quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
Palavras e ventos
Não
tenham pena de mim,
Sou
pobre e infeliz…
Às
vezes sinto a falta dos cigarros,
Tenho-os
na algibeira
Mas
a preguiça é tanta…
Que
não me apetece destruí-los,
Olho-os
cuidadosamente,
E
vejo o fumo invisível
Alojado
no meu cansaço,
Não
durmo
Quando
sei que no meu mar imaginário navega um barco em esferovite
Ressuscitado
da infância,
Não,
Não
tenham pena de mim,
Não
tenho nada…
E
sou tão rico!
Tenho
um inabitável quintal
Onde
semeio palavras e ventos,
Tenho
árvores onde poiso o meu corpo
Em
horas de descanso,
Não
tenham pena de mim
Por
ser pobre e infeliz,
Tenho
Oceanos desenhados nas paredes do meu quarto,
Tenho
marés escritas nas mãos,
Tenho
um rio sempre à minha disposição…
Porque
têm pena de mim?
Quando
todo o luar é meu
E
vive no meu olhar…
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
quarta-feira,
20 de Janeiro de 2016
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
O segredo
O
segredo,
O
meu segredo,
As
palavras engasgadas no silêncio,
O
medo,
O
medo de amar não amando,
O
medo da paixão…
Não
desejando,
Este
infeliz transeunte abandonado,
Abandonando
o poema,
Fugindo
dos desenhos construídos na escuridão,
O
medo,
O
medo da solidão,
Todas
as noites,
Cai
o cortinado sobre as pálpebras da tristeza,
Invento
certezas,
Invento
sofrimento nas amoreiras dos teus lábios,
Porque
sinto,
Porque
minto
Amar-te,
Não
te amando,
E
não te querendo,
Hoje,
Amanhã…
Logo
à noite,
Logo
à noite talvez,
O
infeliz petiz
Galgando
as amarras do prazer,
O
clitóris da sinfonia floridas dos cardos
Cospem
metáforas, calçadas e sorrisos,
O
segredo,
O
meu segredo,
O
nosso segredo… morto junto ao rio.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
terça-feira,
19 de Janeiro de 2016
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
O corpo de matar!
Este
amontoado de sucata que apelidaram de corpo
Enferrujado
como os ventos que assombram a montanha
Encurralado
nos rochedos desde o amanhecer
Até
ao sol-posto,
Não
quero querer
Que
este corpo pertence à geada
Que
este corpo é feito de velhos papeis e ossos em poeira
Esquecido
numa velha calçada,
Não
quero querer
Que
este corpo brincou na eira
E
hoje faz-se transportar pelas palavras envenenadas
Entre
marés de sono e noites cansadas,
Ai…
ai este corpo amontoado de sucata amordaçada
Vivendo
da escuridão da cidade
Sem
janelas para o mar
Sem
vida, sem idade,
Este
amontoado de sucata
que
apelidaram de corpo…
não
é de prata
nem
sequer oiro maciço…, mas é o meu corpo, o corpo de matar!
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira,
18 de Janeiro de 2016
domingo, 17 de janeiro de 2016
Sim, sim, Clarissa, meu amor, sim…
Clarissa,
meu amor, este presídio humilhado na humidade nocturna das estrelas invisíveis,
a falta da minha mãe ao acordar
Amo-te
meu filho,
Quando
não me apetece acordar, quando não me apetece… tu sabes, Clarissa, meu amor, tu
sabes que este presídio é feito de espuma, branca, com círculos de desejo, se
fossem gajas de Cais do Sodré? Não, não são gajas de Cais do Sodré, antes
fossem, meu amor, Clarissa, antes fossem gajas de Cais do Sodré, amanhã, não
sei se vou acordar, e tu,
Amo-te
meu filho, e tu, e tu, Clarissa, meu amor, embrulhada nos lençóis da amargura,
poisa a tristeza nos teus ombros, e por minha causa
Amo-te,
meu filho,
Os
dias passados junto ao mar, e tu, Joaquim… Clarissa meu amor, e tu, Joaquim
acorrentado a um rádio a pilhas, o Benfica perdia, pontapeavas o balcão do
café, e tu, Clarissa, meu amor
Amo-te
meu filho, hoje, não, hoje não me apetece acordar, este presídio um nojo,
pulgas, carraças e sonhos…, meu amor, amo-te meu filho, Clarissa, meu amor, amanhã
acordarei, mãe, amanhã, Clarissa, meu amor, a tempestade na calçada, não tenho
forças para regressar, então Joaquim? Vai-te “foder” meu amigo, vai-te “foder”
… perdemos, sim, sim meu amor, Clarissa, amanhã a liberdade, deixo este
presídio de sons e palavras, amanhã deixo este caixote do lixo no passeio em
frente à nossa casa, e o homem da limpeza
Amo-te
meu filho!
Pai?
Sim,
sim, Clarissa, meu amor, sim…
(ficção)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
domingo,
17 de Janeiro de 2016
sábado, 16 de janeiro de 2016
Clarissa
Clarissa,
meu amor, viver nesta quinta é um pesadelo, sempre a olhar o rio, sempre o rio
a olhar para mim, como se eu fosse um sem-abrigo, um “cabrão” diplomado, de
fato e gravata, engatando gajas em Cais do Sodré,
E
tu, meu amor, Clarissa, sabes que a minha vida está por um fio, esta maldita
doença levar-me-á até aos teus braços, aos teus beijos, e esta maldita
Levanto-me,
olho-me no espelho encurralado na insónia o meu rosto de cadáver, sinto muito,
morreu…os dias despidos nas aventuras das tuas coxas, os dias libertos da
prisão do Adeus, ontem, sabes, meu amor, Clarissa? Apaixonei-me pela razão, e
sabes, meu amor, Clarissa, tu pertences aos pássaros do meu jardim,
E
esta maldita morte que não me larga, três drageias ao pequeno-almoço e uma ao
deitar… amanhã está como o aço,
Enferrujado,
penso como se estivesse a conversar de futebol com o Joaquim, sempre o melhor,
e eu que detesto futebol, e eu que detesto futebol… se fossem gajas de Cais do Sodré?
(ficção)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Sábado,
16 de Janeiro de 2016
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