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terça-feira, 19 de março de 2019


Não sei, meu pai, não... sei,

O frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas de desejo, António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos como se de uma reza se tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe suspenso nos ombros um fino silêncio de noite, imaginava vãos de escada em cada esquina, desenhava na geada pequenos quadrados, depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,

Um cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes se abraçaram a ele

E ele?

Incrédulo,

Vocês. Aqui?

 

 

In “Amargos lábios do poema”

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 19 de março de 2017

Cidade em pó


Imagino os teus olhos lacrimejantes nas paisagens do Congo,

Transportavas no corpo as serigrafias do sono…

Que apenas um rio te separava da inocência,

Tinhas na algibeira os cigarros e a fotografia da tua mãe…

Inventavas poemas com palavras esquecidas no capim,

Que o cacimbo apergaminhava na aventura da escuridão,

Lá longe ficava a barcaça imaginária de um dançarino obsoleto,

Sentavas-te nas montanhas da tristeza e rezavas,

Rezavas pela melancolia dos destinos transparentes do olhar de uma serpente,

E nunca percebeste que eu um dia eu te recordaria como um sonâmbulo obscuro,

Que transporta os alicerces de uma cidade em pó…

E em pó te transformaste.

 

 

Francisco Luís Fontinha

19/03/17

sábado, 19 de março de 2016

Tristes dias


São tristes os dias sem ti

Que a noite alimenta

Sem saber que a solidão existe

E mente como mentem todos os relógios…

Que o meu pulso abraçou,

São tristes as madrugadas

Sem os teus gemidos

E sofrimento,

São tristes os dias sem ti

Que a noite lamenta

E descobre em cada sombra

O abraço passageiro da melancolia…

São tristes

Os dias…

Sem ti

Enquanto dormem as tuas mãos no meu rosto…

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 19 de Março de 2016