Uma
esplanada de desejo, em verso, suspensa na nuvem teu olhar, ao longe o grito
dos pássaros famintos, o vento alicerça-se no teu cabelo, suspiro, abraço-te
quando os ponteiros do relógio indicam a próxima tempestade de areia,
E,
sinto,
Amanhã,
meu amor,
As
donzelas flores na mão de Creta,
Na
ilha do desejo, onde habitam as esplanadas,
Vêem-se
as ondas de espuma do teu sorriso.
Amanhã,
meu amor,
Os
pássaros famintos de que te falei,
Hoje,
dormem na tua mão,
E,
são felizes, meu amor.
O
sítio perfeito para adormecer, pego no cobertor de versos, acaricio o lençol de
palavras que te escrevo e, envio, todas as manhãs, antes do Inverno acordar.
Sinto o teu corpo embrulhado no meu, pareces uma tela nas sombras da espátula
que se entranha no teu púbis e, são felizes, meu amor,
Todos
os pássaros,
E,
são felizes, meu amor,
Todas
as rosas do jardim das palavras vivas.
Amanhã,
meu amor,
Numa
cama de espuma nos vamos deitar,
Brincar
com as telas imperfeitas, quase mortas, dos meus textos envenenados,
Antes,
pela loucura, hoje, pelo amor.
Acorrento-me
a ti, escrevo na tua pele, as palavras minhas,
Quão
sombras, outras coisas suspensas nos teus lábios,
O
sábio, o louco,
Descendo
a calçada para a morte.
Impressionante,
este cubículo de areia, os brinquedos todos alinhados, para que as crianças que
somos, brinquem como os livres pássaros, que da montanha masturbam as nuvens de
azoto e, cantam.se cantigas de embalar, à noite, quando te despes, o silêncio
vagueia no teu cabelo, uma lâmina de desejo, avança de encontro à janela e,
todas as clarabóias do prédio choram a tua partida,
Amanhã,
meu amor,
Os
doentes caules das plantas de granito,
São
rosas, são pão, são beijos…
Na
tua boca de silicatos adormecidos.
Hoje,
sinto a maré nos teus seios,
Sei
que pertencem apenas a ti, mas também as minhas palavras,
São
as tuas palavras, são o sumo da uva, o glorioso vinho,
Que
brinca na eira de Carvalhais,
E,
não tenho mais pássaros para desenhar, meu amor,
No
teu corpo nu, obscuro, simples, assim, como as palavras que escrevo.
O
dia acorda, as sílabas levantam-se como caracóis despedidos sobre a mesa de jantar,
uma vela, recheada de desejo, ilumina-nos, como se fossemos pequenas estrelas
em papel, dançando na espuma da noite.
Amanhã,
meu amor, todos os candeeiros a petróleo, são, talvez, uma janela para o mar.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
18 de Agosto de 2020