Dia 11 de Junho pelas
17:00 horas
terça-feira, 10 de maio de 2016
Chorar nas mãos a amargura de viver
Não
tenho fome,
Mas
comia todas as palavras
Se
a noite me deixasse…
Este
terraço sem nome
Que
as estrelas absorvem,
E
levitam como se fosse um pássaro desnorteado,
Confuso,
não, não tenho fome,
Nem
me ausento do teu amar.
Não
tenho fome nem sinto o madrugar,
Tenho
sobre os ombros o silêncio deste telhado
Com
vista para o mar,
Tenho
no olhar o sangue de chorar,
Nas
mãos a amargura de viver…
Não,
não tenho fome,
Nem
vaidade
Ou
vontade de escrever.
Francisco
Luís Fontinha
terça-feira,
10 de Maio de 2016
segunda-feira, 9 de maio de 2016
A embriaguez nocturna das sementes
O
desgosto da vida.
Sinto
a chuva explorando o meu débil corpo,
Que
a noite alimenta
Como
a morte se alimenta dos corpos,
Há
uma película de sémen alicerçada às tuas mãos
De
pergaminho,
As
palavras fogem-me e sinto-me um inútil desgovernado…
Um
barco sem comandante.
O
deserto de ser eu,
A
areia fina das tuas lágrimas entrelaçadas nos meus dedos,
O
silêncio, meu amor,
O
silêncio que confunde o horário do meu pulso,
E
mais logo se inverte na escuridão,
Sei
que estou aqui de passagem,
Ando
de rua em rua para te recolher e agasalhar no meu peito…
Mas
é-me difícil encontrar-te,
A
embriaguez nocturna das sementes nas profundezas da terra,
Tão
fundas, meu amor, e tão belas, meu amor,
Estremeço
se te encontrar,
Morro
de aflição pela tua ausência…
No
suicídio do poema.
O
desgosto da vida, o corpo despovoado de ossos e pequenos répteis…
Tenho
uma cobra abraçada ao meu pescoço,
Um
ténue letreiro onde alguém escreveu… FIM.
Não
tenho amigos, amigas,
Tenho
livros assassinados por mim,
De
noite olho todo este amontoado de cadáveres envenenados pela paixão,
E
tu, meu amor, e tu sempre ausente deste cemitério de palavras e desenhos,
Apenas
eu, meu amor, apenas eu olho para eles…
E
vejo o meu rosto sofrido.
O
desgosto da vida,
A
vida nas pedras húmidas da manhã
Quando
a chuva se estende até ao mar,
A
penumbra madrugada
No
esconderijo do sono,
As
minhas mãos, meu amor, abstractas, e não dou conta da vida se escoar em
direcção ao Luar,
O
segredo que faz com que eu não te encontre,
Percorro
esta rua,
Percorro
aquela rua,
Com
saída,
Sem
saída…
E
tu, meu amor, sempre no desgosto da vida.
Francisco
Luís Fontinha
segunda-feira,
9 de Maio de 2016
domingo, 8 de maio de 2016
Confissões de um louco apito
Os
comboios só apitam durante a noite para assustarem as estrelas,
As
rectas paralelas em aço estendem-se até ao infinito, chegando lá, o comboio
desaparece, entranha-se na noite e morre.
Encurvado
nos socalcos levo comigo as curvas do Douro, lanço-me à água… estou farto das palavras
que escrevo, estou fartos dos meus desenhos, como a vida que gira e não se
cansa de cessar, parar sobre a ponte e suicidar-se sobre os rochedos da
insónia.
Oiço
o grito da aranha no cansaço da madrugada,
Sei
que habita um rosto no espelho do meu quarto e certamente que não é o meu,
porque nunca o vi, apenas em pequenos tragos de saliva ao pôr-do-sol,
Quero
expulsá-lo de lá…, mas não tenho força para tal; parto o espelho?
Quebro-o
até que o rosto se transforme em mim? Ou este será o meu rosto depois da minha
morte?
Os
comboios só apitam durante a noite, fiz muitas viagens, muitas noites sem
dormir, entre apitos e soluços, entre estações e apeadeiros desconhecidos,
entre gritos e gemidos, até desaguar em Santa Apolónia pelas sete horas da
manhã, as ruas acabavam de acordar, os sem-abrigo levantavam-se para o
invisível pequeno-almoço, e eu, e eu fumando cigarros para não adormecer,
Mas
acabava sempre por cerrar os olhos e passar o dia entre os cortinados da
escuridão e os sons melódicos do trânsito, a loucura, cruzava os braços e
punha-me a contar os automóveis que passavam por mim, depois separava os que
eram homens e os que eram mulheres, as crianças à parte… e assim passava o dia.
Regressava
a noite e eu tinha vendido o sono ao Diabo, saía na companhia de desconhecidos,
entrava em todos os bares até adormecer sobre qualquer banco de jardim, e
enquanto dormia, sentia, sentia os apitos do comboio…
Tudo
isto está escrito e sepultado em três caixotes de cartão,
Confesso
que nunca mais os abri, não tenho coragem para os abrir…
Papeis,
fotografias, poemas, e fantasias…, mas para quê remexer o passado e este está
morto, e enterrado no meu peito.
Os
perfumes intactos, uma velha rosa dentro de um livro, intacta, e a minha vida
pedaços de farrapos em construção, hoje uma pequena vitória, amanhã uma grande
derrota…
Amanhã
faz vinte e dois anos que deixei a heroína…
Uma
grande vitória.
