curiosa, inventava palavras para justificar
aqueles sons, que ainda hoje oiço, cerro os olhos, e a música flui
em mim como o vento quando enrola os lençóis pendurados no estendal
perdido no quintal, lá, misturam-se couves, cebolas, tomates,
feijão-verde, alhos e algumas galinhas em processo de rescisão de
contracto, são velhas, e imaginando-as dentro de uma panela em
ferro-fundido, nunca, nunca estarão prontas para serem comestíveis,
a não ser que
(o infinito dos dias deram lugar à rapidez das
palavras, quero-as escrever e estou a sentir dificuldade de
imaginar-me sentado a uma secretária (digo – de madeira) com uma
caneta de tinta permanente a escrever num caderno sem nome, talvez
lhe coloque o nome de “Matraquilho”, Porque não? Sempre será
mais agradável escrever sobre um nome, semelhante a escrever num
corpo desnudo, e não saber o nome da folha de pele doirada onde se
escreve, “onde se lê folha de pele doirada, o escritor quer dizer
PÉTALA DE ROSA ABANDONADA”, e claro, é como beijar os lábios
mais belos do Céu e desconhecer o nome desses lábios, todos têm um
nome, uns são de filigrana, outras são de marijuana, outros..., o
nome, por favor, insira a moeda na ranhura, e rode a alavanca, e logo
em seguida tem o seu desejo concretizado, e melhor do que fazer
pipocas, porque essa ideia já é tão velha como o apelidado de
“cagar”, porque quase há trinta anos que vejo os ciganos nas
feiras a venderem pipocas, e como dizia um professor meu na
Universidade, tudo em engelharia já foi inventado, ou quase
inventado, neste momento a sabedoria está em descobrir novos e mias
económicos materiais, portanto, neste momento é na ciência de
materiais que está a sabedoria, porque de equações quase que
estamos conversados, esta agora... Pipocas..., ele há cada um)
A não ser que a minha amiga que vive na cabana a
seguir à ribeira tenha uma porção mágica para transformar
galinhas velhíssimas em novas, com coxas, com lábios, com seios,
comestíveis
(o rio enfureceu-se comigo, entrou-me em casa e
destruiu-me todos os papeis e livros, e eu não percebendo se estava
a sonhar, e eu não percebendo se estava a dormir, apenas recordo-me
de dizer – Felizmente, felizmente que alguém fez alguma coisa e
destruiu-me esta porcaria sem cheiro, semelhante a rodas de
chocolate, parecidas com bolachas de madeira – E logo eu, eu meu
querido, logo eu que sou apaixonadíssimo por rios e barcos, logo eu)
Comestíveis saudáveis, comestíveis como folhas de
alface – quando a parede ínfima que separa a saudade da vontade
de regressar, há uma brecha na parede ínfima onde me é permitida a
entrada, e mesmo sendo apenas ao Sábado, eu entro, e fico lá, a
olhar os pedaços de loiça que sobejaram da catástrofe que as
madrugadas sem destino provocaram na melodia que junto à noite
ouvíamos, provavelmente, da casa do vizinho, mas ao longe, um senhor
de barba, todos os finais da tarde, saboreava o seu trompete, e eu,
uma criança curiosa, inventava palavras para justificar aqueles
sons, que ainda hoje oiço, cerro os olhos, e a música flui em mim
como o vento quando enrola os lençóis pendurados no estendal
perdido no quintal, lá, misturam-se couves, cebolas, tomates,
feijão-verde, alhos e algumas galinhas em processo de rescisão de
contracto, são velhas, e imaginando-as dentro de uma panela em
ferro-fundido, nunca, nunca estarão prontas para serem comestíveis,
a não ser que – e dizem-me que amanhã é outro dia, claro,
compreendo perfeitamente minha querida senhora, mas... E no Sábado?
