Imagino-te
arrastando os suspensórios do cansaço,
O
cigarro suspenso na boca,
E
nas mãos as minhas mãos,
Trémulas
como a tempestade…
Apareces,
Desapareces,
E
ausentas-te durante o sono,
Entras
nos meus sonhos,
Escreves
no meu corpo com a caneta da saudade,
O
rebelde menino,
Sentado
à janela a olhar o mar…
Sinto-te
dentro de mim,
Alimentas-te
do meu sofrimento,
E
pertences às flores do meu jardim,
Imagino-te
arrastando os suspensórios do cansaço…
Enquanto
lá fora alguém chora a tua partida,
Apátrida
memória que se alicerça aos meus braços,
E
tens no olhar um triciclo, um velho triciclo moribundo,
Doente,
Sem
nome…
Imagino-te,
meu amor,
Deambulando
pela casa embriagada de dor,
Os
cinzeiros cessam o sorriso dos teus lábios,
Há
no teu corpo uma barcaça desnorteada,
E
que se afunda no meu Oceano…
Fico
com medo de perder-te…
E
perdi-te sem o saber…
Foste,
foste sem dizer Adeus,
E
nem coragem tiveste de escrever-me…
Abraçar-me,
Dizer-me
que partias e um dia aparecias no meu peito,
Como
se fosses uma gaivota junto ao Tejo.
Francisco
Luís Fontinha
sexta-feira,
27 de Maio de 2016