Do oiro imaginário às sete drageias
do destino, sobe a montanha em direcção ao céu, senta-se à sua direita e,
adormece. O vento arranca-lhe os rochedos aprisionados ao olhar magnético que a
divina montanha desenho quando nasceu. A casa, dorme.
Sinto-lhe a mão suspensa numa
imagem a preto e branco
Assim morreu depois do sono.
O mar entra-lhe pela janela da
paixão, a imagem a preto e branco alicerça-se ao cansaço matinal, acordava
sempre maldisposto, noites de insónia ventiladas pelo sexo das flores, cinco
imagens dormem sobre o velho cabelo e, sempre que imaginava o mar
O mar dança na sua mão.
Dizem que o mar é um velho preguiçoso,
mulherengo durante a noite, insatisfeito ao pôr-do-sol; tínhamos desenhado as
estrelas sobra a areia fina do Mussulo, ela, dançava em cima da sombra cansada
das palmeiras, e ele, vestido de marinheiro, fazia-se ao mar, todas as
sextas-feiras, o barco voava nas montanhas pinceladas de carvão.
Tenho fome, mãe.
Come pão.
Quero uma sandes.
Só tenho pão.
O pai, zangado, oferecia-lhe sandes
de pão com pão, dizem aqueles que experimentaram ser sem dúvida o melhor manjar
da ilha dos amores.
A ilha tinha uma janela voltada
para os lábios da solidão, quando acordava travestido nos calções de porcelana,
dos braços saiam-lhe palavras que mais tarde, depois da caminhada improvável
sobre a areia, deitava sobre os seios da madrugada; tirava fotografias aos
barcos acabados de morrer.
Um dia, depois de sepultar a tarde
numa jarra com água-benta, foi de encontro aos retractos deixados numa caixa em
papelão, pelo pai, quando este fugiu para Ambriz, numa bela tarde de finados. Ontem
tudo parecia uma folha em papel envenenada pelo desejo,
Comeu-as todas,
E, não só de desejo vivia ele,
também acariciava as palavras embriagadas pelo mordomo, que de enxada não mão,
fazia dirigir as cabras para o areal; todos os dias, o medo de que alguém estivesse
abraçado à tristeza.
Os desenhos queriam sair das
paredes velhas de um café em ruínas, lia o jornal, vaticinava sobre o fim da
guerra e, quando se deitava, sempre à procura do medo de não acordar ao outro
dia, dizia-se Ateu, apenas para enganar a solidão,
Hoje, não.
A cabeça pesada, os vómitos das
curvas endiabradas e, sempre que questionava se faltava muito,
Dizia-lhe, estamos quase, estamos
quase.
As laranjas sabiam a saudade, de todos
os livros que tinha, um deles era sobre o mar
Abraça-a todas as noites.
Havia um louco que não sabia andar
de bicicleta, transportava-se num velho triciclo que tinha pertencido a uma
família de gaivotas, acabadas de partir devido à guerra, hoje
Nada sei de o doce olhar do
amanhecer.
Hoje, sinto uma fina angústia de
sono junto aos tornozelos, os cigarros são sombras inventadas pelo velho
cozinheiro da aldeia e, em todas as ruas, uma estátua de luz dorme.
“O sexo entre duas pedras de gelo e
uma doze de uísque”
- Do oiro imaginário às sete drageias
do destino, sobe a montanha em direcção ao céu, senta-se à sua direita e,
adormece. O vento arranca-lhe os rochedos aprisionados ao olhar magnético que a
divina montanha desenho quando nasceu. A casa, dorme.
Sinto-lhe a mão suspensa numa
imagem a preto e branco
Não sei, talvez,
E, sempre que pode, senta-se numa
pedra junto ao mar.
Francisco Luís Fontinha, Alijó
06-08-2021