segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Poemas Perdidos - Francisco Luís Fontinha



“Poemas Perdidos”
Formato: 16 cm x 23,50 cm
ISBN: 978-989-680-167-0
Data de Publicação: Fevereiro de 2016
PVP: 10,90 euros


Uma cidade em lágrimas


Não sabia que da textura da noite se fabricavam beijos,

Não sabia que há no luar uma habitação condigna,

Com muitas janelas

E junto ao mar…

Onde nascem estrelas

Donzelas

E desenhos de desenhar,

Não sabia que tinhas no olhar

Uma cidade em lágrimas

Embrulhada na penumbra,

Tanta coisa que eu não sabia…

Que às vezes,

Sentia

Tremia

Gemia…

Até que acordasse a manhã na tua mão!

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2016

domingo, 7 de fevereiro de 2016

O peso do corpo sobre as pálpebras do destino


O peso do corpo

Sobre as pálpebras do destino,

O menino dançando nos braços do abismo,

Esperando o regresso dos soníferos poemas de amor,

Uma canção em desalinho,

Distante deste corpo

Sobre as pálpebras do destino,

O campónio silêncio,

A despedida embainhada nas sílabas do sofrimento,

As vozes dos outros

Acabrunhadas,

Tristes

E cansadas da despedida,

Como a morte do vento,

Sinto-me uma louca locomotiva

Dançando os socalcos do Douro,

Respirando o xisto das palavras

Engasgadas nos murmuráveis anéis de prata…

 

Sofro tanto, meu amor!

 

As insígnias soberbas lentidão

Rodopiando os círculos da saudade,

O peso do corpo

Arrepiado nas amendoeiras em flor,

Desperto,

O amor,

A sinfonia da loucura aprisionada no texto do escritor,

O mar,

O meu mar suicidado nas lâminas do medo,

Sem ter o juízo,

Sem ter a aventura

Dos segredos,

O peso do corpo,

Este,

Meu…

Escorçado das insignificantes marés de areia…

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 7 de Fevereiro de 2016

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Partiram, levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira...

(…)
 
Amanhã amar-me-ás como hoje?
Mas hoje... não existe, um caixote em madeira, alguns tarecos e meia dúzia de fotografias,
Todas,
Todas a preto e branco...
Partiram, levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira,
Alguns tarecos, pouca coisa e fotocópias de fotografias envenenadas pelo silêncio, na algibeira, o amor, o desejo do mar, dos barcos e das coisas
Simples?
Os livros,
E das coisas sem nome,
Sombras de mangueira?
E beijos, das coisas travestidas de saudade, dos livros lidos nas entranhas do desejo, caminhávamos entre quatro círculos de luz, abraçavas-me como se abraçam os pássaros, as acácias e os pindéricos cabelos de nata,
Amanhã amo-te...
Partiram, fugiram das noites embriagadas com direito a limonada e a sexo, construíram cubatas nos musseques da alegria, saltaram muros e muros, tinha medo das curvas da vida, adivinhava os beijos como sendo abelhas em flor, sobre as casas sem nome, idade, e
Sexo?
Só depois das seis,
E sonhos, de um dia regressar...
Regressar, mãe?
O texto escreve-se no teu corpo, a partida pertence ao passado, triste, tão triste como fazer amor num vão de escada,
Os gemidos,
Os silêncios mergulhados na algibeira do cansaço, amanhã saberei se me pertences, maldito caixote em madeira,
Alguns tarecos, meia dúzia de fotocópias de fotografias,
O mar, mãe?
O mar.… morreu,
Como morrem todas as coisas belas,
Sinto-me um caixote em madeira, um socalco em lágrimas descendo até ao Douro, uma eira, imaginada em Carvalhais – S. Pedro do Sul, sinto-me a noite vestida de negro, abraçada aos meus sonhos, sem poder mais,
Amanhã, meu amor!
O circo, os palhaços narcisados nas palavras escritas pelo fantasma do silêncio, a minha vida uma “merda” comparada com a vida dos meus vizinhos, hoje sonhei que a pobreza tinha morrido... como se a pobreza tenha morte... este momento embriagado em poemas de amor,
Poder mais...
Os sorrisos, a mentira do soneto sobre os ombros vergados de uma enxada, o cristal opaco que sobressai nas fotografias de infância, a dor, e a doença
Sinto-me
E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me.… um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Um café Doutor?
Café...
Faltam-me os cigarros...
E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me.… um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Faltam-me as tuas mãos, mãe,
Café?
Viajo na tua saia e percebo que não temos regresso, regressar é um suicídio sem palavras, uma carta escrita, os motivos da tua ausência, as faltas da tua presença na Igreja, sinto-me quando abres a janela do quarto e tenho a certeza que estou vivo,
Bom dia, mãe...
Meu querido filho!
O livro cresce nas ardósias cinzentas da memória,
Que és enigmático, meu filho...
Que sim, minha mãe,
Que sim,
Telefonaram da Rua dos Mendigos?
Para mim, mãe?
A cidade embriagada nas sandálias do pescador, o mar, sempre o apaixonado mar, a paixão azul, do azul literário e poético..., sabes com é, mãe,
Pois,
Sei que sempre sonhaste comigo,
Eu?
Sim, tu, mãe,
Quando dizias que aos três anos de idade já voava...
Eles chegaram, o caixão ainda cheirava à tinta fresca da manhã, brincava um silêncio de olhos verdes no vão de escada,
Foder num vão escada, como fodem todas as palavras do poema...
Sabíamos que o corpo não pertencia às nossas vidas,
Clandestino, eréctil nas disciplinas do abismo, o poema esfomeado esperando o amante suicidado,
amanhã, amanhã nascerá um cansaço de medo no afastamento dos círculos das cidades embriagadas,
Sem iluminação, sem mulheres ou bares para combater a distracção, uns panfletos expostos na parede xistosa,
Há Tripas,
O caixão dançava no centro da sala de estar,
Confesso,
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,
A aldeia padece de claridade, existem fios de escuridão nos telhados cansados das palhotas de algodão,
Enigmático, eu?
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,
E palavras sem coração, sentia-me embriagado nas mãos do amanhecer, sentia-me um miúdo encostado à sonolência da idade,
A aldeia em chamas, os campos esbranquiçados na tela do desejo imaginavam canções de moluscos e alguns grãos de areia,
O desenho teu na cidade dos alicerces alienados, os bares em combustão, as miúdas dançando canções de solidão,
Amas-me?
Que não,
Que a arte vive e vai morrer no teu olhar,
Ouves-me?
E palavras sem coração, avenidas nuas, travestidas de machimbombos reumáticos voando sobre a cidade, eu... eu... adormecia,
Inventava beijos nos teus braços, a minha primeira paixão, imaginava-te uma flor triste e cansada, nos circos ambulantes da saudade,
Os sete orgasmos do Mussulo, a liberdade sobre as palmeiras invisíveis que me atormentavam, como campânulas de sofrimento, ao deitar, o caixão que dançava deixou de o fazer, dificuldades com o cachê, dispensa de artistas e cadáveres de cera, um altar recheado de almas, tantas almas como os versos do sem-abrigo quando sentado numa cadeira apodrecida de um circo ambulante,
Quero ser artista, mãe!
Nem penses..., nem... penses...
Filho meu não é artista!
 
