sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Palavras de um verme


Enclausurado neste convento de paredes rochosas

O meu corpo pertencendo às tuas garras de marfim

Sentinela das planícies de capim

Em busca dos pássaros assassinados por uma louca mão…

A eira sentindo o esqueleto do frio

Escorrendo nas frestas da solidão

Os barcos sem rio

O rio sem mão

Nas tristes flores pegajosas

Que a madrugada alimenta

São as noites rugosas

Que o meu coração desalenta.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 27 de Novembro de 2015

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A triste solidão das cidades abandonadas


Parece um pêndulo insatisfeito

Este meu corpo cerâmico

Que quando cai se quebra

E carrega no peito

A triste solidão

Das cidades abandonadas…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 26 de Novembro de 2015

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O perplexo sentido da fuga do corpo em translação


O perplexo sentido da fuga

Do corpo em translação

O abraço submerso

Nas marés de ninguém

Acordar

Acender o último cigarro da vida…

Escrever o poema nas tuas pálpebras incendiadas pelo desejo

Que só a minha mão o sabe fazer

Ler-te o último parágrafo do meu livro

Oferecer-te um beijo

E partir sem regresso

Ao teu olhar

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 25 de Novembro de 2015

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Querido Novembro


Esta jangada que me transporta

Para os teus braços de alento

Sem água

Sem vento

Esta jangada morta

Na planície do pensamento

Espera o regresso da noite

Ergue-se no limiar da pobreza

Como se a beleza do corpo ardente

Fosse uma estrela em papel

Desfeita em pedacinhos

Na solidão fogueira…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 24 de Novembro de 2015

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio

Tínhamos uma nuvem de silêncio no nosso quarto, andorinhas e algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio, alguns caixotes desaromados, alguma roupa e um sonho, acreditávamos no amanhecer junto à geada, a esfera do caos esbranquiçada poisada na nossa mão, eu era uma criança mimada, filho único, Africano de nascença, apátrida e desapontado pelas raízes do poder, tinha medo, meu pai, tinha medo da tua terra…
E sem o perceber
Assim temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão salitrarem sobre a cancela da noite,
E que noite, meu amor, e que noite,
E sem o perceber acordei junto a um dos caixotes, sentia o vento do mar a entranhar-se nos meus frágeis ossos, chorava, gritava… nem um mabeco em meu auxílio,
E sem o perceber, tínhamos uma nuvem de silêncio no nosso quarto, andorinhas e algumas bugigangas trazidas do outro lado do rio, e soníferos beijos, lembras-te, meu amor, o cheiro intenso da madeira envelhecida e triste, os pregos enferrujados de tédio, e algumas frestas de solidão, ninguém, ninguém imagina este concerto de sons melódicos e metálicos do sofrimento, a morte, a ressurreição e a alvorada,
A tristeza de não saber quem és…
 
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira, 23 de Novembro de 2015

domingo, 22 de novembro de 2015

Odeio-a, e sem o perceber…

Assim temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão salitrarem sobre a cancela da noite,
Oiço-te, minha querida, nas campânulas do sonambulismo organizado, a saliva da tarde no púbis do teu silêncio de abelha amestrada, os teus lábios masturbados nos meus, a loucura, o desejo, os cigarros em delírio… quando na lareira dormem algumas páginas do meu livro,
És indiferente à minha escrita, cagas nas minha palavras… minha querida, e confesso-te que também eu cago para as minhas palavras, é sábado, estás triste pela minha ausência, na TV porcarias embalsamadas, tristes, porcarias,
Do meu livro, o teu corpo está lá, acreditas, minha querida?
Todo ele, invisível sofrimento nas mandibulas do primeiro beijo
Amo-te
Do primeiro beijo, a fotografia aprisionada num velho álbum de fotografias, “um sorriso… olha o passarinho… já esta”, e eu parecendo um panasca com pulseira em oiro e pose de fantasma, sorria, tinha na boca o amargo beijo das clandestinas sanzalas de estanho, o zinco dormitava debaixo do sol, porra… isto é “fodido” … como é “fodido” amar-te em silêncio, como quadriculadas noites num velho caderno, as argolas tortas, todas, elas
“Amo-te seu cretino, candeeiro da noite, abstracto insecto dos charcos em flor, adeus, amanhã sacio-me em ti, elas
“Assim temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão salitrarem sobre a cancela da noite”,
Elas agachadas junto aos semáforos do amor travestido de Ceia de Natal,
Odeio-o, odeio-a…
É sábado, não tenho ninguém, adormecem junto a mim livros, cachimbos e papeis, tenho medo, minha querida, tenho medo
O estranho vizinho de caneta na mão, adormecia todas as matrículas dos automóveis estacionados junto à porta de entrada, louco, louca,
Amar-te sem o saber
Odeio-a,
E sem o perceber…
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
domingo, 22 de Novembro de 2015

sábado, 21 de novembro de 2015

Sou um pássaro assustado sem poiso onde aportar


Sou um pássaro assustado

Sem poiso onde aportar

Sou a noite vestida de solidão

Com janela para o mar

E tenho na mão

Um rochedo de dor

Que só este corpo acorrentado

Sabe suportar

Como o perfume de uma flor…

Sou um pássaro assustado

Esperando o regresso do amor

Neste barco de amar.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 21 de Novembro de 2015