domingo, 16 de agosto de 2020

As palavras do poeta

 

Das palavras frias e esquecidas

Emerge o sonho do poeta,

Das palavras cansadas, vadias,

Correm nas mãos do poeta.

Nas ruas desertas e frias,

Entre janelas e clarabóias perdidas,

Que dormem na cidade inventada.

O sonho do poeta,

Quando escreve na esplanada deserta,

Vêm os milhões de gritos,

Desejos,

Do poeta,

Entre beijos.

O dia.

Quando o poeta acorda,

Dança sob a chuva miudinha,

São palavras, do poeta,

Aquelas que ficam esquecidas,

Nos olhos da amante do poeta.

Beijo.

O beijo do poeta

Nos lábios pincelados do poema,

As rosas, os jardins do poeta,

Numa qualquer cama.

(Das palavras frias e esquecidas

Emerge o sonho do poeta)

O medo.

A sombra que mata o poeta,

Quando a cidade se esconde no mar,

Quando o poeta desenha o próprio mar,

Na lareira da noite,

Quando a noite abraça o poeta,

Quando o poeta morre no poema.

Os versos,

As rosas das mãos do poeta,

São prosas,

São palavras…

São o fumo da montanha.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 16/08/2020

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