quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O feiticeiro dos barcos plastificados


(desenho de Francisco Luís Fontinha)

O lavatório permanecia triste, havia uma sombra ensanguentada de lágrimas,
Não percebi,
No espelho, o meu rosto desintegrava-se como se eu fosse um cometa, um pedaço de cartão, ou... ou uma caneta escondida numa mão, um muro sólido, robusto... um pulmão quase a rebentar, e os cigarros dançavam sobre os meus ombros, e as palavras atrapalhavam os meus sonhos,
Não percebi, as ratazanas nos cinzeiros de prata, esqueletos de cigarros esperando a chegada do cangalheiro, e no cemitério alguém perguntava
Morreu de quê?
Porra,
E no cemitério alguém perguntava se as cidades são os esconderijos do amor, se as ruas são os sorrisos de uma qualquer flor, e que não, pode lá ser, respeitadamente respondi-lhe
Morreu,
Morreu enquanto olhava a tristeza do lavatório e tentava conversar com a sombra ensanguentada de lágrimas, nada mais do que isso,
Isso... o quê?
Trazia um casaco bordado com lantejoulas, durante a noite sentia-me o palhaço mais pobre do circo da minha aldeia, nunca tinha poisado a minha mão na neve,
Mãe... o que é a NEVE?
Morreu de quê?
Porra,
No espelho, os alicates da saudade suspensos no olhar da madrugada, uma canção voava sobre os telhados de silêncio, não,
Medo?
Nunca tive medo...
Não, nunca tinha tocado na neve, não, nunca tinha sido aliciado pela geada em plena madrugada, e o feiticeiro dos barcos plastificados gritava
Morreu...
E o barco não flutuava, lançava-me ao tanque público... e mergulhava para salvar o meu barco plastificado, e percebi
Não
E percebi que tinha sido enganado, este maldito barco nunca sairá deste tanque sem nome, nómada, anónimo
Como eu?
Sim como eu,
Sim... sim como tu,
E hoje, sinto saudades do lavatório de ferro... e rangem as suas tenras pernas recheadas de reumático, como rangiam os meus dentes quando a geada comia a madrugada,
Medo?
Não, nunca tive medo...
Mãe... o que é a NEVE?
Morreu de quê?


(texto de ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 8 de Janeiro de 2015

A caneta


uma caneta no silêncio da noite
vagueia na mão da liberdade
beija palavras
e abraça-se aos desenhos que só as paredes de um olhar
conseguem projectar
na madrugada de uma cidade…
não há covarde
ou idiota
… ditador
cabrão…
que com uma espingarda
ou canhão
consiga amedrontar
a palavra
disparada
pela caneta no silêncio da noite!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 8 de Janeiro de 2015

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Um lápis consegue derrubar um exército de idiotas...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 7 de Janeiro de 2015


Miosótis


habitas no jardim descolorido da paixão
gritas às lágrimas envergonhadas de um pequeno sorriso
palavras
entrelaçadas
nas sombras clandestinas dos plátanos caducos
miosótis
minha flor
meu poema... minha canção de amor!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 7 de Janeiro de 2015

Lágrimas de silêncio... nos meus lábios

Vidas cruzadas, estradas de sal, lágrimas de silêncio pergaminho em saudade, corredores enormes, gritos e escadas sem corrimão, olhos cerrados, portas, muitas portas... e todas encerradas,
Vejo no espelho do meu olhar a morte vestida de árvore,
Dança, o menino?
Pássaros loucos, vozes, a dele e dos outros pedaços de pano,
Ai...
Estou farto disto?
Vidas,
Feiticeiros equacionando búzios e incógnitas, os senos desencantados com a trigonometria da paixão,
Hipocritamente o seno hiperbólico do amor...
Dança, o menino'
Abutres, girafas,... abelhas, poemas cansados nas nas tuas mãos de marinheiro, o teu amor por mim, as palavras escritas no meu corpo pela tua própria mão...
Está frio...
Dança?
Vidas cruzadas,
Estradas de sal,
Lágrimas de silêncio... nos meus lábios.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira , 7 de Janeiro de 2015

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Momentos

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Momentâneas alegrias...
prolongadas tristezas,

momentos,

despedidas...

esta vida!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 6 de Janeiro de 2015

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Luminosidade


A luminosidade tangente ao teu olhar
entre círculos
quadrados
e buracos
há no teu corpo equações sem solução
resmas de papel quadriculado
em chamas
e feridas no coração...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2015