(não sei o que são Primaveras)
Grades de sombra
(havia silêncios misturados nos sons do trompete do
homem de barba, recordo-me agora, que era branca, tipo – Pai Natal?
- Ora aí está, tal e qual, isso mesmo, e na altura eu sentava-me em
frente à porta de entrada, uma casa simples, descomplexada, onde os
aposentos de serem tão minúsculos quase que abria os braços e
atravessava o quarto, entrava na casa da vizinha, e tirando isso –
éramos felizes – e aqueles sons habitam hoje dentro do meu corpo,
ainda hoje, sento-me em frente à porta de entrada da cabana onde
habito, e apesar de não ser a mesma casa e de não ser o mesmo
local, consigo ouvir os sons melódicos do trompete do senhor com
barba branca, talvez do tempo, talvez da idade, talvez dos versos...)
E o teu corpo prisioneiro em grades de sombra, num
castelo de areia, tão alto, tão alto, que é quase impossível
alguém subir, subir – se ao menos soubesses voar! - Pois, mas
infelizmente não sei voar, pois, mas infelizmente tenho medo que a
areia ceda, e se transforme em grãos como bolas e sabão quando
éramos crianças e andávamos pelas ruas do bairro a lançar
bolinhas para a atmosfera, hoje, ainda as vejo, às vezes, a
atravessarem o horizonte entre voos rasantes e lentidão de saliva, e
o teu corpo lá, lá, lá...
(A não ser que a minha amiga que vive na cabana a
seguir à ribeira tenha uma porção mágica para transformar
galinhas velhíssimas em novas, com coxas, com lábios, com seios,
comestíveis – Depois de amanhã é Sábado – e mesmo assim
talvez não seja este Sábado que vou conseguir entrar através da
brecha da parede ínfima que separa a saudade da vontade de regressar
– só se as comermos assim, mesmo assim, duras)
Lá, na rua onde vivemos, aprisionado a grandes de
sombra, e lá – Lá o quê? - lá bem no alto a entrada no castelo
para chegar à cela invisível onde ela come e dorme e vive... e
dizem que ama.
(quase ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Porta do Silêncio
foto: A&M ART and Photos
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A última bebida da noite disfarçada
de palavras
simples duas pedras de sílabas
e uns singelos lábios
como se a noite continuasse a viagem
até à ilha dos livros
atravessando a porta do silêncio,
Tenho dentro de mim
o teu espelho de infância onde te
olhavas e brincavas
e às vezes te esquecias de adormecer
de tanto te olhares
e de tanto o teu corpo crescer,
O fim da história
do livro e do poema e da vida
sempre o derradeiro fim como a
encerrada solidão
sem que a mão humana consiga abrir as
janelas do sonho
como fazem os peixes quando descem ao
fundo do rio,
O fingimento da felicidade
dos sorrisos falsos em falsos lábios
de falsas cabeças
a dor quando o corpo transpõe a
fronteira da loucura
e se vai sentar no banco de uma
enfermaria com plátanos encarnados
e olhos azuis embrulhados em gotinhas
de água,
Tudo à minha volta é falso
o dia e a noite e a liberdade e a
Primavera que só existe em literatura
o falso amor com falsos sorrisos em
falsas dores
com falsos juízos
mas tudo tudo é cor que dorme na tela
do sofrimento...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
quarta-feira, 3 de abril de 2013
A Catedral dos cigarros sem filtro
foto: A&M ART and Photos
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(terça-feira de Abril)
Lembras-me a Catedral dos cigarros sem
filtro
com as suas quatro janelas de acesso ao
inferno,
lembras-me a luz desperdiçada pelas
frestas do desejo
sabendo tu que lá fora há uma boca
com fome,
de braços abertos, e agarrado à
pernada da árvore junto ao cemitério,
Não cessa de chorar
nem entra na escuridão enquanto não
se alimentar,
não acreditas nos plátanos sobre os
bancos de madeira
que o jardim da Vila esconde, e te
sentavas, como uma flor de livro na mão,
não cessam nunca, essas bocas, às
vezes, poucas e loucas,
Às vezes
triângulos de tédio abraçados a
cubos de gelo,
às vezes, às vezes sinto-me a
caminhar sobre o Tejo,
sou uma gaivota ou um velho cacilheiro,
às vezes, sou eu mesmo, um velho
desiludido, um velho sentado no infinito do abismo...
