Perguntavas-me o que eu
queria ser
Um dia.
Olhava-te
Olhava-te e fixava o meu
olhar no céu
E nunca tive coragem de
te responder;
E tivemos muitos dias
Só eu e tu
Só tu e eu
E mesmo quando te vi a
voar
Sobre as nuvens
envenenadas da tristeza
Eu
Eu não tive coragem de
dizer-te
Apenas
Que não queria ser nada
Ninguém.
Mãe
Simplesmente não quero
ser nada
Ninguém;
Percebes?
Podia ter sido muita
coisa
Umas boas
Outras más
Poderia ter sido
estilista
Carpinteiro
Pedreiro
Agricultor…
Não
Nunca gostei da
agricultura
Poderia ter sido
serralheiro
Motorista não
Não
Nunca gostei muito de
automóveis
Camiões
Não saí aos meus avós e
pai
Eu era mais barcos
Poderia ter sido tanta
coisa…
E hoje escrevo
E enquanto escrevo
Sei que não sou nada
E enquanto pinto
Nada sei que serei.
Também nunca quis ser o
que não podia ser
Tão pouco
Se queria ser
E no entanto
Aqui estou
Não sendo nada
Preferindo o nada ao tudo
E mesmo que seja muito
É pouco
É nada.
Aquando me olhavas
Eu
O comandante deste navio
Mentia-te;
E enquanto esperavas uma
simples resposta minha
Eu
Fintava o olhar
E distraidamente
Respondia-te;
Está tão lindo o céu de
Luanda mãe.
Alijó, 11/12/2022
Francisco Luís Fontinha