quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Versos anónimos


De que servem estes versos anónimos...
palavras suicidadas em manhãs de Primavera,
canções de adormecer,
quando da noite apenas existe uma rebelde vontade de navegar,
um barco à deriva, um barco procurando nas mansardas equações diferenciais os insignificantes corações de areia,
um corpo circunflexo esquecido na insónia,
de que servem...
estes versos anónimos,
palavras cansadas das mãos deste poeta,
palavras magoadas, palavras assassinadas pela voz deste poeta...
de que servem estes versos travestidos,
esperando junto ao cais o amor regressar do infinito,

Sou uma caneta de tinta permanente,
uma velha folha de papel que embrulha meia dúzia de peixes...
mortos,

De que servem estes versos se o amor é um telhado de vidro,
vem o granizo... e pluf... pedacinhos de desejo voando em direcção aos teus lábios,
ruas recheadas de transeuntes famintos,
comem as minhas palavras,
comem-me... enquanto eu escrevo as palavras comidas pelos transeuntes... famintos,
há sempre uma garganta em volúpia madrugada que o teu olhar esconde,
há sempre um estendal onde habitam bonecos de palha e bonecos... de palha,
sangrentos,
os rochedos onde poisam os teus seios,
esperando as minhas mãos de silêncio...
entro em ti, absorvo-te como se fosses um grão de pólen,
entro em ti, e... e percebes que eu sou o mar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 13 de Agosto de 2014

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