Assim
temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários
sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão
salitrarem sobre a cancela da noite,
Oiço-te,
minha querida, nas campânulas do sonambulismo organizado, a saliva da tarde no
púbis do teu silêncio de abelha amestrada, os teus lábios masturbados nos meus,
a loucura, o desejo, os cigarros em delírio… quando na lareira dormem algumas
páginas do meu livro,
És
indiferente à minha escrita, cagas nas minha palavras… minha querida, e
confesso-te que também eu cago para as minhas palavras, é sábado, estás triste
pela minha ausência, na TV porcarias embalsamadas, tristes, porcarias,
Do
meu livro, o teu corpo está lá, acreditas, minha querida?
Todo
ele, invisível sofrimento nas mandibulas do primeiro beijo
Amo-te
Do
primeiro beijo, a fotografia aprisionada num velho álbum de fotografias, “um
sorriso… olha o passarinho… já esta”, e eu parecendo um panasca com pulseira em
oiro e pose de fantasma, sorria, tinha na boca o amargo beijo das clandestinas
sanzalas de estanho, o zinco dormitava debaixo do sol, porra… isto é “fodido” …
como é “fodido” amar-te em silêncio, como quadriculadas noites num velho
caderno, as argolas tortas, todas, elas
“Amo-te
seu cretino, candeeiro da noite, abstracto insecto dos charcos em flor, adeus,
amanhã sacio-me em ti, elas
“Assim
temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários
sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão
salitrarem sobre a cancela da noite”,
Elas
agachadas junto aos semáforos do amor travestido de Ceia de Natal,
Odeio-o,
odeio-a…
É
sábado, não tenho ninguém, adormecem junto a mim livros, cachimbos e papeis,
tenho medo, minha querida, tenho medo
O
estranho vizinho de caneta na mão, adormecia todas as matrículas dos automóveis
estacionados junto à porta de entrada, louco, louca,
Amar-te
sem o saber
Odeio-a,
E
sem o perceber…
(ficção)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
domingo,
22 de Novembro de 2015