O
que faz a palavra na mão do transeunte faminto;
Comerá
a palavra o transeunte faminto?
Comerá
o faminto transeunte a palavra?
E
se forem muitas palavras?
Muitos
livros?
Como
ficará o transeunte faminto!
Eu
escrevo palavras.
Confesso
que já tive fome.
Confesso
que já me apeteceu comer as minhas palavras.
Mas
fui infeliz ao cultivá-las!
Como
quem cultiva o cereal e depois, da colheita,
Não
tem coragem de comer o pão do cereal que cultivou.
Um
livro come-se na madrugada.
Folheia-se
no infinito deserto do pensamento.
Um
livro não se como.
É
indigesto durante a noite.
Um
livro só é comestível quando se faz amor na madrugada.
Quando
os pássaros poisam no peito da amada.
E
o livro, ao poucos, em pedacinhos, como as migalhas da manhã…
Desparece
no estômago do transeunte faminto.
Assim,
para não me zangar com o vento,
Semeio
palavras no meu jardim.
E
sou tão feliz assim!
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
14/10/2019