Às vezes, visto-me, sim, também me
visto e lavo e tenho higiene,
como estava dizendo, às vezes,
visto-me de ponte iluminada pelo teu azul
que suspendes no teu corpo de texto
ficcionado,
às vezes, minto-te dizendo-te que
estou bem alimentado,
mas não estou, porque estou cansado,
ou... porque... apenas me apetece dizer-te que sim,
Que comi as bolachas e bebi o leite com
chocolate,
que fumei cigarros imaginados, porque
deixei de fumar,
que, às vezes, (isto só para nós)
não me apetece sorrir nem falar nem escrever,
e escrevo, sem o saber, sem perceber
porque o faço...
porque às vezes, às vezes o que eu
queria era voar, e deixar de ter ossos e olhos verdes...
(permita-me reflectir sobre os seus lábios, sabendo
que não me pertencem, mas como é usual vê-los passear em frente à
estação de Cais do Sodré, tenho a dizer-lhe a si e a eles –
Lábios, que a minha vida melhorou significamente após o encontro
entre os meus olhos verdes e os seus lábios azuis, de tal forma, que
hoje, terça-feira, posso garantir-lhe que nunca mais me doeram as
costas, a rótula do joelho esquerdo, e melhor ainda, a dor que
sentia na perna direita, essa, desapareceu como desapareceram as
moedas de Euro que me acompanhavam na algibeira, mas aí, a
responsabilidade não é da menina, nem tão pouco da cor da sua
pele, apenas deve-se
- à má gestão do meu misero dinheiro,
um dia quis ser bailarino, depois, costureiro, nunca
dancei, mas garanto-lhe que cheguei na infância, e tenho como
testemunha a minha querida mãezinha, a desenhar vestidos e a
confeccioná-los, e tão giros que ficaram... tinha um boneco, a que
parvamente o apelidava de chapelhudo, servia-me de modelo, e amigo,
confidente, e personagem de texto não escrito, apenas falado entre
mim e as pombas e as galinhas, e tudo isto, num enorme quintal, em
Luanda, debaixo das mangueiras, tínhamos um portão de entrada, em
ferro, que dava uma certa coloração – Não filha, não é ao seu
corpo! - ao bairro, estava a falar do Bairro Madame Berman, claro,
claro que quando chovia ficava encerrado em casa a desenhar com
carvão nas paredes do corredor, quarto e casa de banho, e não me
perguntes porque o não fazia nas paredes da sala, não o sei
explicar,
- e hoje não me parece terça-feira,
e quando te falava no portão de entrada, claro
minha filha, referia-me à chegada do avô Domingos, coitado, tão
cansado de andar pelas ruas da cidade com um cordel a puxar um
machimbombo, abria-o – sim filha, o portão, o que querias que
fosse – voltava a fecha-lo, pegava-me ao colo, e, e dava-me um
beijo,
- hoje?
amanhã, talvez me recorde,
- e nunca mais soube a cor do céu e vi o sorriso do
mar.)
E deixei de amar, ser novamente a
criança com os calções e as sandálias de couro,
não pensar em livros, em termodinâmica
ou mecânica, ou literatura, ou amor,
e deixei e desaprendi que o teu corpo
reabsorveu o azul do céu e o sorriso do mar,
e..., que as árvores (não vais
acreditar) que as árvores, agora, pensam como nós,
e que amam, como nós, não hoje, mas
quando ontem era ontem, e não terça-feira...
(não revisto, ficção)
@Francisco Luís Fontinha
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