O
desgosto da vida.
Sinto
a chuva explorando o meu débil corpo,
Que
a noite alimenta
Como
a morte se alimenta dos corpos,
Há
uma película de sémen alicerçada às tuas mãos
De
pergaminho,
As
palavras fogem-me e sinto-me um inútil desgovernado…
Um
barco sem comandante.
O
deserto de ser eu,
A
areia fina das tuas lágrimas entrelaçadas nos meus dedos,
O
silêncio, meu amor,
O
silêncio que confunde o horário do meu pulso,
E
mais logo se inverte na escuridão,
Sei
que estou aqui de passagem,
Ando
de rua em rua para te recolher e agasalhar no meu peito…
Mas
é-me difícil encontrar-te,
A
embriaguez nocturna das sementes nas profundezas da terra,
Tão
fundas, meu amor, e tão belas, meu amor,
Estremeço
se te encontrar,
Morro
de aflição pela tua ausência…
No
suicídio do poema.
O
desgosto da vida, o corpo despovoado de ossos e pequenos répteis…
Tenho
uma cobra abraçada ao meu pescoço,
Um
ténue letreiro onde alguém escreveu… FIM.
Não
tenho amigos, amigas,
Tenho
livros assassinados por mim,
De
noite olho todo este amontoado de cadáveres envenenados pela paixão,
E
tu, meu amor, e tu sempre ausente deste cemitério de palavras e desenhos,
Apenas
eu, meu amor, apenas eu olho para eles…
E
vejo o meu rosto sofrido.
O
desgosto da vida,
A
vida nas pedras húmidas da manhã
Quando
a chuva se estende até ao mar,
A
penumbra madrugada
No
esconderijo do sono,
As
minhas mãos, meu amor, abstractas, e não dou conta da vida se escoar em
direcção ao Luar,
O
segredo que faz com que eu não te encontre,
Percorro
esta rua,
Percorro
aquela rua,
Com
saída,
Sem
saída…
E
tu, meu amor, sempre no desgosto da vida.
Francisco
Luís Fontinha
segunda-feira,
9 de Maio de 2016