terça-feira, 19 de março de 2019


Não sei, meu pai, não... sei,

O frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas de desejo, António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos como se de uma reza se tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe suspenso nos ombros um fino silêncio de noite, imaginava vãos de escada em cada esquina, desenhava na geada pequenos quadrados, depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,

Um cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes se abraçaram a ele

E ele?

Incrédulo,

Vocês. Aqui?

 

 

In “Amargos lábios do poema”

Francisco Luís Fontinha – Alijó

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