O
sorriso. O silêncio que habita o sorriso, camuflado na montanha da solidão, o
abismo da tristeza embainhada no clitóris da paixão, quatro paredes em suspenso,
o sofá com o desenho do meu corpo, ele, dorme,
Hoje
é um dia triste, diz ele em frente ao espelho do sofrimento, da horta regressam
os pássaros moribundos, capazes de fazer amizades em qualquer situação,
Não.
Não
o encontro, abro as janelas, abro todas as portas e todos os telhados da minha
pobre casa, mas ele não está, dorme
Hoje
há tripas.
Dorme
como o silêncio que habita o sorriso, e as estátuas parecem o meu corpo antes
de acordar, mórbido, cansado de sonhar, triste, também ele,
Hoje,
Não.
Pego
num livro, folheio-o e encontro finalmente a amizade, três palhaços, uma
pequena tenda de circo e uma contorcionista escreve poesia nos lábios dos
espectadores impávidos, ciumentos, capazes de gritos histéricos ao cair a
noite,
Hoje?
Hoje,
não, meu amor…
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
22/03/2019