(…)
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha
in “Amargos Lábios do Poema”

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Me grita, chora… a cada palavra sussurrada pelo teu olhar


Esta caneta de marfim

Que treme a minha mão,

Infinita na rasurada folha de papel,

Ela, absorve-me,

Como se eu fosse um filho obediente,

Capaz de rasgar todas as palavras escritas,

Esta caneta de marfim

Que às vezes dorme na minha mão,

E sonha na minha mão…

Esta caneta de marfim…

Cansada da minha mão,

Dor mar,

Do luar

E das estrelas,

Também eu me sinto cansado desta caneta de marfim

Que treme a minha mão,

Me grita,

Chora…

A cada palavra sussurrada pelo teu olhar,

A cada palavra assassinada pelos teus lábios,

Esta caneta,

Morre a cada final de página…

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 5 de Fevereiro de 2016

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A fuga


Deixei de sentir as minhas palavras no teu corpo,

Fixei as tuas lágrimas no lençol de espuma

Que cobria o teu olhar,

Cruzei os braços,

Puxei de um cigarro… e disse-te adeus…

 

Como se nunca mais te visse!

 

Ausentei-me dos teus horrores,

Alimentei-me da solidão que proliferava nas tuas mãos,

Cerrei os olhos…

Esqueci que tenho um esqueleto,

Que sou humano como tu…

 

Da sombra embriagada do silêncio à medula espinhal do desejo…

 

Fui!

Fomos!

 

E nunca mais te vi neste jardim de aromas artificiais

Que habita este esconderijo de porcelana…

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 3 de Fevereiro de 2016

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Grito


Seus olhos voaram enquanto a tempestade se alimentava do vento,

A ténue Primavera não acordou, hoje, nem acordará tão brevemente,

O silêncio pertence à noite,

O desejo pertence-lhe, só a ela, ele… embainhado nas palavras…

Sofrendo como sofrem todos os poemas depois de lidos,

Seus olhos voaram…

E o vento no estômago da tempestade,

Gritava

E desenhava estrelas no luar,

E gritava,

Sem perceber porque dormiam os pássaros

Na janela encerrada…

 

Quando o mar,

Também ele, berrava,

 

E seus olhos voaram…

E seus olhos transformaram-se em luz divina,

 

Que nenhum homem consegue abraçar.

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 2 de Fevereiro de 2016