Tracejadas línguas
de fogo,
sinto as mandíbulas
da solidão a alicerçarem-se ao meu peito,
há um cansaço
travestido de silêncio que alimenta este corpo de madeira,
que anda à deriva
no rio nocturno da dor,
os livros
divorciaram-se de mim, os livros parecem tentáculos de sílabas
agarradas ao meu pescoço,
não me deixam
respirar,
eles não o
permitem...
sentar-me junto ao
areal das cornijas de cartão,
sorrateiramente
escondo-me no quarto envidraçado,
onde habita uma
gaivota de porcelana,
e há nas fresta da
insónia crucifixos doirados, algumas telas embriagadas e néons
apaixonados,
… não consigo
levantar-me deste rio, e eu não sei como sair deste círculo
cinzento...
Sou todo absorvido
pelas janelas da paixão,
embrulhado ás
línguas de fogo, pareço um caixão de zinco descansando na
despedida,
há uma madrugada em
fuga, há uma rosa embalsamada que chama por mim...
hesito,
vou...
não vou...
aprisionados
marinheiros de vodka em revolta,
oiço a voz dos
agrestes pinheiros balançando na montanha do amor,
hesito...
vou... não... não
vou...
não quero,
desisto da poesia!
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 16 de
Agosto de 2014