Francisco
Luís Fontinha
domingo,
8 de Maio de 2016
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Belém,
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Poesia,
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vida
Location:
5070 Alijó, Portugal
sábado, 7 de maio de 2016
Ausento-me de ti na noite
Era
forçado pela pressa das coisas. O silêncio imaginário da manhã quando pegavas
na minha mão ao desaparecer no meio dos transeuntes da cidade perdida,
Escondia-me
das sombras dos aciprestes,
Porque
assim, pensava eu, estaria mais protegido das estrelas, mas não estava.
A
noite era uma aventura,
Eu
preferia ler, e tu, e tu preferias passear, que confesso, que confesso não me
apetece nada caminhar apenas por caminhar,
Se
ao menos caminhasse em direcção ao Luar… era forçado pela pressa das coisas,
Tens
de fazer isto, amanhã tens de fazer aquilo…
Chega.
Detesto receber ordens de arbustos e munto menos de ti.
Sou
feliz assim, confesso.
Não
dou nem recebo ordens,
Sou
livre, voo na companhia das gaivotas ao final da tarde junto ao Tejo,
Depois
poiso em Belém,
Acorrento-me
às amarras invisíveis da maré,
Olho
os veleiros em atropelos sem que ninguém lhes valha…
Como
a mim,
Nem
palavras nem poesia,
Nem
os livros me deixam adormecer quando tu, depois de caminhares em círculos,
cansada, dormes, eu olho-te e finjo não te ouvir, prefiro ausentar-me na noite,
e regressar quando já o dia bate na janela do nosso quarto,
Descerro
a lápide do desassossego, não encontro nela o meu nome…
Deixei
de pertencer aos humanos visíveis das avenidas laminadas pela escuridão,
Tenho
no peito um fantasma, um falso coração que em vez de amar…
Bate,
bate sem parar…
E
um dia vai parar,
E
nesse instante serei o homem mais feliz do Universo,
A
minha morte; as coisas cessam, e deixam de ter pressa,
E
deixam de ter graça.
E
eu, e eu serei apenas eu…
Uma
carcaça.
Francisco
Luís Fontinha
sábado,
7 de Maio de 2016
sexta-feira, 6 de maio de 2016
Transatlântica manhã de Inverno
Os
cigarros no atropelo da noite
Sem
ninguém junto ao luar,
Os
viciados poemas cansados de lutar
Na
ânsia da alvorada,
O
preguiçoso mosquito… sobre a mesa-de-cabeceira,
Entre
círculos e quadrados,
Entre
geringonças e roldanas falsas,
E
de cabeça lapidada…
Vou-me
a eles,
Aos
cigarros,
Fumo-os
e escrevo no teu ventre a poesia anónima do destino,
Corro
sobre o arvoredo,
Salto
a montanha,
E
sento-me nos rochedos da miséria,
Vagabundo
vegetariano do mundo indefeso,
Sinfonia
dos morcegos
Nas
tardes junto ao rio,
Ao
longe o teu olhar cor de pérola amargurada
Difuso,
Distante
dos meus olhos vidrados pela geada,
Os
cigarros em transe,
A
madrugada sitiada
No
meu coração…
E
sinto-me um prisioneiro do amanhecer,
E
sinto-me um cardume indefinido pelo sexo, idade ou religião…
Perco-me
em ti,
Como
se fosses uma transatlântica manhã de Inverno
Sobre
os carris da insónia,
Grito,
Grito
enquanto dormes sobre o meu peito,
E
se me ouves…
Diz-me…
Como
se chamam as pedras do teu sorrir
Que
me acordam ao entardecer.
Francisco
Luís Fontinha
sexta-feira,
6 de Maio de 2016
quarta-feira, 4 de maio de 2016
A flor desenhada no chão
Finalmente
o sossego chegou.
Liberta-se
a tarde dos braços do dia,
Quase
noite, oiço no interior do meu corpo o outro eu,
Cansado
com a vida,
Não
vê TV…
E
só ouve poesia.
Debruça-se
no parapeito da janela sem vista para o mar,
Fuma
uns quantos cigarros de enrolar, e saboreia a Lua que se avizinha,
Não
tem medo do escuro, não tem medo da chuva,
Mas
tem medo da vizinha.
Algures
do outro lado da rua
Uma
flor desenhada no chão lê “LE CLÉZIO” … “A febre”,
E
eu, sem razão aparente, sinto o calor no meu corpo,
Talvez
contaminado pela “febre”, talvez porque a flor desenhada no chão
É
a flor mais bela que nos últimos anos vi no meu jardim,
O
outro eu, entretido com os cigarros de enrolar…
É
doido,
Ouve
poesia,
Despensa
a TV…
E
nem se apercebe que terminara o dia,
Levanto-me,
estonteante, sinto um círculo de mobiliário do Século passado,
E
livros,
Tento
abraçá-lo, ele foge de mim como se eu fosse uma nuvem poeirenta,
Com
fome,
E
com a tempestade no ventre,
Fervilho,
a flor desenhada no chão fecha o livro, sorri e desaparece como desaparecem as
andorinhas depois da Primavera,
Finalmente
está a chover,
E
a “febre” começa a baixar,
Já
consigo andar,
E
sorrir
Para
a flor desenhada no chão.
Gosto
de Jazz, também gosto de poesia, se possível lida pela voz melódica da paixão,
E
sentir na pele o salgado mar
Das
cidades portuárias,
Embriagados
versos
Ou
marinheiros sem Pátria,
Tanto
faz,
Quer
ele queira quer não… vou abraçar o outro eu,
E
seja o que Deus quiser,
Abraço-o,
Beijo-o,
E
percebo que somos dois palhaços envidraçados,
Um
fuma cigarros à janela,
E
eu, o outro eu, encantado com a flor desenhada no chão.
Somos
uns coitados,
Um
esqueleto com duas faixas de rodagem,
Dois
parvos,
Dois
parvos.
Francisco
Luís Fontinha
quarta-feira,
4 de Maio de 2016
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